Falta d'água paralisa fábricas e ameaça crescimento da economia de São Paulo
24 de outubro (Bloomberg) -- A Solvay interrompeu a produção em algumas unidades no Brasil em meio à falta de água, expandindo a lista de empresas afetadas pela pior seca em São Paulo das últimas oito décadas.
A Rhodia, empresa química pertencente à Solvay, desativou quatro das 22 unidades de produção na fábrica de Paulínia, no Estado de São Paulo, porque o rio de onde a empresa coleta água está secando, disse Roberto Custódio, porta-voz da empresa, ontem, por telefone.
A companhia está fazendo uma manutenção não programada nas unidades até que o fornecimento de água se normalize.
Cortes no fornecimento ameaçam crescimento do Estado
De restaurantes a fábricas, as empresas de São Paulo estão enfrentando cortes no fornecimento, o que ameaça o crescimento econômico no Estado responsável por um terço do Produto Interno Bruto do Brasil.
A Fibria Celulose está trabalhando em um plano de contingência para o caso de ter sua água cortada e a associação da indústria açucareira Unica alertou as usinas a adotarem um plano B. A Abit, que representa o setor têxtil, disse que seus membros já estão vivendo uma escassez.
“Dada a representatividade que São Paulo tem na economia, qualquer coisa que acontece no Estado afeta o PIB nacional”, disse Leonardo Dutra, diretor de consultoria em sustentabilidade da Ernst Young. “Sem dúvida a falta de água pode prejudicar a recuperação econômica do país”.
A economia do Brasil caiu em recessão de janeiro a junho pela primeira vez desde 2009. Com 40 milhões de habitantes espalhados por 250 mil quilômetros quadrados, o Estado de São Paulo é geograficamente maior do que o Reino Unido.
Setenta das 645 cidades do Estado já estão enfrentando escassez de água e 38 começaram a racionar, informou o jornal “O Estado de S. Paulo” neste mês.
Produtoras têxteis sentem efeitos; usinas 'têm folego'
Metade das produtoras têxteis do Brasil está no Estado de São Paulo e muitas dessas empresas foram atingidas por uma falta de água que está dificultando o processo de coloração e outras operações, disse Rafael Cervone Netto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, conhecida como Abit.
O diretor-executivo da Fibria, Marcelo Castelli, disse em uma teleconferência de lucros nesta semana que a empresa está desenvolvendo um plano de contingência para redução da água “se necessário”. A assessoria de imprensa da Fibria preferiu não fornecer mais detalhes.
A produção de açúcar e etanol não foi afetada até o momento porque as usinas normalmente ficam perto de grandes fontes de água e têm barragens para manter reservatórios de água, disse André Elia Neto, consultor ambiental e de recursos hídricos da União da Indústria de Cana de Açúcar, a Unica. O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo.
“As reservas estão acabando, mas ainda têm fôlego”, afirmou Neto. “Para o ano que vem, estamos preocupados, pois poderemos ter problemas”.
Podia ser pior
A indústria do Estado de São Paulo não está trabalhando com capacidade plena, o que reduz o impacto da escassez de água na produção, segundo Nelson Pereira dos Reis, diretor titular do Departamento de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp.
“Se a indústria estivesse trabalhando em plena capacidade, teríamos problemas muito maiores”, disse ele.
Altos custos para as empresas
A indústria e as companhias fornecedoras de água também estão enfrentando custos crescentes à medida que a crise da água piora. As empresas precisam comprar mais água de fornecedores distantes e estão gastando mais para purificar a pouca água que conseguem das atuais reservas, disse Ademar Ribeiro Romeiro, professor da Unicamp.
“As vazões dos rios diminuíram drasticamente, porém os esgotos continuam sendo lançados nas mesmas quantidades”, afirmou Dalto Favero Brochi, diretor-geral da Agência Reguladora PCJ. “A qualidade dos rios em São Paulo piorou muito e algumas cidades interromperam parcialmente suas captações”.
Com cinco complexos industriais, a presença da Rhodia no Brasil está em grande parte no Estado de São Paulo.
Esta não é a primeira vez que a empresa paralisou a produção em Paulínia. Uma unidade foi forçada a parar em fevereiro devido à escassez de água. Isso aumentou o estoque nos últimos meses, quando o fornecimento de água não era um problema, e a empresa vem importando produtos de unidades de outros países, de forma que as entregas aos clientes não serão interrompidas, disse Custódio.
“O custo deste tipo de situação é importante”, disse ele.
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