Todos a Bordo

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Reportagem

Aérea do Brasil quer voar avião chinês C919, concorrente de Boeing e Airbus

A Total Linhas Aéreas fechou um contrato para operar o avião de passageiros C919, produzido pela empresa chinesa Comac (Commercial Aircraft Corporation of China - Corporação de Aeronaves Comerciais da China). O avião é o principal concorrente dos modelos Airbus A320 e Boeing 737, que dominam o mercado há décadas.

Entretanto, a hegemonia das fabricantes europeia e norte-americana pode perder o protagonismo com esse novo modelo entrando em jogo, ainda mais em um mercado que tem a previsão de receber o maior número de aeronaves nas próximas duas décadas em comparação com outras regiões mundo afora, segundo as próprias fabricantes ocidentais.

Compra pela Total

A Total Linhas Aéreas, que hoje opera, principalmente, voos fretados de passageiros e de carga, quer retomar seus voos regulares. Para isso, a empresa tem um plano de expansão, que passa pela aquisição de novos aviões ATR, o mesmo modelo já operado pela Azul e Passaredo.

A companhia ainda está trabalhando para adquirir três aeronaves Embraer E-195. O modelo seria um E-Jet ainda da 1ª geração e usado, mas com a intenção de trocá-lo pelos E2, da geração mais recente, no segundo semestre de 2025.

Essa escolha se deve justamente à falta de aeronaves no mercado. E é aí que a empresa foge dos principais concorrentes mundiais e busca o avião da companhia chinesa.

De acordo com Paulo Almada, sócio-controlador da empresa, a decisão de adquirir o C919 já está tomada. A empresa asiática teria capacidade de entregar ao menos uma unidade do avião já no primeiro semestre de 2025, segundo Almada.

Diferentemente dos outros concorrentes ocidentais, a Comac teria capacidade de entrega mais rápida, evitando anos de espera, como vem ocorrendo atualmente. Para comparação, ao comprar uma aeronave hoje, o cliente só deve recebê-la em, no mínimo, dois anos. Isso se deve aos gargalos das linhas de produção, agravados por crises como as enfrentadas pela Boeing e Airbus.

Almada ainda lembra que será preciso homologar o avião no Brasil, e isso é papel da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). É ela quem tem a prerrogativa de analisar todo o projeto do C919 e validá-lo para voar por aqui, o que é um processo longo e demorado.

Liberação

Almada diz que se reuniu recentemente com o embaixador da China no Brasil e que já visitou a sede da fabricante duas vezes para fechar o negócio. Diante da oportunidade de abrir mercado fora da China, a Comac estaria disposta a "furar a fila" e entregar o avião à empresa brasileira primeiro.

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"Procurei a Comac, primeiramente, porque é um produto que tem disponibilidade imediata. Hoje, você não acha avião para comprar. Ou você pega avião velho, ou não pega. Só tem entrega prevista para 2027, 2028 e até mesmo 2029", diz Almada.

Sobre a liberação na esfera regulatória, o sócio-controlador da Total também acredita que esse procedimento será rápido. Isso se deve ao fato de que seria interessante para o país liberar o produto chinês por aqui enquanto a agência reguladora do país asiático faz mesmo para os novos aviões da Embraer por lá. É uma situação na qual os dois lados saem ganhando, de acordo com Almada.

Em nota enviada ao UOL, a Anac informou que, até o momento, "não recebeu solicitação formal para a operação da aeronave em questão pela Total Linhas Aéreas".

Como será usado?

O C919 não deverá ser usado inicialmente nas rotas regulares que a Total planeja retomar. A empresa pretende colocar esses aviões para operarem na modalidade ACMI (Aircraft, Crew, Maintenance and Insurance — ou, Aeronave, Tripulação, Manutenção e Seguro).

Nessa forma de contrato, o proprietário do avião faz um arrendamento para outra empresa que já opera voos regularmente, cedendo a aeronave junto às tripulações para que sejam realizados voos naquela companhia. Ao mesmo tempo, o dono da aeronave também fica responsável pela manutenção e pelo seguro, enquanto quem está "alugando" a aeronave a insere em sua programação de voo e oferece os serviços de solo, como transporte de bagagens nos aeroportos e serviços de refeição a bordo.

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Esse tipo de contrato é comum na Europa, onde as empresas aéreas arrendam aviões durante a alta temporada para complementar sua operação sob alta demanda. Na modalidade ACMI, é especificada uma quantidade de horas mínima de voo e o prazo no qual ela deve cumprir essa função.

"Temos muitas propostas para seguir nessa linha", diz Almada, que acredita que a Total pode se tornar uma referência nesse tipo de prestação de serviço na região.

Momento é propício

Questionado se acredita que o momento é propício para alterar a operação, Almada afirma que sim. "É exatamente esse o momento de entrar. Somos uma empresa sem endividamento, uma empresa saudável. Entramos em um momento em que as empresas tradicionais não têm capacidade de trazer aviões novos. Não vejo motivo para não prestar serviços para a Gol, Latam e Azul, por exemplo", diz o sócio da Total.

Não me ponho como concorrente. Quero contribuir para o setor no Brasil, fornecendo aeronaves para as empresas prestarem seu serviço
Paulo Almada, da Total Linhas Aéreas

Na história recente da aviação, duas empresas faliram: Avianca e Itapemirim. A Latam passou (com sucesso) por um processo de recuperação judicial nos EUA, a Gol está enfrentando a mesma situação no momento, e a Azul acaba de realizar um forte acordo com seus credores para garantir a saúde financeira da empresa.

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O governo ainda autorizou, em setembro, um aporte de R$ 6 bilhões no setor aéreo para melhorar as operações das empresas no país. Almada diz querer ter acesso a esse fundo também. "Não somos uma empresa endividada. Não estarei tapando buraco de dívida com dinheiro público. Estarei usando a verba para crescer", diz.

O avião

O C919 é um avião de fuselagem estreita e corredor único, para até 174 passageiros (apenas assentos de classe econômica). Isso coloca o modelo em competição direta com o duopólio formado por Airbus e Boeing, com seus modelos A320 e B737.

O Comac C919 entrou em serviço em uma empresa aérea em maio de 2023. Até setembro deste ano, já havia acumulado mais de 10 mil horas de voo, além de ter transportado mais de 500 mil passageiros.

Hoje, nove aviões estão em operação e já realizaram mais de 3.700 voos. São três as companhias que voam o modelo até o momento, todas chinesas:

  • China Eastern (oito unidades, sendo que uma delas ainda não entrou em operação)
  • Air China (uma unidade)
  • China Southern Airlines (uma unidade)
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Além do C919, a Comac fabrica o Advanced Regional Jet ARJ21, um jato regional para até 105 passageiros, e ainda desenvolve o C929, avião de fuselagem larga para até 280 passageiros.

Ficha técnica

Passageiros: 158 a 174
Envergadura: 35,8 m
Altura: 11,95 m
Comprimento: 38,9 m
Alcance: 5.555 km
Velocidade de cruzeiro: 834 km/h

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • No trecho onde é explicada a quantidade de aeronaves nas mãos das empresas aéreas, o texto foi reescrito para diferenciar quais estão em operação e qual ainda não

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