Acionista TikToker vende fatia de quase 10% na Saraiva: 'Me causaram danos'
A empresária gaúcha Alyssa Nunes Bruscato Costa vendeu a maior parte de suas ações da livraria Saraiva (SLED4), em recuperação judicial. Ela também criticou a empresa, que acusa de agir com conflitos de interesse, em carta à CVM. Consultado, o departamento de relações com investidores da Saraiva ainda não respondeu o pedido de entrevista do UOL.
O que a acionista diz sobre a Saraiva
A participação de Alyssa, que era de 10,1% das ações ordinárias, agora é de apenas 0,15%. A empresária havia chegado a deter 15% das ações ordinárias da Saraiva nos últimos anos e havia se tornado a segunda maior sócia do negócio.
A Saraiva tem valor de mercado de 18,4 milhões, em ações ordinárias e preferenciais. Alyssa detinha 68 mil ações ordinárias, e agora tem apenas 1.000. O valor da ação ordinária, hoje, é de $ 3,96. Ou seja, ela vendeu cerca de R$ 265.320, considerando a cotação atual.
Ela afirma que a rede de livrarias não poderia aprovar as próprias contas. "A lei das sociedades anônimas determina que os administradores não podem votar a aprovação das próprias contas. O conflito de interesses na hipótese mencionada é tão claro que a lei societária decidiu por proibir o exercício do direito de voto", diz ela em carta.
Acionista controladora da Saraiva votou para aprovar contas em agosto. Alyssa diz que "o mandamento legal foi deliberadamente violado durante a última assembleia geral ordinária da Companhia realizada no dia 23 de agosto de 2023 pela Saraiva". "Mesmo alertada com relação ao conflito de interesses, uma acionista controladora, que também ocupa o cargo de Presidente do Conselho de Administração da Companhia, votou para aprovar as contas da administração da qual ela participa. Sem o seu voto as contas do exercício encerrado em 31 de dezembro de 2022 seriam reprovadas e a atual administração poderia sofrer uma ação de responsabilidade."
A empresária também acusa a contratação da KR Capital. A empresa é, segundo ela, ligada ao antigo presidente da Saraiva (Jorge Saraiva Neto), e teria sido contratada "em condições mais vantajosas do que aquelas normalmente praticadas pelo mercado", diz ela na carta.
Em junho, a CVM tornou réu Jorge Saraiva Neto, em investigação iniciada após a queixa da acionista. Alyssa questiona o pagamento de aproximadamente R$ 2,5 milhões à KR Capital em espécie a título de adiantamento.No passado eu acreditei na empresa, me tornando a segunda maior acionista da Saraiva por anos e por acreditar no que o plano de recuperação judicial divulgou aos seus acionistas (muito diferente do que a administração desta empresa fez), e na sua capacidade de se reerguer por aquilo que foi explícito. Porém, diante de fatos tão graves é inviável manter qualquer posição acionária relevante nesta Companhia. Por fim, informo que adotarei as medidas legais cabíveis contra aqueles que me causaram danos.
Alyssa Nunes Bruscato Costa
Quem é a empresária
Tem marca de calçados. Alyssa Nunes Bruscado Costa é dona de uma marca gaúcha de calçados, a Aly554.
Empresária tem formação acadêmica. Ela é doutoranda e mestra em História Cultural pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), segundo seu Linkedin.
É influenciadora digital. Tem cerca de 40 mil seguidores no Tik Tok.
Saraiva pediu recuperação judicial há cinco anos
A rede, que já foi a maior cadeia de livrarias do país, entrou em recuperação judicial em 2018. Na época, a empresa tinha dívidas de R$ 675 milhões.
A rede tem hoje 31 lojas físicas. Com 100 anos de fundação, a Saraiva chegou a ter mais de uma centena de unidades espalhadas pelo país.
Trocou dívida por loja. No segundo trimestre deste ano, a dívida líquida ficou em R$ 22,4 milhões. No início do ano, era de R$ 156 milhões. Parte da redução se deve à transferência de uma dívida que a rede tinha com o Banco do Brasil. Parte da dívida foi vendida para a rede de livrarias Travessia, que, em troca, acabou assumindo a loja que a Saraiva tinha no Shopping Ibirapuera.
Situação financeira está melhorando. Entre abril, maio e junho, a Saraiva teve prejuízo líquido de R$ 16,2 milhões. Houve uma melhora de 26% em relação ao mesmo período do ano passado, quando registrou perdas de R$ 21,8 milhões.
As ações da companhia, que abriu o capital em 2006, perderam quase todo seu valor. Na época da abertura, elas valiam R$ 674 cada uma. Hoje, a ação ordinária está valendo R$ 3,96 e a preferencial, R$ 1,75.
Empresa pediu falência da saraiva. Em abril, a empresa de tecnologia Websoul pediu a falência da Saraiva na 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial, em São Paulo. A empresa cobra dívida de R$ 241,4 mil e acredita que a rede não tem como parcelar a dívida. A Saraiva informou estar ciente do pedido, apresentado fora do processo de RJ e portanto, sem relação com o seu Plano de Recuperação que, segundo ela, "vem sendo devidamente cumprido nos termos do 2º aditamento ao PRJ".
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