Mercados suspendem venda de carne suspeita, mas geladeiras continuam cheias
Epicentro da Operação Carne Fraca, com a maior parte dos frigoríficos investigados localizados no Paraná, o Estado já sente os efeitos das denúncias. Algumas redes de supermercados decidiram suspender a venda de carnes suspeitas e evitar expor produtos, como medida preventiva. No entanto, o abastecimento das lojas segue rotina normal, ao menos em lojas da capital paranaense, com as prateleiras repletas de opções.
O Grupo Muffato, que conta com estabelecimentos em 14 cidades paranaenses –entre elas, Curitiba, Londrina, Cascavel e Paranaguá–, informa que alguns produtos foram tirados definitivamente da área de vendas, "como é o caso daqueles fornecidos pelo Frigorífico Peccin", explica a rede, por meio de nota.
Segundo a rede, outros produtos de outros fornecedores também foram retirados preventivamente de exposição “até que os fatos sejam devidamente esclarecidos”.
O Grupo GPA, que responde pelas lojas das bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Assaí em todo o país, também se pronunciou por nota, informando que "suspendeu a compra das três unidades industriais interditadas".
Já o Carrefour informou que, assim que tomou conhecimento das investigações, "exigiu esclarecimentos dos fabricantes envolvidos nas denúncias e retirou preventivamente das suas lojas os produtos vindos dos frigoríficos citados". Esse procedimento se refere às unidades frigoríficas investigadas e não às marcas como um todo.
Os três frigoríficos interditados pertencem às empresas BRF (dona de marcas como Sadia e Perdigão) e Peccin. Na unidade da BRF de Mineiros (GO) é feito o abate de frangos. Já nas plantas de Peccin em Jaraguá do Sul e em Curitiba (PR) são produzidos embutidos (mortadela e salsicha).
Rotina normal
Apesar das redes informarem que retiraram produtos suspeitos de suas gôndolas, nas lojas o abastecimento de carnes parece seguir uma rotina normal. A reportagem do UOL visitou supermercados em Curitiba e em São Paulo nesta quarta-feira (22) e percebeu movimento normal e prateleiras cheias.
Em um dos estabelecimentos de Curitiba, o reabastecimento das carnes era feito no momento da visita, incluindo produtos de origem bovina de grandes marcas citadas na investigação da Polícia Federal. Em outro supermercado, havia uma funcionária analisando as carnes in natura (fresca) à disposição dos consumidores.
Entre os clientes consultados, a maioria afirma que não vai deixar de comer carnes.
"Não dá para termos uma histeria coletiva em relação a isso, até porque, pelo que se sabe, a fiscalização é bem feita na maioria dos casos. Vou seguir comprando a carne in natura, mas pretendo reduzir o consumo de embutidos", disse a fonoaudióloga Lyvia Padilha, 50.
O aposentado Yoshaihiko Saito, 71, afirma que compra apenas as suas marcas prediletas –que não apareceram na investigação. "Não dá para ficar sem carne, então verifico sempre a aparência e o vencimento", diz.
A opinião é semelhante à da dona de casa Carla Pimentel, 55. "Chego em casa e observo a cor, o cheiro e a aparência. Se tiver algum problema, reclamo. Com os embutidos, não há como fazer isso", diz.
Há até quem já pense em mudar hábitos, deixando de comprar carnes em supermercados, escolhendo os chamados "açougues de bairro". "Eu já evitava comer embutidos, e agora ainda mais. Normalmente, só compro carne em açougues menores e, a partir de agora, vou levar isso ainda mais em conta", disse a aposentada Hercilia Silva, 60.
São Paulo
Em São Paulo, a situação encontrada nos mercados é bastante similar. O UOL visitou dois supermercados na zona oeste da capital e o abastecimento de carne estava normal, inclusive de produtos da JBS e BRF, que são investigadas na operação. Já os clientes estão atentos ao que compram.
O administrador Fábio Monteiro, 34, já era cauteloso com os produtos que costuma comprar, e não relaxou os cuidados. "Eu não como carnes embutidas e processadas, porque já desconfiava". Monteiro diz que normalmente compra peças ou carne em bandejas e sempre olha a cor e a validade antes de levá-las para casa. "Continuo fazendo isso. Não mudou a rotina".
A instrumentadora cirúrgica Simone Correia disse que vai mudar os hábitos. "Acho que vou diminuir o consumo de carne e comprar mais peixe para ver se é melhor".
A antiquária Luzia Martins Sobral, 74, decidiu comprar carne mesmo sabendo das investigações da Operação Carne Fraca. "Comprei uma carninha. Achei bonita essa bandeja e, agora, vou testar. Se eu achar que não está boa, só perdi R$ 7. Esse negócio de se é bom ou ruim só dá para saber comendo".
Carne in natura
Em nota, o Grupo Muffato, que atua no Paraná e em São Paulo, revela que, há alguns anos, tem notado a preferência do consumidor pela compra de carnes in natura. “Temos investido mais e mais na oferta de carnes frescas e desossadas em nossos açougues, o que tem minimizado os efeitos da Operação Carne Fraca nas vendas”, ressalta a rede.
De acordo com o GPA, "todos os lotes de produtos [in natura] de fornecedores recebidos em suas centrais de distribuição passam por processos internos próprios de auditoria, por amostragem, conforme orientam as normas da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas], com testes para controle de qualidade". "Qualquer tipo de irregularidade, se identificada, resulta na devolução imediata do lote ao fornecedor em questão".
A empresa afirma ainda que cumpre a legislação vigente e que "todos os itens de origem animal processados comercializados nas lojas possuem certificações". Para os produtos in natura, o grupo informou que os produtos de fornecedores passam por processos internos de auditoria.
O Carrefour diz que "adota rigoroso controle para seleção e monitoramento de fornecedores" e exige o cumprimento das normas regulatórias em vigor.
A Rede Condor, com lojas em Curitiba e no interior do Paraná, não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta matéria. A reportagem também tentou contato com o Frigorífico Peccin, mas não teve sucesso.
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