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Revista põe Cristo Redentor caindo na capa e critica economia do Brasil

Do UOL, Em São Paulo

26/09/2013 10h52Atualizada em 26/09/2013 13h50

A revista britânica "The Economist" voltou a estampar o Brasil na capa de sua edição para a América Latina e a Ásia. Com uma manipulação digital que mostra o Cristo Redentor afundando após um voo, a revista questiona: “Será que o Brasil estragou tudo?”. A capa é uma referência da mesma revista, que, em 2009, mostrou o Cristo decolando como um foguete.

  • Capa da revista "The Economist" que será publicada nesta semana

  • Capa da mesma revista em matéria de novembro de 2009

"Uma economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa significam que Dilma Rousseff deve mudar o rumo", afirma a reportagem especial sobre o país.

A revista cita os protestos de junho, e se pergunta se a presidente Dilma Rousseff vai conseguir recolocar o país nos eixos. Além disso, pergunta se a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vão ajudar a recuperação do Brasil ou simplesmente trazer mais dívidas.

'Voo de galinha'

A revista relembra o cenário otimista há quatro anos: a economia tinha se estabilizado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990, e acelerado no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no começo dos anos 2000; sentiu pouco o colapso do banco Lehman Brothers, em 2008; cresceu 7,5% em 2010; foi escolhida como sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas; e Lula ainda conseguiu eleger Dilma Rousseff como sua sucessora.

"Desde então, o país tropeçou e voltou à realidade", diz. A reportagem cita o crescimento de 0,9% em 2012 e as manifestações que encheram as ruas do país em junho contra os altos custos de vida, a precariedade dos serviços públicos e a corrupção política.

"Muitos agora perderam a esperança de que seu país estava fadado ao sucesso e concluíram que foi apenas outro voo de galinha", afirma a revista, usando a expressão em português.

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Investimentos em infraestrutura 'pequenos como biquíni fio-dental'

A revista afirma que muitas das políticas do ex-presidente Lula -"notavelmente o Bolsa Família"- são admiráveis. "Porém, o Brasil fez muito pouco para melhorar seu governo nos anos de crescimento."

A chance perdida não é exclusividade brasileira; aconteceu também com a Índia, segundo a reportagem.

No caso do Brasil, é pior, diz a "Economist", porque a carga tributária é muito alta e pesa demais sobre as empresas, enquanto o governo "tem seus gastos prioritários de cabeça para baixo".

Outro complicador, segundo a revista, é que, apesar de ser um país jovem, gasta demais com aposentadorias, e de menos com infraestrutura. "(...) apesar das dimensões continentais do país e péssimas conexões de transporte, os investimentos em infraestrutura são tão pequenos como um biquíni fio-dental", diz.

'Dilma interfere mais que pragmático Lula'

A revista faz, ainda, duras críticas à atuação da presidente Dilma Rousseff em relação a interferências do governo em assuntos privados. Segundo a revista, a atuação de Dilma teria afastado investidores dos projetos de infraestrutura.

"Esses problemas vêm se acumulando há gerações. Mas Rousseff não quis ou não conseguiu combatê-los, e criou novos problemas ao interferir muito mais do que o pragmático Lula."

Em vez de assumir indicadores desfavoráveis, afirma a "Economist", o governo lançou mão de "contabilidade criativa" e a dívida pública avançou para entre 60% e 70% do PIB. "Os mercados não confiam em Rousseff", diz.

Luz no fim do túnel?

Segundo a revista, a solução para o país inclui, primeiramente, "redescobrir o apetite por reformas" e reestruturar os gastos públicos, especialmente com aposentadorias. Em segundo lugar, tornar os negócios brasileiros mais competitivos e encorajar investimentos, abrindo o mercado e expondo as empresas à competição mundial.

Em terceiro lugar, precisa urgente de uma reforma política, diz a revista, citando a multiplicação de partidos e os 39 Ministérios do governo.

"O Brasil não está condenado ao fracasso: se Rousseff colocar a mão no acelerador, ainda há uma chance de decolar novamente", diz a "Economist".

Brasil já foi o "queridinho" dos investidores

Em 2009, a mesma revista publicou uma capa especial sobre o Brasil. A imagem do Cristo Redentor voando simbolizou um momento de amadurecimento da economia do país.

A revista "The Economist" disse na época que o Brasil era "a maior história de sucesso na América Latina".

A revista afirmava que o país deixava de ser uma promessa e começava a dar resultados, mas advertia que um dos riscos era  o excesso de confiança.

Em 2009, a "Economist" citou as descobertas de petróleo no pré-sal (águas profundas no litoral) e as exportações para países asiáticos como elementos que iriam estimular ainda mais o crescimento da economia brasileira nos próximos anos.

A previsão era que o Brasil seria a 5ª maior economia do mundo em 2015.