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Economia espanhola precisa de reformas estruturais, avalia economista

15/10/2015 17h50

Madri, 15 Out 2015 (AFP) - A Espanha retomou o crescimento econômico, mas precisa de reformas estruturais para solucionar o alto desemprego, a corrupção e a rigidez de seu sistema educacional, afirmou nesta quinta-feira o economista Luis Garicano, artífice do programa econômico do partido liberal emergente Cidadãos.

"O paciente foi estabilizado pelo governo conservador, mas não se conseguiu uma verdadeira recuperação de longo prazo", considera o professor da prestigiada London School of Economics, que ressalta a necessidade de enfrentar os problemas profundos do país.

O índice de desemprego caiu dos 26% do pior momento da crise para 22%, o maior percentual da União Europeia depois da Grécia. Antes da crise, o desemprego girava, em média, em torno dos 17%.

O sistema espanhol criou um mercado de trabalho de duas velocidades, "um núcleo duro de trabalhadores muito protegidos e trabalhadores temporários, muito menos protegidos que nos Estados Unidos, que frequentemente são jovens, mulheres e não têm qualquer perspectiva de futuro. Não podem alugar nem comprar uma moradia, nem pegar um empréstimo", explicou à AFP.

"Temos 47 tipos de contrato. As pessoas podem passar de um para outro, mas a única coisa que não se pode fazer é dar a elas um contrato indefinido, porque sua demissão seria mais difícil".

Garicano, que em janeiro aceitou elaborar o programa do Cidadãos, propõe um contrato único (ideia dos economistas franceses Olivier Blanchard e Jean Tirole), em que a proteção do empregado aumenta com sua antiguidade, e o fim dos contratos precários.

"Até mesmo o economista francês Thomas Piketty, conselheiro econômico do partido de esquerda radical Podemos, aprovou o contrato único publicamente na Espanha", afirma o professor. "É importante para nós demonstrarmos que não estamos contra os trabalhadores".

Cidadãos, de centro-direita e acusado pela esquerda de ser o partido das grandes empresas, é o único que atualmente cresce em intenção de voto pouco antes das eleições legislativas de 20 de dezembro.

Embora esteja na terceira ou na quarta posição, segundo as pesquisas, o Cidadãos pode ser o aliado necessário para que um dos dois grandes partidos, conservadores ou socialistas, possa governar sem maioria absoluta.

Lutar também contra a corrupçãoA reforma do mercado de trabalho é apenas uma das três prioridades do partido. Também quer reformar a regulação dos mercados e lutar contra a corrupção, segunda maior preocupação dos espanhóis atrás do desemprego.

"Queremos desmantelar as redes de clientelismo, mudando a forma como são nomeados juízes, reguladores e reitores de universidade, explicou Garicano, de 48 anos.

"A Comissão dos Mercados e Concorrência controla todos os setores, dos trens até a eletricidade passando pelas telecomunicações", assegura.

"Os comissários são nomeados por suas relações de amizade ou familiares ou por afinidades políticas. Muitos deles não têm nenhuma experiência na regulação da concorrência e estão ali para receber ordens do governo", explica.

Para reformar o sistema educativo, um dos mais criticados da Europa, o Cidadãos quer dar mais autonomia a institutos e universidades para contratar e fixar o salário dos professores. Além disso, o partido propõe condicionar os financiamentos das universidades ao emprego dos formados.

"Uma universidade que produz turmas inteiras de garçons licenciados em direito ou economia não deve receber a mesma coisa do que a que lhes dá formação para que tenha sucesso", afirmou.

Criticadas em seu blog "Nada es gratis" e depois em seu livro "El dilema de Espanha" publicado em 2014, segundo o professor, essas ideias agora são bem vistas. "Sinto que há na Espanha um verdadeiro desejo por mudança".

"Há um amplo consenso entre os analistas espanhóis sobre o mercado de trabalho, a corrupção e a educação", constatou após um debate organizado pelo Financial Times em Madri.