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Livro desvenda "efeitos colaterais" da carne barata

07/10/2015 06h14

Belém Delgado.

Roma, 7 out (EFE).- Por trás do consumo de carne barata, esconde-se um sistema que, ao invés de alimentar a toda a população, procura satisfazer o apetite de poucos, embora a conta social e ambiental seja muito mais alta, segundo o ativista Philip Lymbery.

Para sustentar tal afirmação, Lymbery, diretor-executivo da ONG Compaixão na Agricultura e Pecuária Mundial (CIWF, na sigla em inglês), percorreu diferentes partes do planeta onde viu "coisas muito deprimentes" que o levaram a escrever o livro "Farmageddon: The True Cost of Cheap Meat" ("Farmageddon: o verdadeiro custo da carne barata", em tradução livre).

Em entrevista à Agência Efe durante uma visita à Itália, este inglês defensor dos animais disse se sentir surpreso por ter visto "a extensão de um novo colonialismo" no qual certos países são "saqueados" e seus recursos destinados a alimentar animais em outras regiões como a União Europeia (UE).

O livro tenta mostrar a realidade que se esconde por trás de um sistema produtivo que permite aos consumidores comprar, por exemplo, um frango por menos de 3 euros.

Além disso, ele revela que, no fundo, os países não são tão diferentes uns dos outros, comparando a redução de pardais por efeito da agricultura intensiva no Reino Unido com a guerra que Mao Tsé-Tung lançou na China contra esses pássaros, pensando que comiam grãos demais, o que no final só serviu para abrir as portas a uma devastadora praga de insetos.

Na Argentina o autor visitou o pampa, mundialmente conhecido pela qualidade de sua carne, mas o que encontrou foram imensos campos de soja para vender às fábricas europeias, enquanto o gado tinha sido recluso em fazendas produzindo carne "menos saborosa".

Lymbery viajou também ao Peru, onde vinculou a preocupante diminuição de aves com o aumento da pesca, sobretudo de anchoveta, uma espécie básica na elaboração de farinha e óleo de peixe, e da qual o país sul-americano é um dos principais exportadores.

"Na China vi que proliferaram grandes fazendas industriais que pareciam cidades, com tantas fileiras de edifícios. Têm milhares de vacas e porcos, mas não para alimentar aos pobres, mas para as pessoas das cidades e para exportar", garantiu.

E nos Estados Unidos encontrou fortes contrastes: desde uma fazenda na Geórgia na qual a produção de gado seguia um modelo sustentável com o meio ambiente até zonas agroindustriais da Califórnia altamente poluídas e onde as pessoas sofriam doenças respiratórias e invasões de moscas, entre outros problemas.

Lymbery destacou que a carne barata na realidade "não é tão barata assim", porque se paga várias vezes por ela.

"Pagamos quando compramos no supermercado e quando subsidiamos a agricultura industrial com grandes quantias de dinheiro arrecadado em impostos, sem esquecer o custo que tem para nossa saúde comer alimentos menos nutritivos e o dano ambiental que causa o uso de produtos químicos", detalhou.

Segundo sua opinião, os consumidores "têm uma oportunidade três vezes ao dia" para mudar essa situação escolhendo alimentos orgânicos e de qualidade.

Lymbery também disse que é responsabilidade dos governos promover sistemas para alimentar as pessoas e mudar uma política global em agricultura que se desenvolveu a partir da americana e da europeia.

Com esse propósito, ele dirige uma ONG que lança campanhas a favor do bem-estar animal e promove práticas como não enjaular os animais ou encurtar o tempo de seu transporte para evitar que sofram.

"Até agora a política agrícola teve foco em produzir mais alimentos para a agroindústria, que necessita mais do que depois produz", comentou Lymbery.

O problema - acrescentou - não está na produção de alimentos, já suficiente para alimentar a população mundial, mas no fato de que um terço da comida do mundo se perde ou acaba no lixo ao invés de terminar no prato das pessoas que seguem passando fome.