Todos a Bordo

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Reportagem

Brincadeira? Como pilotos usam jogos e simuladores para aumentar segurança?

Na aviação, a segurança é uma das principais preocupações. Nessa linha, os pilotos são treinados por longos períodos antes de assumirem um voo comercial.

Como praticar em uma aeronave real pode acabar tornando essa formação muito cara (ou até mesmo perigosa), os profissionais da área podem recorrer a uma série de ferramentas. Entre elas estão jogos, simuladores e até mesmo experiências de realidade virtual, mas sempre de maneira séria.

Antes da vida real

Desde o começo da formação de piloto, a simulação está presente. Assim como é possível para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), os profissionais da aviação também podem usar simuladores para conseguir a primeira licença para voar.

Os simuladores precisam ser homologados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para que as horas praticadas nele sejam contabilizadas para a obtenção da licença de piloto. Na formação de piloto comercial (formação exigida para exercer atividade remunerada), é feita a simulação de voo por instrumentos, quando não é possível usar referências visuais do lado de fora para se deslocar (como em condições de tempo ruim ou em voos noturnos, por exemplo).

Praticando manobras arriscadas

Algumas manobras mais arriscadas também acabam sendo simuladas em vez de serem praticadas na vida real.

É o caso de situações que podem levar a emergências, como a realização de um parafuso ou como agir em caso de falha catastrófica em um motor. Usar uma aeronave real para esse tipo de movimentação pode causar um acidente real.

Realidade virtual agiliza treinamentos

Azul Conecta usa óculos de realidade virtual para auxiliar no treinamento de novos pilotos do Cessna Grand Caravan
Azul Conecta usa óculos de realidade virtual para auxiliar no treinamento de novos pilotos do Cessna Grand Caravan Imagem: Divulgação/Azul
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A Azul Conecta, subsidiária da Azul que realiza voos regionais, adota a realidade virtual no treinamento de seus pilotos desde 2022. Por meio de óculos de realidade aumentada e sensor de movimentos das mãos, os pilotos conseguem treinar as tarefas rotineiras antes de irem para o simulador de voo, que tem um custo maior por hora de utilização.

Essa técnica permite que os tripulantes tenham uma noção do espaço dentro da cabine e conheçam melhor os comandos e locais onde os controles da aeronave estão localizados. A etapa permite, além de melhorar o aprendizado, diminuir o tempo no simulador de voo, já que o piloto estará mais habituado com o modelo que irá voar, o Cessna Grand Caravan, diz a empresa.

Jogos espelham a realidade

Há um mercado amplo para os jogos (tanto de computador quanto de consoles) de simulação de voo. Embora alguns apenas tenham o condão de divertir os jogadores, outros buscam se aproximar da realidade ao máximo.

Imagem do jogo X-Plane de avião da Boeing que poderia substituir o F-35: Simulação pode envolver entretenimento e melhora das operações reais
Imagem do jogo X-Plane de avião da Boeing que poderia substituir o F-35: Simulação pode envolver entretenimento e melhora das operações reais Imagem: Divulgação/Boeing/Reuters

É o caso de programas como X-Plane, Microsoft Flight Simulator e (DCS) Digital Combat Simulator, simuladores que misturam o mundo do entretenimento e tentam se aproximar ao máximo da realidade. Empresas ainda se especializaram em fornecer ferramentas adicionais para aumentar a realidade dessas ferramentas.

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Essa questão é tão séria, que uma organização sem fins lucrativos, a Ivao (International Virtual Aviation Organisation, ou, Organização Internacional da Aviação Virtual), opera uma rede mundial de simulação de voos online. Fundada em 1998 na Bélgica, ela mantém uma plataforma onde os entusiastas da aviação participam de ambiente simulado do mundo real, incluindo o controle de tráfego aéreo.

A Ivao ainda oferece treinamentos que buscam ser os mais fiéis possíveis à realidade, permitindo tanto quem quer aprender, quanto quem quer se aperfeiçoar, se prepararem antes de ir para o mundo real (ou apenas ficarem na prática virtual). No mundo, a plataforma tem cerca de 250 mil usuários ativos e, no Brasil, as regras de voo seguem à risca o determinado pelo Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), órgão da Aeronáutica.

