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Pode dormir, mas é proibido ver filmes: o que um piloto pode ou não fazer?

Um piloto de avião pode dormir durante o voo? Em grande parte dos voos de maior duração, os pilotos não têm muito o que fazer por um tempo. As fases que mais demandam trabalho são decolagem, subida, descida e pouso.

O que dizem as regras sobre piloto dormir no trabalho? Com trajetos durando horas, muitas vezes sobre o oceano, os pilotos precisam continuar voando em segurança, mas também ficam menos ocupados. E está nas regras que eles podem dormir, sim, nesse intervalo em que o piloto automático assume grande parte do controle do avião.

A principal ocupação nessas horas é gerenciar o cansaço. Por isso, conversar com o colega na cabine sobre o voo ou outros assuntos, ler e até mesmo dormir podem ser boas soluções para garantir que tudo ocorra bem e os pilotos não caiam no sono de surpresa em algum momento crítico.

Nem sempre há folga: Segundo Marcelo Ceriotti, vice-presidente regional da Ifalpa (Federação Internacional de Associações de Pilotos de Linha Aérea), existem quatro tipos de tripulação segundo a regulamentação brasileira: mínima, simples, composta e de revezamento.

Na mínima, não há como o piloto deixar o comando do avião em momento algum. Nas outras três, as regras são as seguintes:

  • Simples: Formada por dois pilotos que podem ter uma jornada de trabalho de até 12 horas. Nela não há previsão de folga nem descanso, incluindo para a alimentação, que é feita na cabine mesmo
  • Composta: Dois comandantes e um primeiro oficial, também chamado de copiloto. Nessa situação, um de cada vez pode sair do assento para descansar. Com essa composição, podem ser cumpridas jornadas de até 16 horas.
  • Revezamento: É formada por dois comandantes e dois copilotos. A jornada pode chegar a 20 horas. Nesse caso, dois podem sair da cabine para descansar ocasionalmente.

Quais são as regras para os pilotos? Quem fica nos assentos de pilotagem tem de seguir uma série de regras, mesmo que a carga de trabalho esteja baixa.

O que os pilotos podem fazer na cabine de comando:

  • No Brasil: Conversarem entre si, gerenciar o voo (evitando passar por nuvens, por exemplo), monitorar os sistemas do avião e preencher documentações relacionadas ao voo, por exemplo.
  • Mundo afora: Além dos itens anteriores, é possível que seja feito o controled rest (descanso controlado), que consiste em um cochilo de curta duração, mas que não tem regulação nas normas brasileiras (veja mais abaixo).
  • Enquanto estão à frente dos comandos, pilotos podem se ocupar em momentos de menor carga de trabalho em uma série de atividades, como elaborar planos de contingência (como em qual o aeroporto mais próximo para pouso em caso de uma emergência), como evitar formações meteorológicas, entre outros cenários que fugiriam da normalidade.
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O que é proibido na cabine:

  • Ouvir música
  • Assistir a filmes
  • Fazer leituras de livros e revistas (exceto a literatura relacionada ao voo ou aos manuais da empresa e do avião)
  • Dormir (no caso do Brasil)

Fora da cabine ou do controle do avião, não há proibição sobre o que os pilotos podem fazer para passarem o tempo. Eles podem ficar em áreas específicas próximas aos passageiros ou em compartimentos "secretos", chamados de sarcófagos, onde podem se deitar e dormir.

Cochilo de meia hora na cabine é permitido: Um tipo de soneca que pode ser tirada na cabine é o controled rest (descanso controlado). De acordo com Rafael Santos, piloto e fundador do Teaching for Free, grupo voltado para ajudar pilotos que buscam recolocação no mercado, ele consiste em um cochilo de curta duração.

"Não ultrapassa os 30 minutos, geralmente, impedindo que os pilotos entrem em estado de sono profundo", diz o profissional. Essa, entretanto, é uma regra que varia de empresa para empresa.

Estudos mostram que soneca ajuda na concentração: Diversos estudos divulgados por órgãos de segurança aeronáutica mostram que esse cochilo breve permite que o profissional acorde mais desperto, permitindo que ele tenha um curto tempo de resposta em momentos críticos do voo.

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Essa prática também tem um grupo de regras a serem seguidas, e não pode ser feita durante decolagem, subida, descida e pouso, afirma Santos. Nesse momento, todos os pilotos (tantos os dois no comando quanto os demais dos outros tipos de tripulação) devem estar na cabine de comando e acordados.

Brasil não permite cochilo na cabine: De acordo com Enio Beal Jr., comandante da aviação executiva e ex-piloto de caça, quando um piloto tem de dormir na cabine, é necessário criar estratégias para que o piloto acordado mantenha o seu nível de alerta, além de reservar 20 minutos do tempo após acordar para se recuperar da inércia que o sono causa.

No Brasil, não há regulamentação para esse tipo de cochilo, devendo os pilotos sempre permanecerem acordados durante toda sua permanência na cabine.

Piloto mostra como é o descanso: Em 2020, um ex-capitão da Scandinavian Airlines postou uma foto em suas redes sociais se preparando para um descanso controlado. À época a imagem repercutiu com surpresa entre várias pessoas, que não conheciam a prática.

Nela, o capitão aparece coberto e esticado em seu assento. Na legenda ele reforça a importância de fazer essa pausa. Ele também deixa claro que há procedimentos: um dos pilotos está sempre acordado, e é preciso afastar o assento do painel para não esbarrar nos controles durante o sono.

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Polêmicas com o sono na cabine: O cansaço na cabine já causou diversos incidentes e acidentes aéreos.

Em 2022, um piloto da Ita Airways foi demitido após dormir e o avião em que estava passar do aeroporto de destino na Itália. Ele estava tirando um cochilo e não foi acordado pelo outro colega na cabine.

Ainda em 2022, dois pilotos dormiram inadvertidamente durante o procedimento de aproximação para o pouso de um avião da Ethiopian Airlines na rota de Cartum para Adis Abeba. Após várias tentativas de contato pelos controladores de voo, os pilotos responderam e conseguiram chegar ao destino em segurança.

*Com reportagem de dezembro de 2022

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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