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Modelo de negócios Canvas ou plano de negócios?

José Dornelas

Colunista do UOL, em São Paulo

08/07/2013 06h00

Ultimamente, tem muita gente envolvida com o empreendedorismo apregoando o fim do plano de negócios e assumindo a modelagem de negócios no estilo Canvas como o novo padrão para o empreendedor analisar ideias e colocá-las em prática.

Na verdade, há uma confusão considerável ao se tentar comparar as duas técnicas, já que são complementares. Ao conhecer o que cada técnica proporciona ao empreendedor, talvez fique mais fácil entender o porquê da confusão.

O modelo de negócio é a explicação de como sua empresa funciona e cria valor.

Há muitas definições que buscam explicar o que significa o termo, mas a essência resume-se em buscar entender como a empresa fará dinheiro, qual será ou é seu modelo de receita e como as várias áreas e processos de negócio se relacionam para atingir o objetivo de fazer com que a empresa funcione, gerando valor aos clientes.

O desenvolvimento de um plano de negócios estruturado ajuda a delinear e a entender em detalhes o modelo de negócio de uma empresa.

Ao final, o plano de negócios mostrará os custos e as despesas do negócio, investimento inicial, máxima necessidade de recursos para colocar a empresa em operação, a estratégia de crescimento e de marketing e vendas, bem como a projeção de receita e lucro para os próximos anos.

Para se concluir um plano de negócios, o empreendedor pode levar semanas ou até meses. Porém, quando concluído, o resultado nem sempre é considerado uma fotografia real do que é ou será o negócio.

A ajuda principal do plano de negócios é proporcionar um norte ao empreendedor e com isso fazer com que a gestão de sua empresa tenha métricas para acompanhar adequadamente seu crescimento. O plano de negócios se justifica em casos onde o empreendedor tem um objetivo claro a atingir.

Mais recentemente, com o intuito de focar em algo mais prático e rápido, conceitos como modelo de negócio Canvas e Lean startup (empresa iniciante enxuta) têm se popularizado, principalmente no mercado de tecnologia da informação, internet e áreas correlatas.

O Lean startup foca na prototipação e experimentação e propõe uma abordagem prática e rápida para testar um conceito, um produto/serviço, analisar os resultados, fazer as devidas melhorias ou adaptações e lançar nova versão no mercado.

O especialista americano Steve Blank tem sido um defensor e evangelizador deste conceito. Seu mantra resume-se em não dar tanta atenção à análise de mercado, projeções financeiras e de crescimento.

Ao contrário, ele sugere que o empreendedor deva “sair do prédio”, ou seja, que o empreendedor vá para a rua sentir na prática a reação do cliente em relação ao seu produto ou serviço.

Com base no feedback do cliente, novos ciclos de prototipação podem ser iniciados até que se chegue a um produto considerado adequado pelo empreendedor, ou melhor, pelo seu cliente.

Na verdade, essa abordagem também é sugerida quando se discute o plano de negócios tradicional. O empreendedor entenderá melhor o seu mercado caso consiga fazer um teste real junto ao cliente. Porém, isso não é possível para todo tipo de negócio.

O conceito de Lean startup não é novo, mas ficou ainda mais popular no mundo das startups a partir da disseminação de outro conceito recente: o modelo de negócio Canvas.

A proposta do modelo de negócio Canvas casa como uma luva com o de Lean startup, pois apresenta uma representação esquemática visual, em blocos, que resume os principais componentes do modelo de negócio de uma empresa.

Como é algo prático de se fazer, o empreendedor consegue criar um modelo de negócio com este esquema em uma única folha de papel.

Aí ele pode testar o conceito, discutir com outros membros da equipe, com clientes etc. e começa, então, a evoluir o modelo de negócio, com novas versões do Canvas.

Essa foi a ideia de Steve Blank ao contribuir para disseminar o modelo de negócio Canvas como uma ferramenta para aceleração de startups. O Canvas foi criado e proposto originalmente por Alexander Osterwalder e Yves Pigneur.

A tese que defende Steve Blank é de que uma startup está em busca de um modelo de negócio sustentável e replicável e, por isso, precisa criar protótipos, testar hipóteses, “dar a cara para bater” para, então, começar a crescer.

Já empresas maiores buscam executar modelos de negócios comprovados. Assim, ele sugere que nos casos das empresas iniciantes não se dê tanta atenção ao plano de negócios e priorize o Canvas.

Na verdade, o Canvas pode ajudar muito o empreendedor na fase de análise da oportunidade.

Se o empreendedor aplicar o Canvas e complementar a análise com a parte financeira e mercadológica, bem como a análise de competidores do plano de negócios, poderá ter algo prático que talvez seja um meio termo entre um conceito que precisa de mais informação para ficar completo e um plano de negócios denso e detalhado.

Uma técnica não substitui a outra e ambas podem ser utilizadas a qualquer negócio. Negócios que demandam alto investimento inicial, naturalmente precisarão de um plano de negócios mais estruturado, com clareza dos recursos que serão alocados na empresa.

Startups de tecnologia e empresas pontocom podem se beneficiar mais do Canvas, caso o risco dos empreendedores seja pequeno e o investimento na criação do protótipo inicial não seja crítico para os envolvidos.

Esta coluna foi escrita com base no livro “Empreendedorismo para o século XXI”.