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Xiaomi quer ser mais como varejista barata do que como Apple

Saritha Rai

05/04/2017 13h49

(Bloomberg) -- A Xiaomi afirma que é incompreendida. Comparada com a Apple por seus smartphones elegantes e por seus líderes carismáticos, a startup chinesa quer mudar sua imagem enquanto tenta se recuperar de uma queda no crescimento das vendas.

E um de seus fundadores, o bilionário Lei Jun, quer que sua empresa seja comparada com a Costco Wholesale, varejista com sede em Issaquah, Washington, que vende de tudo, de vinhos a anéis de diamantes, passando por caixas enormes de cereal e frutas, a preços baratíssimos. A receita da Xiaomi provavelmente atingirá US$ 15 bilhões neste ano porque a fabricante de produtos tão variados quanto canetas, purificadores de ar, TVs e smartphones, que tem sede em Pequim, adotará um novo modelo de negócios e ajustará as operações, disse Lei, 47, em uma entrevista recente.

"Não somos a Apple", disse Lei, de camisa polo preta e calça jeans azul, no escritório da Xiaomi em Bengaluru, Índia, o maior mercado da empresa no exterior. "Temos o mesmo sistema de valores que a Costco. Queremos que os usuários desfrutem de produtos melhores com preços acessíveis."

A Apple cobra preços premium e tem as margens mais altas do brutalmente competitivo setor global de smartphones, de US$ 425 bilhões, e a Costco vende produtos com lucros mínimos e alimenta os resultados com seus 35 milhões de membros anuais. Enquanto a Xiaomi adota una nova estratégia para estimular o crescimento, a meta de Lei é aumentar a receita de aplicativos e serviços, que geraram US$ 1 bilhão em vendas com mais de 10 milhões de usuários mensais ativos no ano passado.

Vendas

Na China, a Xiaomi representa apenas um décimo das vendas de smartphones, estima Lei, o que abre oportunidades maiores para a abordagem tradicional com lojas físicas. Lei pretende abrir 1.000 lojas de varejo MiHome e superar US$ 10 bilhões em vendas anuais daqui a três anos, disse ele.

As lojas MiHome oferecerão apenas duas dúzias de produtos da Xiaomi, segundo Lei. Ele aponta para uma fila de canetas que custam US$ 1 cada, dois tipos de purificadores de ar e três tipos de smartphones, e diz que não planeja vender mais de 100 tipos de produtos nos próximos anos, em vez das centenas, ou até mesmo milhares de unidades com estoque oferecidas por alguns fabricantes.

Não há pressões sobre o fluxo de caixa nem necessidade de captar recursos, disse ele, e acrescentou: "Temos mais que suficiente dinheiro". Lei não quis comentar se a Xiaomi tem algum plano imediato de abrir o capital. Hoje, ele está concentrado na Índia, inclusive na possibilidade de abrir lojas físicas no país com a maior população jovem do mundo.

A Xiaomi planeja construir uma terceira fábrica na Índia, onde Lei diz estar pronto para assumir mais riscos, como dobrar os investimentos para US$ 1 bilhão nos próximos anos.

"Fico pensando em como aperfeiçoar meus produtos", diz Lei, segurando um celular com um revestimento metálico cor azul clara. "Por exemplo, como é que os indianos não gostam deste celular 'azul Tiffany'?"

Essa é só uma das muitas coisas que deixam Lei perplexo com o mercado indiano. Mas ele está determinado a desvendá-lo: "É isso que não me deixa dormir".