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REPORTAGEM

Piloto de avião da Boeing pode comandar um Airbus (e vice-versa)?

Cabines do Boeing B737 e do Airbus A320, respectivamente. Diferenças são sutis, mas requerem treino específico - Montagem com imagens de Matti Blume e de divulgação da Airbus
Cabines do Boeing B737 e do Airbus A320, respectivamente. Diferenças são sutis, mas requerem treino específico
Imagem: Montagem com imagens de Matti Blume e de divulgação da Airbus

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/01/2022 04h00

Os dois aviões comerciais mais comuns nos aeroportos do Brasil são o Boeing 737 e o Airbus A320. Ambos são muito parecidos, com capacidade para cerca de 180 passageiros, comprimento, largura e altura com poucos metros de diferença e requisitos operacionais bem similares.

Mesmo sendo tão parecidos, apesar de pertencerem a fabricantes diferentes, o piloto de um desses modelos pode conduzir o outro? A resposta depende de alguns fatores, mas, sim, é possível.

Para isso, são necessários alguns treinamentos e adaptações, que podem tornar essa troca algo muito custoso, fazendo não valer a pena para uma empresa aérea. Entenda mais a seguir.

Embora parecidos, é preciso novo treinamento

Mesmo com essas semelhanças, cada avião tem suas peculiaridades na hora de voar, e requerem treinamentos específicos. Em aviões menores, com apenas um treinamento, é possível pilotar vários modelos. Mas essas aeronaves da Boeing e da Airbus requerem habilitações específicas.

Os cursos oferecidos pelas companhias aéreas para seus pilotos são compostos por diversas etapas. Inicialmente, são estudados os manuais da aeronave designada, com conteúdos como:

  • Sistemas elétricos
  • Sistemas pneumáticos
  • Sistemas hidráulicos
  • Pressurização do avião
  • Banheiros e abastecimento de água
  • Iluminação

O piloto também aprende meteorologia e tráfego aéreo nessa etapa. Se for aprovado, passa a estudar e colocar em prática os ensinamentos operacionais de cada modelo.

Por fim, o piloto ainda passa por treinamentos em simuladores de cada avião, antes de entrar em uma cabine real para voar como copiloto. Somente após uma nova avaliação durante um voo é que o piloto estará liberado definitivamente para exercer a função.

Todo esse procedimento demora um certo tempo e envolve custos para a empresa. Por isso, nem sempre vale ter um piloto treinado para mais de um modelo ao mesmo tempo.

Diferenças entre Boeing e Airbus

O 737 e o A320 se diferenciam em diversos aspectos quanto à sua pilotagem. Nos Boeings, por exemplo, o piloto usa um manche (alavanca) para comandar a aeronave.

No Airbus, é utilizado um sidestick, que é similar ao controle de um fliperama ou do antigo videogame Atari. Usar cada um deles requer uma adaptação por parte de quem irá voar,

Além das diferenças nas cabines de comando, também é preciso se adaptar a algumas questões operacionais, que podem ser diferentes, como as velocidades para fazer determinadas operações.

O modelo da Airbus é muito mais computadorizado do que o avião da Boeing, o que requer novo treinamento pelo piloto quando há troca entre um modelo e outro.

As atitudes a serem tomadas em caso de emergência também mudam de um equipamento para o outro, assim como os procedimentos em algumas etapas do voo.

Aviões de uma mesma fabricante também requerem treinamentos diferentes, já que possuem sistemas e características distintos.

Caminho até o treinamento na empresa aérea

Um piloto deve passar por longas etapas antes de chegar ao treinamento para voar num desses aviões comerciais. Inicialmente, ele faz o curso de piloto privado, onde se habilita para voar sozinho.

Em seguida, deve voar mais 150 horas para se tornar um piloto comercial e, só então, poderá exercer função remunerada como piloto. Ao mesmo tempo, costuma-se realizar o curso de voo por instrumentos, que é obrigatório para atuar em linhas aéreas.

Antes de entrar em uma companhia, ele deve acumular uma certa quantidade de horas de voo como experiência. Ainda costuma ser exigido um curso específico para aeronaves a jato, categoria às quais pertencem o A320 e o B737.

Em algumas situações, pode ser exigido o curso para operar aeronaves multimotores, como esses jatos, que têm dois motores. Também é exigido um certo nível de inglês dos pilotos, que terão de lidar com manuais operacionais dos aviões nessa língua, por exemplo.

Fonte: John Long, piloto de linha aérea