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Brasil: Caixa tem poucas opções para evitar alta na inadimplência

Francisco Marcelino

23/10/2014 13h19

23 de outubro (Bloomberg) -- A Caixa Econômica Federal está diante de uma escolha difícil: continuar emprestando no mesmo ritmo em meio à economia fraca e deixar a inadimplência subir ou reduzir o crescimento do crédito, com o risco de que a inadimplência aumente do mesmo jeito.

"Matematicamente falando de fato vamos ver uma piora da inadimplência daqui para frente com essa desaceleração da Caixa", disse Esin Celasun, analista da Fitch Ratings, por telefone, do Rio de Janeiro.

O rápido crescimento do crédito na Caixa ajudou a mascarar um aumento na inadimplência, que é uma proporção em relação à carteira, segundo Celasun. Se a Caixa desacelerar demais o crescimento da carteira, a taxa de empréstimos atrasados provavelmente subirá em um momento de atividade econômica fraca, o que também impulsiona inadimplência, disse Luís Miguel Santacreu, analista da Austin Rating em São Paulo. Para "diluir" mais a proporção, a Caixa precisaria manter o ritmo de expansão, mas isso significaria assumir empréstimos mais arriscados, disse ele.

A presidente Dilma Rousseff, que busca a reeleição na votação do segundo turno, neste fim de semana, pressionou os bancos estatais, incluindo a Caixa, a emprestar mais como estímulo para a maior economia da América Latina. A Caixa vem expandindo sua carteira de crédito a um ritmo mais de duas vezes superior ao de seus concorrentes desde 2011, quando Dilma assumiu o governo. Com isso, a Caixa superou o Itaú Unibanco Holding SA no fim de março, com a segunda maior carteira de crédito entre os bancos comerciais da América Latina, atrás do Banco do Brasil SA, também estatal. No segundo trimestre, a carteira de crédito da Caixa chegou a R$ 552,1 bilhões.

Resultados preliminares

As assessorias de imprensa da Caixa e de Dilma preferiram não comentar. O Itaú e o Banco do Brasil disseram que não podem comentar antes da divulgação dos lucros, nos dias 4 e 5 de novembro, respectivamente.

Os resultados preliminares da Caixa no terceiro trimestre indicam um ligeiro declínio na taxa de inadimplência na comparação com o trimestre anterior, disse uma fonte com conhecimento do assunto, que pediu para não ser identificada porque o banco divulgará seus lucros no mês que vem.

A Caixa, que não tem ações negociadas no mercado, estima que sua carteira de empréstimos aumentará 20 por cento a 22 por cento neste ano, disse o diretor financeiro do banco, Márcio Percival, em maio. O banco ampliou o crédito em 37 por cento em 2013, expansão menor que a de 42 por cento vista em 2012 e em 2011, segundo seus balanços.

O Itaú disse no dia 14 de outubro que ampliará sua carteira de empréstimos neste ano em cerca de 8 por cento. O Bradesco disse em seu último resultado que estima uma alta entre 10 por cento e 14 por cento.

Aumento da inadimplência

O banco estatal já identificou um aumento na inadimplência por causa do crescimento mais lento. A taxa de empréstimos atrasados há pelo menos 90 dias subiu para 2,8 por cento no segundo trimestre, contra 2,3 por cento um ano antes, disse a empresa em seu último balanço. Este foi o maior aumento na taxa de inadimplência entre os cinco maiores bancos comerciais do Brasil.

Os bônus da Caixa negociados no mercado internacional tiveram um retorno médio de 8,1 por cento neste ano, contra 10,8 por cento do Itaú, mostram dados compilados pela Bloomberg.

Mesmo com o aumento, a taxa de inadimplência da Caixa ficou abaixo da média de todos os bancos do Brasil porque a maior parte de sua carteira tem garantias, como os empréstimos imobiliários, disse Celasun.

Os empréstimos imobiliários representavam 55 por cento da sua carteira total no fim do segundo trimestre, segundo seu último balanço. A taxa de inadimplência de todo o sistema financeiro do Brasil foi de 3 por cento em junho, segundo o Banco Central.

A Standard Poor's disse em um relatório, no mês passado, que a qualidade dos ativos da Caixa poderá cair "substancialmente se o ritmo de crescimento do banco se desacelerar mais, ou se a inflação, desemprego ou renda disponível'' piorarem de forma significativa no Brasil.

No governo Dilma, a economia brasileira cresceu em média 2,1 por cento por ano entre 2011 e 2013, a expansão mais lenta para qualquer presidente da República desde 1992. A inflação em 12 meses até meados deste mês está em 6,62 por cento, acima do teto da meta do BC, de 6,5 por cento para este ano.

O ambiente para empréstimos está difícil atualmente por causa da inflação e do crescimento lento e será difícil para a Caixa continuar crescendo a um ritmo rápido, disse Santacreu, da Austin.

"A Caixa está mais exposta a riscos", disse ele. "A fotografia da Caixa não mostra a realidade hoje. A realidade a gente vai ver nos próximos anos".

Título em inglês: Caixa's Options Dwindle for Avoiding Bad Loans: Corporate Brazil

Para entrar em contato com o repórter: Francisco Marcelino, em São Paulo, mdeoliveira@bloomberg.net.