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Pelo menos essa noite não

Marco Roza

11/09/2013 06h00

Você, como empreendedor, aprenderá a arrancar grandes euforias dos acontecimentos mais insignificantes.

Será, na maioria das vezes, uma alegria solitária de um pequeno contrato que só você, e ninguém mais, sabe o quanto significará para a sobrevivência de sua empresa nos próximos dois meses, duas semanas ou dois dias.

Não importa. Lá está o contrato, que já faz seu coração disparar rumo a novos acertos e a esquecer os pequenos ex-quase sucessos.

Pequenas vitórias que o farão ouvir “Essa Noite Não”, de Lobão, mais uma vez: “A cidade enlouquece sonhos tortos/Na verdade nada é o que parece ser/As pessoas enlouquecem calmamente/Viciosamente, sem prazer”.

Você se dará conta então que está saindo de uma desconfortável fase na qual seus clientes, parceiros, amigos e aliados evaporaram num passe de mágica.

De repente, só o gerente do seu banco liga. Aparentemente para renovar bons relacionamentos mas você (e só você sabe) que ele está preocupado com o seu imenso saldo negativo que apesar de todas as restrições de confidencialidade, você tem quase certeza que ele consulta.

E ao ouvir Lobão, mais uma vez, você segue seu conselho “Mas não tente se matar/Pelo menos essa noite não”. Vai dormir bolando novas maneiras de seduzir sua clientela.

Renascerá junto com o sol que se levantará amanhã cheio de energias. E resgatará a mesma euforia, agora em outro nível, que experimentou no dia em que abriu sua empresa.

Então, dormirá tranquilo pois está decidido: não fechará sua empresa pelo menos essa noite não.

Descobrirá, como todos os empreendedores que conseguem acertar, que os pequenos sucessos ou os fracassos corriqueiros devem ser aceitos como mensagens enviadas por sua clientela.

Aceitará como uma mensagem de estímulo, o carinho e as compras que se acumularam, nas boas fases. E da mesma maneira entenderá a indiferença de seus fregueses como uma mensagem clara de estímulo para mudar para melhor.

Hoje ainda. A mudar rapidamente. Da noite, em prostração, de hoje para a alvorada eufórica de amanhã.

Ao se recompor emocionalmente e se focar na reconstrução de sua empresa, você reconhece, então, que precisará de todas as energias, suas, de seus antepassados e dos seus descendentes para sintonizar, novamente, aquelas vontades dispersas de sua clientela que você já soube captar com tanta eficiência.

E uma nova maneira de divulgar sua empresa emergirá. Um novo produto ou serviço complementará seu cardápio. E, principalmente, um novo sorriso de confiança sublinhará todos os seus relacionamentos a partir das primeiras horas de amanhã.

E toda essa mágica porque hoje, antes de dormir, mesmo desanimado, você teve a sorte de sintonizar Lobão. Que você pode ouvir clicando aqui.

Nova empresa, de novo

Porque uma empresa que sobrevive ao longo dos anos, você descobrirá, renasce todas as noites. E treina seu gestor, a cada pequeno sucesso ou susto, a se acostumar com as intempéries dos oceanos.

E de tanto se equilibrar nas incertezas diárias, refinará a tal ponto sua sensibilidade que será capaz de perceber na respiração de seu novo freguês que algo está errado com sua loja, sua mercadoria ou com o atendimento de seus funcionários.

Perceberá que apesar das intermináveis reuniões que a nova fase do seu negócio corre sérios riscos. De repente, você compreende que seus principais associados estão ocupados demais com os projetinhos pessoais lá deles.

E em vez de agregarem novas visões aos negócios, que aguardam sua energia, seu capital e seu tempo como fatores determinantes para tocar a nova fase do empreendimento.

Amanhã, você registra, daremos um jeito nesses desencontros. Por isso, conclui, não fechará sua empresa pelo menos essa noite não.

Porque cada dia, ou noite, a toda interação, troca de ideias, venda ou compra, são instantes que criam o melhor momento para ajustar os projetos em andamento. Que o ajudam a perceber nuances que antes tinham escapado ao seu radar.

E confirmam que por não ter fechado sua empresa naquele dia de pânico, que hoje você está muito melhor posicionado a ponto de perceber horizontes que até ontem à noitinha eram desconhecidos para você.