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Google inspira pequena empresa a criar um dos melhores lugares para trabalhar

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

18/06/2012 06h00

Diego Torres Martins, 27 anos, é o retrato fiel da geração Y, de jovens nascidos a partir da década de 1980. Aos 22, ele já havia passado por três empregos e se frustrava com o ambiente corporativo e com as relações estabelecidas no trabalho, que considerava artificiais.

Após uma visita ao Google, na Califórnia (EUA), que é reconhecida em inovação também por suas políticas de gestão de pessoas, viu que era possível existir um ambiente de trabalho descontraído e, ao mesmo tempo, produtivo. E colocou isso como meta para a empresa que estava fundando, a Acesso Digital.

O bem-estar dos funcionários dentro e fora do ambiente corporativo virou prioridade nos recursos humanos da empresa de digitalização de arquivos de Torres. Fundada em 2007, a Acesso Digital já ocupa o 13º lugar no ranking de Melhores Empresas para Trabalhar da América Latina, elaborado pelo Great Place to Work, entidade global de pesquisa, consultoria e treinamento. A empresa também foi eleita a 8ª PME (Pequena e Média Empresa) que mais cresce no Brasil pela consultoria Deloitte.

Benefícios vão além do financeiro

Segundo Martins, o objetivo é impactar as pessoas em diversas áreas de suas vidas para motivá-las e promover felicidade no trabalho. “Se o funcionário sente que a empresa quer transformar a sua vida em algo melhor, ele vai valorizar o trabalho e entregar mais do que entregaria normalmente”, afirma.

Para estimular isso, foram desenvolvidos 17 programas dirigidos aos 102 funcionários, independentemente de seu cargo ou função.

Entre os benefícios, estão manicure semanal para mulheres, corridas de kart para os homens, orientação nutricional e atividade física orientada, café da manhã, sala de lazer com videogame e cinemateca, esporte radical para cinco colaboradores sorteados a cada dois meses, curso de inglês e intercâmbio de um mês para três colaboradores por semestre.

Tudo é pago pela empresa e Torres diz que o gasto não passa de 2% do faturamento. “O retorno é muito positivo e não depende da área de atuação ou de quanto dinheiro a empresa tem. Basta ter criatividade”, declara.

Metas agressivas ajudam a manter concentração de funcionários 

Reter talentos é um dos maiores desafios das empresas, especialmente para as pequenas. O fundador da Acesso Digital diz que não paga os melhores salários do mercado e, ainda assim, só perdeu quatro funcionários nos cinco anos de existência da empresa.

“As pessoas gostam de liberdade. Esses benefícios geram um nível de fidelização diferente dos funcionários, mesmo os da geração Y”, diz. A média de idade da equipe é 28 anos.

No entanto, para que as pessoas não se dispersem do trabalho para jogar videogame qualquer hora do expediente, a cobrança por resultados é constante. Cada colaborador possui metas individuais e, se não atingi-las durante três meses consecutivos, é desligado da empresa.

“Os funcionários novos ficam deslumbrados no início, mas logo percebem que as metas são coisa séria. Ao mesmo tempo em que têm liberdade e autonomia, as pessoas são responsáveis por seus resultados, portanto, não adianta culpar outra área ou o cliente por não bater a meta”, explica Martins.

Entre os exemplos de metas agressivas estão as maratonas semestrais para dobrar o faturamento da empresa. Se o resultado for positivo, a empresa inteira, do presidente às copeiras, ganha uma semana com tudo pago nos Estados Unidos. Em 2011, todos foram para Las Vegas e, no início deste ano, para Miami.

Nem todos se adaptam à liberdade no trabalho, diz consultor

Esses resultados são possíveis, na opinião de Torres, porque a Acesso Digital tem um plano de negócios bem estruturado, com um produto que tem ganho de escala, pessoas motivadas e controla seus resultados por meio de metas. 

O consultor Luis López Cortés, diretor da Action Coach, especializada em reestruturação de pequenas empresas, afirma, porém, que nem todo mundo gosta de trabalhar com tanta liberdade ou sob pressão intensa.

“Pessoas acima dos 45 anos estão condicionadas a uma forma de trabalho diferente e podem não se adaptar. Da mesma maneira, é mais fácil criar uma empresa nesses moldes do zero, do que mudar a gestão de uma já existente”, diz.

Cortés diz que esse modelo de gestão faz sucesso quando a empresa tem objetivos bem definidos. “É importante ter um posicionamento claro de missão, visão e valores. Dessa forma, é possível contratar pessoas que se enquadrem na cultura e perfil da empresa e que darão os resultados esperados”, declara.