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Valorização do dólar dispara corrida transatlântica por imóveis europeus

Patrick Gower e Neil Callanan

27/03/2015 14h33

(Bloomberg) - Investidores dos EUA estão comprando imóveis comerciais na Europa a um ritmo recorde porque o rali de oito meses do dólar e os problemas das economias do continente estão fazendo com que escritórios, lojas e armazéns se tornem baratos.

O gasto dos americanos em imóveis comerciais europeus no ano passado foi apenas um pouco menor do que o pico de 2007, segundo a Real Capital Analytics Inc. Depois de um primeiro trimestre forte, talvez o recorde seja batido neste ano, disse Simon Mallinson, diretor administrativo da RCA para a Europa, o Oriente Médio e a África.

"Com o encarecimento dos mercados dos EUA e a vantagem cambial que estamos começando a observar, as instituições americanas estão fazendo uma grande campanha na Europa", disse Richard Divall, diretor de mercados transfronteiriços de capital da corretora Colliers International. "A Europa é a região do mundo que ainda tem dificuldades".

A moeda dos EUA deu um salto em meio à especulação de que a Reserva Federal esteja prestes a elevar as taxas de juros neste ano graças ao crescimento acelerado da economia. Enquanto isso, a estagnação e a perspectiva de deflação na Europa estão fazendo com que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, implemente um programa de flexibilização quantitativa de 1,1 trilhão de euros para estimular o crescimento. O dólar avançou 26% frente ao euro nos últimos 12 meses.

Os investimentos americanos em propriedades comerciais europeias cresceram 90% no ano passado, para 41,2 bilhões de euros (US$ 45,3 bilhões), um pouco abaixo do pico de 2007, de 41,5 bilhões de euros, disse a RCA. Mais 8,9 bilhões de euros foram gastos neste ano até 25 de março, com mais 3,3 bilhões em contratos.

Recuperação

A recuperação da Europa provavelmente se fortaleça neste ano, o que levará ao crescimento da geração de emprego e ao aumento da demanda doméstica por imóveis, segundo um relatório da Deutsche Asset Wealth Management. O total de investimentos em propriedades europeias cresceu 12%, para 160 bilhões de euros no ano passado, segundo o relatório.

Apesar da maior concorrência pelos ativos, os imóveis comerciais europeus vão continuar sendo atraentes para os compradores estrangeiros neste ano, segundo os investidores.

Retornos mínimos recordes dos investimentos em renda fixa levaram os gestores de recursos a comprar imóveis em busca de retornos mais altos. Os investidores institucionais incrementarão o gasto em propriedades em US$ 52,5 bilhões neste ano, e a Europa será um alvo-chave, disse Colliers.

Propriedades caras

Os valores dos imóveis comerciais nos EUA bateram um recorde em janeiro, pois os investidores estão concorrendo para comprar os edifícios de maior qualidade, segundo um índice composto ponderado de valores compilado pela empresa de pesquisa CoStar Group Inc.

A média anual de retornos de escritórios, lojas e armazéns será de cerca de 10% durante dois anos, disse a Deutsche Asset Wealth Management. Os principais bancos da Europa têm 236,5 bilhões de euros em empréstimos inadimplentes e ativos ligados a imóveis não residenciais, disse o BCE em outubro.

A unidade europeia da Northstar Realty Finance Corp., com sede em Nova York, possui ou fechou por contrato a compra de US$ 2 bilhões em imóveis comerciais na região, disse a empresa em fevereiro. A empresa planeja separar a unidade em um truste de investimentos imobiliários de capital aberto. A Blackstone Group LP, o maior investidor de private equity em imóveis, decidiu comprar um edifício de escritórios nesta semana no distrito financeiro de Londres por 268,4 milhões de libras esterlinas.

O euro se recuperou minimamente frente ao dólar durante as últimas duas semanas, em mais um movimento imprevisível desde que o Fed surpreendeu os investidores ao indicar que não tem pressa para aumentar as taxas.

"A Europa está ficando muito interessante na perspectiva da cotação da moeda; ninguém quer pegar uma faca caindo", disse Scott Brown, presidente e CEO da Cornerstone Real Estate Advisers, que pretende expandir seus ativos europeus para chegar até US$ 1 bilhão em 2015. "Você vai se sair melhor se entrar antes ou depois que a cotação chegar ao fundo do poço?".