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Bancos apertam crédito à Odebrecht e dívida de R$ 110 bi assusta

Cristiane Lucchesi, Filipe Pacheco e Francisco Marcelino

10/06/2016 17h48

(Bloomberg) -- Quando a Odebrecht tentou levantar recursos na virada da década para um empreendimento do setor de petróleo e gás, um alto executivo do mundo do mercado financeiro local disse que o projeto seria abraçado por qualquer banqueiro digno desse nome. Hoje, a resposta que a empresa recebe cada vez que procura financiamento é quase sempre a mesma: não vai dar.

Conversas com seis executivos de bancos com conhecimento direto da situação do grupo Odebrecht, com R$ 110 bilhões em dívida, mostram um quadro no qual a empresa está incapacitada de concorrer a novos projetos e tem dificuldade ao tentar levantar financiamentos para os projetos que já estão no pipeline. Credores têm tentado sair de empréstimos que haviam sido acertados, recusam novos pedidos de financiamento e exigem mais garantias para rolar ou reestruturar dívidas antigas, segundo os banqueiros, que pediram anonimato porque o assunto é confidencial.

E os títulos de dívida daquele empreendimento de petróleo e gás? A unidade não honrou o pagamento de um cupom de US$ 9,6 milhões em março e os títulos estão sendo negociados a cerca de 8 centavos de dólar.

Trata-se de uma dura guinada para uma empresa que era vista como um dos riscos de crédito mais seguros do Brasil e ilustra o preço que as empresas pagam por terem sido arrastadas no mesmo escândalo de corrupção que ajudou a afastar a presidente Dilma Rousseff. Marcelo Odebrecht, ex-presidente do conglomerado e acionista controlador, cumpre pena de 19 anos de prisão sob a acusação de conluio com outras empreiteiras para pagar propinas em troca de lucrativos contratos de obras públicas.

"Os bancos costumavam ver a Odebrecht como o melhor tipo de cliente. Hoje citam a empresa falando: 'vamos administrar esse problema'", disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa do Andbanc Brokerage em Miami, que costumava recomendar as notas do grupo Odebrecht a seus clientes. "No fim das contas, o maior problema para uma empresa como a Odebrecht é o dano à imagem que a situação lhe traz".

A principal preocupação dos credores é que a falta de pagamento em algumas unidades ou na holding seja contagiosa, derrubando outras empresas ou todo o grupo, disseram as pessoas. Uma multa de R$ 7,3 bilhões sugerida pelo Ministério Público Federal em março aumentou a preocupação com as dificuldades de caixa, e os departamentos de compliance dos bancos proíbem empréstimos a empresas que possam estar envolvidas em corrupção, disseram as pessoas.

A Odebrecht não é a única empresa no Brasil que está enfrentando um aperto do crédito e se preparou para a situação, disse o grupo em uma resposta a perguntas enviada por e-mail. A empresa tem priorizado a liquidez e está com posição de caixa de R$ 25,7 bilhões, disse.

"Em momentos de crise, como este que o Brasil está enfrentando, é muito comum a solicitação de reforço de garantias no alongamento das dívidas", disse a empresa, acrescentando que a maior parte do endividamento do grupo é na modalidade project finance, onde o credor avalia e financia o projeto, que tem seu caixa segregado e atrelado ao repagamento desta dívida, não podendo ser utilizado para nenhum outro fim.

A empresa preferiu não comentar sobre a investigação de corrupção.

A favor da Odebrecht está o fato de que a maior parte de sua dívida não vencerá em breve e há especulações de que seu ex-presidente, Marcelo Odebrecht, começou negociações para um acordo de leniência com as autoridades, disse Gribel do Andbanc.

A Odebrecht se recusou a comentar sobre a possibilidade de um acordo de leniência.