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Acorda, Brasil! Há muito que melhorar para competir globalmente

Rose Mary Lopes *

Colunista do UOL, em São Paulo

 

Resolvo continuar a explorar dados recém-publicados do relatório Doing Business 2013 (baseados em informações até Maio de 2012). Nele o Brasil cai mais duas posições no ranking, ficando na 130ª posição entre 185 países.

Faço isso por conta de várias áreas de regulamentações que têm a ver com a globalização. Afinal, a globalização tem a ver com um complexo sistema de relações comerciais, econômicas, políticas, legais, logísticas e estratégicas. O Doing Business compara o comércio exterior, o cumprimento de contratos e a resolução de insolvências, que abordam parte dessas relações.

Então, iniciemos pela comparação do comércio exterior. Nesse aspecto, os números indicam os custos dos obstáculos burocráticos e de logística com que se deparam os traders. O tempo indicado é o de movimentação em terra entre a grande cidade e o porto mais importante. Não estão incluídos os custos de tarifas.

Brasil: posição 123. Exigimos sete documentos para exportar e oito para importar, o prazo médio de exportação é de 13 dias e o de importação é de 17. E, o que nos mata são os nossos custos: US$ 2.215 para exportação por contêiner de 20 pés cúbicos (volume de 31m3) e de US$ 2.275 para importação.

Comparativamente aos outros países componentes do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) praticamente empatamos com a Índia – classificada como 127, ganhamos da Federação Russa -- 162, e perdemos bastante da China, que ficou em 68ª. posição.

Em que ganham de nós? São menos eficientes na documentação para exportar – oito documentos, e perdem nos tempos médios – 21 na exportação e 24 na importação. Mas, em compensação, exigem menos documentos para importar – somente cinco, e os custos logísticos são de US$ 580 por contêiner exportado, e US $ 615 no importado. Nossos custos são 3,81 e 3,7 vezes maiores!

Entretanto, como existe uma série de custos não contabilizados no caso da China, vamos nos comparar a países da América Latina. Peguemos o caso do Chile, posicionado como 48º país quanto à facilidade de comercializar com o exterior.

Quais são suas vantagens? Um documento a menos para exportar, dois a menos para importar, prazo menor para importar, e, novamente, custos bem menores do que os nossos: 55,75% a menos para exportar e 57,6% a menos para importar.

Fala-se tanto que herdamos a burocracia de Portugal, mas, nossos patrícios têm lições a nos dar: exigem três documentos a menos tanto para exportar quanto para importar. E os custos portugueses também nos batem: custam apenas 31% do que pagamos em logística interna por contêiner exportado, e 39,5% no importado!

Nem vou nos comparar com Cingapura, pois seria covardia (primeiro país na facilidade para fazer negócios), mas que tal nos espelharmos na Itália? Apenas quatro documentos para exportar ou importar, e custos médios de US 1.145 por contêiner. Já seria um belo benchmarking!

Examinemos agora o cumprimento de contratos, que tem a ver com o grau de confiança que o sistema judicial solucione competentemente uma disputa comercial, assumindo o ponto de vista de um empreendedor reclamante que leve seu caso (padrão) às cortes locais.

Logicamente que tem a ver com o grau de risco de negociar no país. Brasil: posição 116, com 44 procedimentos, um tempo médio de 731 dias para alcançar a resolução, e custo médio de 16,5% do valor reclamado.

Como estamos em relação ao Bric? Somente não perdemos da Índia – infelizmente na lanterninha nesse aspecto: 184! Mas, a Federação Russa se posiciona em 11º lugar, com 36 procedimentos, 270 dias e 13,4% de custos relativamente ao valor reclamados. China: 19ª posição, com 37 procedimentos, 406 dias e custo de 11,1%.

Pasmem que a terrinha também nos dá lições nesse aspecto: Portugal se posiciona em 22º. lugar, com 32 procedimentos, 547 dias e custo de 13%. E os argentinos e chilenos também têm desempenho melhor do que nós: 48º e 70º lugares, respectivamente.

Com o mesmo custo 16,5% os argentinos são mais eficientes: 36 procedimentos e 590 dias. Decerto que podemos ter ainda um benchmarking melhor (EUA que se posiciona em 6º), mas se copiássemos a Argentina, já avançaríamos bastante, pois os chilenos cobram bem mais pela maior eficiência deles: 28,6%.

Verificando, então, o último aspecto: resolução de insolvências. Nesse item são comparados o tempo, o custo e o resultado dos processos de insolvência (falência). O custo é medido em percentagem dos ativos e de taxa de recuperação em centavos de dólares (quer por meio de reorganização, liquidação ou execução de dívida).

Posição do Brasil: 143. Tempo médio de quatro anos, custo de 12% dos ativos, e taxa de recuperação de 15,9 centavos de cada dólar. Tanto a Federação Russa, quanto a Índia e a China estão melhores posicionados: 53º., 116º., e 82º. lugares. Índia só perde no prazo de 4,3 anos.

Mas, examinemos o melhor deles, a Rússia: tempo de dois anos, custo de 9% dos ativos com uma recuperação de 43,4 centavos de cada dólar.

Comparando-nos com países latinos: Argentina em 94ª. posição e Chile em 98ª. Novamente os argentinos levam vantagem sobre nós: são mais eficientes, pois, com o mesmo custo de 12%, o tempo médio deles é de 2,8 anos e a taxa de recuperação é de 30,8 centavos de cada dólar.

Portugal: ora quem diria! Novamente tem lições a nos dar. Estão posicionados na 22ª. posição, resolvem esses casos, na média, em dois anos, com um custo de 9% dos ativos, e recuperação de 74,6 centavos de cada dólar reclamado.

Evidenciamos, portanto, aspectos em que temos que fazer nosso dever de casa para melhorar a nossa competitividade global. E, a despeito de eventuais rixas, menosprezos ou preconceitos, temos que reconhecer que há o que aprender com vários países, incluindo aqui os argentinos, russos, chineses, portugueses e italianos. Isso se não quisermos levar um choque de alta voltagem ao mirarmos logo nos melhores do mundo: Cingapura, Hong Kong, Nova Zelândia, EUA, Dinamarca, Noruega, Reino Unido, República da Coréia, Geórgia e Austrália!

Não importa em que direção olhamos: o que não podemos é perder mais tempo e esperarmos ser o País do futuro - que nunca chega!

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