Introdução de uma carreira em aviação e novas missões fazem parte do pacote de atualização do Flight Simulator 2024, que será lançado em novembro
Introdução de uma carreira em aviação e novas missões fazem parte do pacote de atualização do Flight Simulator 2024, que será lançado em novembro Imagem: Reprodução FS2024

No dia 23 de novembro, um grupo de aviadores irá promover o Encontro de Aviação Virtual, buscando a troca de experiências entre profissionais, amadores e entusiastas. A iniciativa é do piloto de helicóptero Saulo Alves Utempergher.

Segundo o profissional, o objetivo é melhorar a experiência de quem usa esses programas para garantir que procedimentos reais possam ser praticados com o máximo de realidade de casa ou do trabalho antes de ir para um voo real, além de unir as pessoas que têm na aviação e na simulação um hobby.

"Antigamente era comum que um aluno de aviação chegasse para o seu 1° voo sem qualquer referência com a experiência de voar. Sem nunca ter a perspectiva visual que um piloto tem enquanto voa. Outras vezes, em aeroportos com torre de controle, sequer sabia como falar no rádio, muito menos usar a fraseologia padrão para tal. Isso tudo era ensinado ali, na hora, prestes a iniciar o voo. Hoje, isso pode ser treinado nos simuladores antes de ele ir para a escola prática, o que, no mínimo, irá otimizar o tempo de adaptação, reduzindo os custos", diz o piloto

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O piloto profissional atuante no Brasil ainda pode treinar a fraseologia em inglês no simulador, antes de realizar a prova [de fluência naquela] da Agência Nacional de Aviação Civil, por exemplo
Saulo Alves Utempergher, piloto de helicóptero

Ao mesmo tempo, quem apenas quer se divertir poderá encontrar quem já faz uso dos simuladores e aprender um pouco mais da aviação. Mais informações, aqui.

Simuladores milionários

Antes de assumir um Boeing 737 ou um Airbus A320 em uma companhia aérea, os pilotos passam por uma série de treinamentos em simuladores. Desde os mais simples, que reproduzem a cabine dos aviões em telas apenas, até os de pleno movimento (full motion), é obrigatório passar por eles de tempos em tempos para garantir a segurança de voo.

Simulador de voo do jato HondaJet na sede da Honda Aircraft Company, nos Estados Unidos: Dispositivo pode custar milhões e reproduz movimentos reais de voo
Simulador de voo do jato HondaJet na sede da Honda Aircraft Company, nos Estados Unidos: Dispositivo pode custar milhões e reproduz movimentos reais de voo Imagem: Divulgação/Honda Aircraft Company

O UOL acompanhou simulações de voo feitas pela Latam em 2022 para treinar cenários difíceis que os pilotos podem enfrentar. Um deles foi a colisão com pássaros e a perda da potência em um dos motores durante a decolagem no aeroporto Santos Dummont, no Rio de Janeiro.

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Essa situação, embora difícil de acontecer, não é impossível, e os pilotos precisam estar treinados para esse tipo de ocorrência caso surja no dia a dia. Após treinamentos teóricos, os profissionais vão para os simuladores feitos com partes reais das aeronaves e que reproduzem os movimentos da aeronave onde realizam o que jamais poderia ser treinado em uma situação real, entre outras situações.

Esse tipo de treinamento é feito periodicamente e, quase todos os anos, os pilotos passam por novos ciclos de aprendizagem e testes nesses equipamentos com o objetivo de aumentar padrão de segurança.

Também acompanhamos no mês de agosto como é o treinamento dos novos pilotos do avião Airbus A220, fabricado no Canadá (Leia mais sobre ele aqui). Nesse caso, os pilotos não estão passando por uma reciclagem, mas por um aprendizado inicial.

Esses simuladores podem atingir o custo de milhares de reais a hora de voo, mas, ainda assim, são bem mais baratos que o treino em um avião real durante sua operação.

Em 2019, refizemos em um simulador a rota do voo 1549 da US Airways que caiu no rio Hudson, em Nova York (EUA). Veja como foi:

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