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Copa impediu queda pior de confiança industrial em junho, diz FGV

29/06/2018 13h37

A Copa do Mundo de futebol evitou o recuo mais intenso no Índice de Confiança da Indústria (ICI) entre maio e junho, que mostrou queda de 1 ponto para 100,1 pontos, menor nível desde janeiro deste ano (99,4 pontos).

Segundo Tabi Thuler Santos, coordenadora da Sondagem da Indústria do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) ? pesquisa da qual o ICI é indicador-síntese ?, houve no mesmo período um salto na confiança de não-duráveis entre as quatro categorias de uso da indústria da transformação, a única a apresentar avanço no período.

Na prática, a compra de bebidas e outros não-duráveis, em época de Copa, pode ser a explicação mais provável para a expansão da confiança naquele segmento, afirmou Tabi.

De acordo com ela, o indicador de confiança da indústria de não duráveis subiu 5,7 pontos entre maio e junho, para 89,7 pontos. A indústria de duráveis, por sua vez, mostrou recuo de 5 pontos na confiança, para 100,9 pontos, no mesmo período.

"Foram dois sinais trocados. É importante notar que, mesmo com o recuo, duráveis apresenta pontuação boa [acima de 100 pontos, limite favorável de confiança] enquanto que não-duráveis, mesmo com o aumento, tem um longo caminho a seguir de recuperação [na confiança] por estar com 89,7 pontos", afirmou.

A especialista notou que o comportamento de não-duráveis se mostra mais atípico ainda quando comparado com as outras duas grandes categorias de uso pesquisadas da fundação. Enquanto que a confiança de bens de capital ficou estável na margem, com 102,2 pontos, a de intermediários caiu 2,5 pontos, para 102,8 pontos.

"O fato de a confiança ter subido em duráveis ajudou a não termos uma queda maior na confiança da indústria [como um todo]", disse.

Caminhoneiros

De acordo com o estudo, a paralisação dos caminhoneiros levou a indústria da transformação a ficar à beira da "superestocagem" em junho. Isso porque, devido à paralisação da categoria, com atos e bloqueios em estradas, os produtos não chegaram aos pontos de venda.

De maio para junho, o ICI caiu 1 ponto entre maio e junho, para 100,1 pontos, menor nível desde janeiro de 2018 (99,4 pontos). A mesma pesquisa mostrou que o tópico Nível Estoques subiu de 96,7 pontos para 109,8 pontos entre maio e junho, com percepção de alta estocagem em 13 de 19 segmentos pesquisados pela fundação. O patamar considerado pela fundação para definir a indústria da transformação como "superestocada" é de 110 pontos, acrescentou Tabi.

Tabi acrescentou que, não fosse a piora no quesito estocagem, a confiança da indústria seria estável em junho - e não teria mostrado queda. Ela disse ser difícil prever quando os estoques podem voltar à relativa normalidade, e estima que volatilidade no ICI até o fim do ano.

De maio para junho, a parcela de empresas que informaram estoques excessivos aumentou de 7,9% para 12,8%, a maior fatia para esta pergunta desde abril de 2017 (12,9%).

Também devido à greve dos caminhoneiros, subiu de 3,9% para 4,5%, no mesmo período, a parcela de empresas que consideraram estoques insuficientes. "Este percentual de empresas que reclamaram de estoques insuficientes, consideramos que muitas foram prejudicadas pelo fato de não terem recebido insumos para produção", disse, observando que isso acabou afetando formação de estoques.

O atraso de recebimento de insumos também influenciou Nível de Utilização de Capacidade Instalada (Nuci), que acabou por recuar 0,3 ponto percentual entre maio e junho, para 76,2%, a primeira redução no Nuci desde setembro de 2017.

Para os próximos meses, alguns fatores devem conferir incerteza ao cenário de demanda e de previsão de negócios do industrial, alertou Tabi.

"Temos um ambiente externo volátil e [um ambiente] interno volátil também. O câmbio está desvalorizando bastante. A demanda externa pode ficar ainda mais restrita. Os Estados Unidos estão revendo juros", afirmou comentando que estes aspectos internacionais podem conferir impacto na confiança industrial do país. "Quanto à paralisação, foi um efeito passageiro, que marcou os meses de maio e de junho e teve seu efeito em produção perdida. Acho que isto [a greve per si] não teria impacto para a frente, e sim a forma como o governo reagiu [à greve]", disse.

Na análise de Tabi, o movimento trouxe muitas reverberações na economia, como a questão de estabelecimento de tabela de fretes e o subsídio, por parte do governo, ao diesel, visto que a principal reivindicação dos caminhoneiros era diminuição de preço deste combustível. A especialista comentou que, além de efeito fiscal, a tabela de frete pode trazer aumento de custo para a indústria - e isto, especificamente pode trazer impacto mais duradouro na confiança industrial.

Ao mesmo tempo, a proximidade de eleições presidenciais, no fim do ano, confere maior imprevisibilidade ao cenário econômico, principalmente no que concerne em condução de política econômica, disse ela.

Ao ser questionada se, com todos estes fatores reunidos, a tendência tanto da confiança quanto de estoques na indústria seria negativa para os próximos meses, a economista foi cautelosa.

"Creio que a tendência da confiança industrial nos próximos meses é ser mais volátil. Temos que observar os próximos resultados para saber o que vai acontecer".