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Na Catalunha, empresas se dividem sobre independência

07/11/2014 19h47

BARCELONA, 07 Nov 2014 (AFP) - A Catalunha se pergunta se a independência resultaria em uma redução de impostos e melhor gestão das contas públicas, ou em uma fuga de multinacionais e instabilidade financeira.

Em Barcelona, grandes e pequenas empresas debatem sobre as oportunidades de uma separação da Espanha.

Essa região industrial do norte da Espanha, a mais rica do país, que gera pelo menos de 19% do PIB total, acolhe um grande número de empresas, especialmente pequenas e médias.

E, após observar em relativo silêncio o auge do separatismo, os empresários catalães começam agora a se posicionar, com pontos de vista diametralmente opostos.

David Poudevida, diretor de comunicação e marketing de um grupo catalão de supermercados, faz parte do grupo a favor da independência. Ele é porta-voz da plataforma "Acreditemos na Catalunha", que reúne cerca de 600 empresários favoráveis à causa em torno de um sentimento comum: pagar menos impostos.

"Estamos dando muito dinheiro", afirma, reclamando que a Catalunha paga mais em impostos à Espanha do que é investido na região.

Enquanto a economia espanhola crescia, não havia problema, mas a grave crise econômica que sacudiu a Espanha nos últimos seis anos alimentou o descontentamento de muitos catalães.

"Se a gente pudesse decidir onde colocar esse dinheiro, muitos setores da economia iriam melhor aqui", considera Poudevida.

Joaquim Gay de Montella, presidente da poderosa federação patronal Foment, acredita que reforçar os poderes regionais permitiria uma melhor gestão do orçamento e que o governo central privilegia Madri em relação a Barcelona nos seus investimentos.

Ainda assim, não se cogita que a Foment, representante das pequenas, médias e grandes empresas, defenda a independência.

"A Catalunha tem mais vantagens com a permanência no Estado espanhol por ter a estabilidade do nosso sistema financeiro e bancário", assegura.



Saída da UE? É impossível dizer como a Catalunha, uma das regiões mais endividadas da Espanha (31,2% do PIB), poderia se financiar nos mercados, em caso de independência do país e, consequentemente, se saísse da União Europeia.

"Restabelecer a confiança dos investidores pode levar um tempo não inferior a 20 anos", alerta Gay de Montella.

"Às empresas não interessa que a Catalunha deixe a Espanha", concorda Albert Peters, porta-voz da plataforma "Catalunha fora da Europa não".

Segundo ele, muitos empresários não se atrevem a se pronunciar contra os projetos do chefe do Executivo catalão, Artur Mas, para não ofender as autoridades locais. Entretanto, sabem dos riscos da separação, como os maiores custos de exportação e o fim do acesso à liquidez do Banco Central Europeu (BCE).

Peters critica a memória fraca dos catalães, que, segundo ele, "também se beneficiaram da entrada da Espanha na UE", em 1986. Assim como a Foment, ele reconhece, porém, a necessidade de um novo pacto fiscal e social com Madri, que leve mais em conta dos interesses da região.

O regime especial aplicado no País Basco, denominado "foral", com vantagens jurídicas e fiscais, poderia servir de modelo, sugere Gay de Montella.

A ideia é, no entanto, descartada pelos partidários da independência.

"O Estado espanhol não negocia. Tem uma mentalidade impositiva", ressalta Ramir de Porrata Doria, presidente da start-up Keonn Technologies, especializada no desenvolvimento de novas tecnologias.

Sua empresa exporta 70% de sua produção. No entanto, afirmou Doria com entusiasmo, "estou disposto a deixar a União Europeia e o euro".

Como outros, ele está convencido de que a Europa não poderá prescindir de uma região rica como a Catalunha.

Seu desejo de independência é mais forte do que qualquer argumento contrário: "não é só uma questão econômica, é uma questão de dignidade", alegou.