Petrobras prevê mudanças em dividendos e em indicações; o que fazer?
Depois que a Petrobras anunciou que irá discutir temas importantes do seu estatuto, analistas do mercado veem brechas para indicações políticas para cargos importantes na estatal. Dividendos extraordinários também devem passar por revisões.
Ações desabaram, mas voltaram a subir. Na segunda-feira (23), as ações PETR3 e PETR4 caíram 6,03% e 6,61%, respectivamente. Já no dia seguinte, 24, os papéis PETR3 fecharam em alta de 1,54%, para R$ 38,94, e PETR4 subiu 1,50%, para R$ 35,88.
O que a Petrobras anunciou
A estatal anunciou que seu Conselho de Administração aprovou uma revisão de duas de suas políticas. A primeira é a política de indicação de membros da alta administração e do conselho fiscal. A estatal não detalhou como seria feita essa revisão, que ainda deve ser aprovada por assembleia geral extraordinária, sem data para acontecer.
Sem dar detalhes, a estatal comunicou que quer criar uma "reserva de remuneração do capital". Essa reserva visa "assegurar recursos para o pagamento de dividendos, juros sobre o capital próprio, suas antecipações, recompras de ações autorizadas por lei, absorção de prejuízos e, como finalidade remanescente, incorporação ao capital social".
Só a indicação de mudanças já gerou incertezas no mercado. Como as ações da estatal tiveram grandes altas no ano, diante das incertezas, os investidores resolveram vender os papéis para garantir o ganho acumulado. Do início de 2023 até a sexta-feira (20), antes desses anúncios, PETR4 tinha alta de 91,91% e PETR3 de 79,65%.
O que muda para a indicação de altos cargos
Por enquanto nada mudou. Mas a assembleia deve acatar as decisões do conselho, diz o matemático Tiago Feitosa, da T2 Educação, que forma profissionais do mercado financeiro.
Os investidores temem que políticos possam ocupar cargos na estatal, o que abriria brecha para interferências. É o que pensa Charo Alves, especialista da Valor Investimentos. "Seria um conflito de governança muito ruim", diz ele. A Guide Investimentos concorda. "Indicações políticas não favorecem o quadro técnico dos executivos. O risco de ingerência por parte de indicações políticas aumenta", publicou a empresa.
Passado pesa. "No passado, entre 2012 e 2016, a empresa teve problemas com executivos do alto escalão", lembra Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, citando o escândalo de que ficou conhecido como Petrolão. Na época, a empresa tomou decisões que prejudicaram sua saúde financeira. "Voltar a ter indicação de políticos para os níveis mais altos seria um passo na direção errada", diz ele.
O impacto foi tão grande que a Petrobras se manifestou. No fim da segunda-feira, a empresa disse que a ideia é "suprimir do estatuto o parágrafo que enumera vedações às indicações previstas na Lei das Estatais —como membros do governo ou de partidos políticos e sindicatos, por exemplo — mas que o texto continuará seguindo a lei".
O que muda para os dividendos
De acordo com a Petrobras, a Política de Remuneração aos Acionistas permanece inalterada. Mas mercado acredita que o pagamento de dividendos extraordinários ficam ameaçados.
Pode afetar dividendos. Charo Alves, especialista da Valor Investimentos acredita que os dividendos vão ser menores. "A reserva de fundo para novos investimentos seria maior e esse capital seria retirado da projeção de pagamentos de dividendos para acionistas", diz ele.
Mas mudança pode ser apenas uma forma de garantir a sustentabilidade dos pagamentos. "A reserva de lucros seria feita após o pagamento de dividendos. Em tese, então, ela não afetaria os dividendos", diz Heitor Martins, estrategista de investimentos da Nexgen Capital. É a mesma opinião da Guide Investimentos. "A criação da reserva de remuneração tem como objetivo garantir contabilmente que a Petrobras consiga pagar os dividendos estabelecidos em sua política de remuneração", publicou a empresa, em relatório.
O BTG, também em relatório, ponderou as dúvidas. "O que sabemos até agora é que a potencial criação do fundo de reserva não altera a política de remuneração atualmente em vigor, de distribuir 45% do fluxo de caixa livre da empresa. O que não sabemos: não temos certeza se haverá mínimo ou máximo montante a ser mantido na nova reserva."
O que vai ser atingido são os dividendos extraordinários. Essa é a opinião de Ilan Arbetman, analista de pesquisa da Ativa Investimentos. "Os dividendos regulares de mantêm", afirma ele. Esse pagamento de proventos extraordinários, segundo ele, poderia alcançar até R$ 19,7 bilhões em 2023 e R$ 35,6 bilhões em 2024. Agora, diz o especialista, o montante efetivamente distribuído poderá ser sensivelmente inferior ou até mesmo extinto.
Tantas dúvidas não são boas para o mercado. Os investidores fogem de incertezas e por isso as ações caíram no dia do anúncio. "O mercado antecipa tudo", diz Feitosa.
Petrobras paga altos dividendos
Retorno com dividendos deste ano é de mais de 20%. A Petrobras pagou R$ 7,622 por ação no acumulado dos 12 meses até outubro deste ano. O dividend yield, que é o valor do dividendo em relação à cotação da ação, é de 21,40% este ano, de acordo com a plataforma Meu Dividendo. Ano passado, quando a empresa pagou dividendos recordes, essa relação fpo de 44,19% nos 12 meses acumulados até outubro de 2022. Em 2021, foi de 8,84%, no mesmo período, e de 3,03% em 2020.Petrobras é uma das maiores pagadoras de dividendo da Bolsa, ao lado da Vale. As duas pagaram juntas 38% do total de dividendos distribuídos no ano por todas as empresas da Bolsa, diz a plataforma. Ano passado, as duas foram responsáveis por 57% de todos os dividendos pagos.
Ainda vale investir em Petrobras?
O risco aumentou. Ao abrir brecha para indicações de políticos para cargos executivos, tudo pode acontecer daqui para frente, diz Feitosa. "Ainda que ficasse claro, nos comunicados, como seria a distribuição de dividendos, quem garante que essa regra não seria mudada daqui um mês ou daqui dois meses? Isso não é bom para empresa, não é bom para o próprio governo e nem para nossa economia", diz o matemático.
Mas a ação continua dando resultados, pois está barata. Por isso, o BTG ainda recomenda a compra. Para PETR4, o preço alvo do banco é de R$ 39. É a mesma recomendação da XP. No entanto, o preço alvo da corretora é bem mais baixo para PETR4: R$ 36,70.
O Goldman Sachs também continua recomendando o investimento na ação. Para PETR3, a expectativa é de uma valorização de 14,2% e para PETR4, de 12% - em 12 meses.
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