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EUA e Irã enfrentam desafios difíceis nas negociações nucleares

04/03/2015 19h01

Montreux, Suíça, 4 Mar 2015 (AFP) - Ainda é preciso superar desafios difíceis para alcançar um acordo sobre o programa nuclear iraniano - alertou nesta quarta-feira um funcionário de alto escalão americano, após três dias de reuniões entre os chefes da diplomacia de ambos os países na Suíça.

O secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamed Javad Zarif, retomaram hoje suas negociações, ignorando as críticas do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, feitas na terça-feira ante o Congresso americano em Washington.

Após o encontro com Zarif, Kerry disse que ambos conseguiram alguns avanços, mas que ainda há decisões importantes a serem tomadas.

"O objetivo não é alcançar qualquer acordo. É obter um bom acordo, capaz de superar uma análise" da comunidade internacional, acrescentou.

O ministro Zarif disse à televisão iraniana que houve "avanços" em relação à fábrica de enriquecimento de Fordo, o segundo maior sítio de enriquecimento do Irã, e "em relação à pesquisa e ao desenvolvimento" no campo nuclear.

Ele afirmou, porém, que "sempre há diferenças consideráveis sobre as sanções" e que é "necessário avançar sobre os temas do enriquecimento e do reator de água pesada de Arak".

O Irã e o grupo 5+1 (Estados Unidos, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha) devem fechar um acordo político até 31 de março, e negociar os detalhes técnicos até 1º de julho.

O pacto deve garantir o caráter pacífico e civil do programa nuclear iraniano, em troca da suspensão das sanções internacionais contra Teerã.

No próximo sábado, Kerry se reúne em Paris com seus colegas britânico, francês e alemão para tratar dos avanços na negociação. Os próximos encontros bilaterais entre Estados Unidos e Irã serão em 15 de março, "provavelmente em Genebra", completou o funcionário de alto escalão americano.



Críticas israelenses Na terça-feira, Netanyahu criticou o pacto que está sendo negociado entre as potências do grupo 5+1 e Teerã, assegurando que "um acordo com o Irã não impedirá que (o país) produza bombas atômicas".

O presidente Barack Obama, que mantém relações ruins com Netanyahu e descartou se reunir com ele durante sua controversa visita a Washington, considerou que seu discurso não apresentava nada de novo, nem oferecia uma alternativa viável.

"Ainda não temos acordo", afirmou Obama, visivelmente incomodado. "Mas, se o conquistarmos, será o melhor acordo possível com o Irã para impedir que produza uma arma nuclear", disse.

Em Teerã, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Marzieh Afkham, afirmou, por sua vez, que "é muito cedo para julgar os resultados dessa série de negociações".

Ontem, Afkham havia denunciado "as contínuas mentiras de Netanyahu [...] sobre os objetivos e as intenções do programa nuclear pacífico do Irã".

A aproximação entre Estados Unidos e Irã após 30 anos de conflito, depois da tomada de reféns na embaixada americana de Teerã em 1979, preocupa Israel e os aliados de Washington no Golfo, que temem o expansionismo iraniano.

Kerry viaja nesta quarta-feira para a Arábia Saudita. Ele tentará tranquilizar o rei Salman e os chefes da diplomacia dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (Bahrein, Catar, Kuwait, Omã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos).

A ameaça do grupo Estado Islâmico, que controla extensas faixas de território na Síria e no Iraque, complica a situação no Oriente Médio e fornece um papel cada vez mais importante ao Irã xiita na luta contra estes extremistas sunitas.



O papel positivo do Irã O general americano Martin Dempsey reconheceu na terça-feira, ante a Comissão de Forças Armadas do Senado, que a ajuda do Irã à atual ofensiva iraquiana para retomar a cidade de Tikrit pode ser positiva, se a situação não degenerar em tensões inter-religiosas com os sunitas.

O ataque das forças iraquianas sobre Tikrit, nas mãos do EI, mostra a intervenção iraniana mais clara no país vizinho desde 2004, "com artilharia e outros meios", disse o chefe do Estado-Maior americano.

Um terço das tropas que tentaram retomar essa cidade-chave do norte do Iraque pertence à quinta divisão do Exército iraquiano, e dois terços, a milícias xiitas (apoiadas pelo Irã), detalhou. Segundo Bagdá, 30 mil homens participam dessa operação.

A Arábia Saudita e os países do Golfo são membros da coalizão de 60 países liderada por Washington para combater o EI.

As autoridades americanas insistem em que um acordo nuclear com o Irã não significa que fecharão os olhos para as outras atividades do país, ainda rotulado por Washington como um dos Estados patrocinadores do terrorismo.

"Se alcançarmos um acordo (...), pensamos que isso contribuirá diretamente para a estabilidade regional, mas também para a segurança e a estabilidade global", declarou aos jornalistas um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado.

No entanto, "não importa o que aconteça com o programa nuclear, seguiremos nos opondo firmemente ao expansionismo iraniano na região", frisou.

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