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Fora do epicentro da investigação sobre propinas, Petrobras atrai compradores de títulos

Paula Sambo

03/07/2015 11h09

(Bloomberg) -- A investigação sobre propinas que abalou a produtora estatal de petróleo do Brasil agora está custando mais caro ao país que à empresa em si.

A situação é observada no mercado de bonds (títulos), no qual a Petrobras supera o desempenho do governo desde março. A dívida da empresa para 2020 hoje tem um yield (rendimento)  3,3 pontos porcentuais superior ao dos títulos de dívida do Brasil, menor que o recorde de 5,1 pontos porcentuais de março.

Essa dinâmica ameaça se tornar ainda mais pronunciada porque os políticos agora estão virando alvo da investigação sobre supostos pagamentos de propinas e a Petrobras está acelerando os esforços para reparar suas finanças. Isso está levando o Deutsche Bank AG a recomendar a venda dos bonds do governo e a compra das notas da Petrobras.

"Definitivamente chegou o momento de investir na Petrobras e não no Brasil", disse Patrik Kauffmann, que ajuda a gerenciar US$ 11,2 bilhões na Solitaire Aquila, em Zurique, por e-mail. "Essa enorme diferença de spread não faz sentido. Nós veremos uma normalização dos spreads em direção à média histórica".

A diferença média dos yields da Petrobras e do governo foi de 1,8 ponto porcentual nos últimos cinco anos, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A revista Veja publicou no sábado que um delator premiado afirmou que políticos ligados ao partido da presidente Dilma Rousseff estavam envolvidos no suposto esquema em que executivos da Petrobras aceitaram propinas em troca de contratos do governo. Dilma e o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que foi tesoureiro de sua campanha de reeleição, em 2014, negaram que tenha havido qualquer irregularidade.

'Desafio realista'

A Petrobras, a mais endividada entre as grandes produtoras de petróleo, disse na segunda-feira que reduzirá o investimento em 37% nos próximos quatro anos e que ampliou as vendas de ativos planejadas em 10%, para US$ 15,1 bilhões. Em 2018, a empresa quer reduzir a alavancagem para abaixo de 3 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. A meta é 2,5 vezes até 2020. A alta histórica foi de 5,07 vezes.

"É um desafio, mas um desafio realista", disse o presidente da empresa, Aldemir Bendine, na segunda-feira.

A medida permitirá que a empresa com sede no Rio de Janeiro mantenha os graus de investimento da Standard Poor's e da Fitch Ratings, segundo Eduardo Vieira, chefe de pesquisa de dívida corporativa dos mercados emergentes do Deutsche Bank.

A Petrobras teve sua nota reduzida para junk (grau especulativo) pela Moody's Investors Service em fevereiro por não ter conseguido divulgar resultados financeiros auditados em tempo. Após um atraso de cinco meses, a empresa finalmente publicou os balanços do terceiro e do quarto trimestre em 22 de abril, reportando uma baixa contábil ligada à corrupção de R$ 6,2 bilhões (US$ 2 bilhões) e uma perda por desvalorização de ativos de R$ 44,6 bilhões.

"Nós estamos agora mais otimistas em relação às perspectivas para a Petrobras", disse Vieira, em um relatório, em 30 de junho. "Os bonds soberanos continuam sofrendo as consequências".