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Produtor gasta R$ 15 mi em mogno para fazer sombra e café mais caro

André Cabette Fábio

Do UOL, em São Paulo

17/07/2013 06h00

Agora, entre julho e agosto, o empresário Ricardo Ribeiro Tavares se prepara para colher 1.800 sacas de café em Capelinha, norte de Minas Gerais, em uma área de 60 hectares cultivada com também com mogno africano.

O café está crescendo sob a sombra dessas árvores nobres. A sombra reduz a produtividade, mas aumenta a qualidade e o lucro dos pés de café.

O mogno africano chegou ao país há 40 anos e sua madeira castanho-avermelhada é procurada pelas indústrias de móveis e da construção civil.

O presidente do grupo Montesanto Tavares, que atua na área de café, logística e transporte, tornou-se com essa dobradinha de cultivos o maior investidor comercial de mogno no país -R$15 milhões em um projeto com duração de 15 anos- para a extração de madeira, permitida por lei.

O mogno nativo teve seu corte proibido no passado em decorrência da exploração predatória.

Tavares afirma que o café colhido debaixo da sombra das árvores tem como destino certo as torrefadoras de Alemanha, Itália e Austrália. Segundo ele, 140 hectares com essas plantações simultâneas estão em fase de formação e outra área de 900 hectares é voltada a plantios exclusivos dessa árvore.

Ao adotar esse modelo que pode ser feito com árvores frutíferas, o empresário segue na contramão da maior parte do plantio do país instalado a céu aberto. Por meio do cultivo duplo, as lavouras têm custos de produção reduzidos já que ambas aproveitam a aplicação dos mesmos insumos, como o adubo.

O empresário planeja fazer o corte do mogno quando as árvores atingirem entre 12 e 16 anos (elas têm quatro anos agora) mas já antecipa os cálculos: o metro cúbico da madeira custa R$ 2.300 no exterior e um quilo de sementes varia de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil no Brasil.

"Planejamos produzir 322 metros cúbicos por hectare", diz. Há 30 anos, o plantio de mogno africano começou no Pará. Hoje, 80% das plantações do país estão concentradas no Estado mineiro, segundo a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.

Debaixo da sombra, produção de café é menor

O presidente da Montesanto Tavares diz não temer a diminuição comprovada da produtividade do café cultivado debaixo da sombra das árvores, uma prática comum na América Central.

Segundo ele, a menor incidência de sol que provoca essa queda faz, por outro lado, com que os grãos amadureçam lentamente dando origem a um fruto mais adocicado e de maior valor no mercado, superior entre 10% e 30% por saca (60 kg),  cotada em R$ 289, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Ao todo, o grupo mantém 4 mil hectares de café em Minas Gerais. A maior parte do cultivo é feito a céu aberto igual à maioria das plantações do país, que na safra passada (a 2012/13) alcançou 50,83 milhões de sacas (60 kg).

Conforme Gerson da Silva Giomo, diretor do Centro de Café do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o produtor precisa ter a garantia de preço vantajoso,já que vai conviver com uma queda na produtividade.

Segundo Giomo, as tentativas com cultivo de café sombreado no país (também conhecido como arborizado) remontam às décadas de 50 e 60. "Como a produção é mais baixa nesse sistema, os agricultores preferiram adotar os plantios expostos ao sol", diz.