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Crise política em Portugal pode afetar economia; entenda

Do UOL, em São Paulo

03/07/2013 15h31

A saída de ministros do governo gerou instabilidade política em Portugal, o que pode afetar a credibilidade econômica do país e dificultar sua recuperação econômica. 

Sob o comando de uma coalizão conservadora, Portugal adotou uma série de impopulares medidas anticrise, incluindo cortes de gastos públicos e aumento de impostos, em troca de um pacote de resgate da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, é do Partido Social Democrata (PSD). Ele atualmente governa com maioria no poder legislativo (Assembleia da República) graças a uma coalizão com outros partidos de direita, como o Partido Popular (CDS-PP).

Caso perca essa maioria, o governo deve ter dificuldades para aprovar decisões e manter-se no comando do país. Pode haver necessidade de se convocar novas eleições. 

Renúncia de ministros

Na segunda-feira, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, mentor dos cortes de gastos e aumentos tributários exigidos pelos credores, renunciou alegando perda de apoio ao resgate. Ele atuava sem filiação partidária, mas era considerado o membro mais poderoso do governo conservador, e foi substituído por Maria Luís Albuquerque, que era secretária de Estado do Tesouro.

Na terça, o ministro de Relações Exteriores de Portugal e líder do Partido Popular, Paulo Portas, renunciou ao cargo de chanceler. O primeiro-ministro disse não ter aceitado a renúncia de Portas e que continuará comandando o governo para garantir a estabilidade política.

A decisão do premiê de rejeitar a renúncia do seu chanceler deixa sobre Portas a responsabilidade pela sobrevivência do governo. Se Portas retirar seu partido da coalizão, o governo ficará sem maioria.

A mídia local em Portugal disse que mais dois ministros do governo estavam se preparando para apresentar suas demissões nesta quarta-feira (3): a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e o ministro de Previdência Social, Pedro Mota Soares, ambos do CDS-PP.

“Vemos eleições antecipadas como o resultado mais provável a esta altura, embora não possamos descartar completamente o apoio de alguns parlamentares do CDS e a continuidade do governo”, disse, em nota, o economista António Garcia Pascual, do Barclay’s, atribuindo a renúncia de Portas à crescente impopularidade da coalizão governista.

O Partido Socialista, de centro-esquerda e principal voz da oposição ao governo, lidera as pesquisas, mas sem a perspectiva de formar maioria parlamentar. Por isso, após eventuais eleições, os socialistas precisariam formar uma coalizão com o CDS. 

Crise política gera instabilidade na economia

Portugal está submetido a rigorosas restrições econômicas impostas por um resgate da União Europeia e do FMI, segundo o acordo firmado em 2011. O país tinha a esperança de voltar aos mercados normais de títulos públicos, mas a continuidade das medidas anticrise agora coloca isso em dúvida.

Sem solução iminente, ações e rendimentos de títulos portugueses despencavam. O juro pago a investidores pelo título da dívida com vencimento em dez anos, nesta quarta (3), superou 8,1% pela primeira vez desde novembro.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, afirmou que Portugal tem que agir rapidamente para reconquistar sua estabilidade política ou corre o risco de prejudicar a recuperação econômica. 

"A reação inicial dos mercados mostra o risco óbvio de que a credibilidade financeira recentemente construída por Portugal pode ser afetada pela atual instabilidade política", disse ele em comunicado.

(Com agências)