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Expansão do Snap incomoda vizinhos em Venice, Los Angeles

Sarah Frier

23/02/2017 13h07

(Bloomberg) -- Em novembro, uma colônia de abelhas desapareceu de uma árvore em Venice, bairro de Los Angeles. Os olhos dos nós da madeira ao redor da colmeia, perto do cruzamento entre Cabrillo e Westminster, a cerca de cinco quarteirões do mar, haviam sido fechados com cimento. Moradores da histórica região litorânea não demoraram a descobrir que o Snap, que aluga um edifício nas redondezas, foi responsável pela remoção das abelhas. O ato parecia confirmar as piores suspeitas sobre o vizinho corporativo: trata-se de gente ruim.

Bryan Brogers, cujo prédio recebe sombra da árvore, quebrou o cimento para avaliar o dano dentro. "O favo de mel está todo preto agora e não há nenhuma abelha", escreveu ele no fórum comunitário Nextdoor. "Tenho certeza de que mataram a abelha rainha." A publicação gerou um coro de 249 respostas, em sua maioria, indignadas. Em pouco tempo surgiram cartazes: "SNAPCHAT: ASSASSINOS DE ABELHAS" e "TODAS AS ABELHAS SÃO IMPORTANTES".

Pouca gente mudou de ideia quando o Snap informou a um site de notícias local, Yo! Venice, que havia contratado um biólogo para transladar a colônia de forma ecológica. Por que não se tratava apenas das abelhas.

Desde que se mudou para Venice, o Snap, proprietário do aplicativo de fotos efêmeras Snapchat, vem se expandindo. Nessa trajetória, o Snap ? uma empresa sigilosa, até mesmo reservada ? deixou de fora uma comunidade que se orgulha de ter uma sensibilidade peculiar apesar da antiga proximidade com ricos e celebridades.

O incidente das abelhas "é uma metáfora perfeita do que o Snapchat está fazendo em Venice", publicou uma pessoa no Nextdoor. "Mais uma vez o Snapchat passou da conta", disse outra, cansada de caminhar pelas calçadas familiares sendo observada pelos guardas de segurança do Snap que patrulham com chapéus de polícia florestal. Agora, com o Snap prestes a abrir seu capital, alguns moradores temem que os fundadores e funcionários da companhia, de repente ricos, inundem Venice, como o que aconteceu a 610 quilômetros ao norte na região da baía de São Francisco.

Procurado, o Snap não quis comentar alegando estar no período de silêncio que precede o IPO.

O Snap escolheu Venice porque os fundadores Evan Spiegel e Bobby Murphy se sentiam atraídos pela comunidade eclética, com suas esculturas de areia, sua orla repleta de skatistas e seus rastafáris. "Sempre foi nosso sonho ter um escritório na praia", explica Spiegel com um ar de nostalgia aos três minutos do vídeo de apresentação do Snap para investidores do IPO. O vídeo foi filmado em uma pequena casa azul, bem na orla, cercada por vendedores de camisetas e pintores de pedaços de madeira, onde o Snap se estabeleceu quando tinha apenas oito funcionários. "Achávamos que era bastante grande para o que precisávamos na época", acrescenta Murphy enquanto a câmera se dirige a fotografias emolduradas da equipe inicial. "Em poucos meses, enchemos esse lugar com 20, 30 pessoas."

Agora, a empresa tem mais de 1.000 funcionários, e Venice está tendo dificuldade para dar conta deles. O bairro é um emaranhado de ruelas com residências unifamiliares, conectado por canais artificiais e onde poucos edifícios têm mais de quatro andares. Não há espaço para um campus corporativo. Como resultado, o Snap vem alugando e comprando pequenos edifícios por toda a região e nos pontos mais turísticos da praia, criando o que o Hollywood Reporter chamou de "arquipélago" corporativo. Hoje em dia, os moradores de Venice encontram rotineiramente grupos de engenheiros do Snap com crachás de segurança afivelados na calça, carregando marmitas de comida comprada em cafeterias privadas, em edifícios não identificados e com todas as persianas fechadas, o que incita o mistério e a paranoia sobre o que ocorre lá dentro.