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Investidores prejudicados por corrupção na Petrobras são atingidos por investigação no BNDES

Filipe Pacheco e Sabrina Valle

27/07/2015 11h34

(Bloomberg) -- Os investidores estrangeiros que acompanham bonds (títulos) do Brasil não têm tido sossego.

Após serem prejudicados por um escândalo de corrupção na Petrobras, eles levaram mais um susto na semana passada quando os procuradores federais que investigam o BNDES disseram que o banco teve uma perda estimada de US$ 2 bilhões ao fixar taxas de juros baixas demais para tomadores de empréstimos. O relatório foi divulgado após o anúncio de outras duas investigações neste mês, e o volume de US$ 1,75 bilhão do banco em títulos de dívida para 2023 sofreu maior queda semanal já registrada na última semana, perdendo 4,2%.

As acusações contra o BNDES surgem depois de o banco ter ampliado a sua carteira de crédito para US$ 201,4 bilhões com o intuito de fomentar a maior economia da América Latina, montante que deixa para trás a carteira do Banco Mundial. Os procuradores disseram na quarta-feira que os prejuízos estimados estão ligados a US$ 12 bilhões em empréstimos, sendo que mais de dois terços deles financiaram projetos de uma construtora brasileira implicada na investigação de corrupção na Petrobras em países como Angola e Venezuela.

"O fluxo de notícias negativas tem sido bastante intenso e vem de todos os lados quando se fala de Brasil", disse Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da corretora Coinvalores CCVM, por telefone, de São Paulo. "É muito provável que surjam mais problemas no BNDES".

O banco não deveria ter realizado os empréstimos porque eles vêm de um fundo dos trabalhadores, segundo Marinus Marsico, o procurador federal que comandou o inquérito de nove meses cujo foco era o BNDES, cuja sede fica no Rio de Janeiro.

'Benefícios sociais'

"Estamos questionando os benefícios sociais reais desses empréstimos", disse ele em entrevista. "Se o objetivo do BNDES é promover o desenvolvimento nacional, por que o banco está destinando seus recursos escassos para algumas empresas privadas no exterior?".

Marsico está pedindo que o Tribunal de Contas da União, o TCU, órgão responsável por supervisionar os gastos do governo, paralise os empréstimos do BNDES para serviços de engenharia no exterior para que os procuradores aprofundem as investigações.

O BNDES preferiu não comentar as alegações e o desempenho de seus bonds.

Em um comunicado enviado por e-mail na terça-feira, o BNDES disse que não havia sido notificado a respeito da descoberta das perdas estimadas de US$ 2 bilhões feita pelo procurador e que os empréstimos estão de acordo com a legislação brasileira e com requisitos técnicos.

A Odebrecht SA, cujo presidente foi indiciado na semana passada como parte da investigação na Petrobras, foi uma das empresas que receberam os empréstimos usados para financiar projetos no exterior.

A Odebrecht negou qualquer irregularidade e preferiu não comentar os questionamentos do procurador aos empréstimos que a empresa recebeu do BNDES.

Yields sobem

Os yields (rendimentos) sobre as notas do BNDES para 2023 deram um salto de 0,65 ponto porcentual na semana passada, para 6,04%, maior patamar em quatro meses, segundo dados compilados pela Bloomberg. A alta foi equivalente a 16 vezes o incremento médio para bonds de bancos de mercados emergentes.

"Os investidores estão ficando cada vez mais acostumados aos escândalos saindo do Brasil", disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC, por e-mail. "A lista está se ampliando e o BNDES definitivamente está se tornando mais uma fonte de preocupações".

Investidores começam a se preparar para mais apurações, pois a Câmara dos Deputados iniciou uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar os empréstimos do BNDES, em 17 de julho, segundo informou a Agência Câmara. O Ministério Público Federal em Brasília também abriu uma investigação sobre possível tráfico de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionado a empréstimos do BNDES à Odebrecht no exterior.

O BNDES há tempos fornece financiamento a empresas brasileiras que buscam se expandir no exterior, e inclusive possui participações em várias delas. O banco tradicionalmente empresta a uma taxa de juros subsidiada que hoje está em 6,5%, bastante abaixo da taxa básica de juros do país, de 13,75%.

"Está se tornando cada vez mais claro, agora, que faltou critério ao banco em algumas de suas concessões", disse Sérgio Lazzarini, professor da Faculdade de Negócios Insper, de São Paulo, e coautor de um livro sobre o BNDES, por telefone, de São Paulo. "Muitas grandes empresas acabaram tomando empréstimos a taxas que eram baixas demais".