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Pagar conta e taxa em fintech baixará custo a cliente, dizem profissionais

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Imagem: Getty Images

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

27/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • BC quer mais plataformas digitais oferecendo serviços de pagamentos a clientes
  • Modelo atual beneficia grandes bancos que têm convênios com governos e concessionárias
  • As mudanças ampliam concorrência, reduzem custos a clientes e dão opções mais facilitadas e cômodas de pagamento

Os bancos digitais e as fintechs vão ganhar espaço na oferta de serviços de pagamento de contas de consumo e de impostos ao longo deste ano, afirmam profissionais do mercado. Isso aumenta concorrência, reduz custos para o cliente final e dá opções mais facilitadas e cômodas de pagamento. Essa é a expectativa depois de o governo lançar as primeiras medidas para desmontar a concentração dessas transações nos grandes bancos.

Da forma como é hoje, os governos -federal, estaduais e municipais- possuem acordos apenas com grandes bancos para recolhimento de guias e impostos. Da mesma forma, concessionárias de serviços públicos (energia elétrica, gás, água e telefonia) montaram seus sistemas de recebimento em acordos apenas com instituições bancárias com redes.

Assim, foi criado um gargalo, que obriga os consumidores a passarem pelos bancos na hora de quitar gastos de consumo, impostos e taxas. Atualmente até existem bancos digitais e fintechs que oferecem esse tipo de serviço. Mas na hora de liquidar a operação, já na reta final do processo, essas empresas também têm que passar pela instituição bancária, pagando por isso.

Bancos grandes ficam no meio

Isso porque os bancos cobram para oferecer esse serviço. Segundo dados dos balanços mais recentes das instituições bancárias, as cobranças de boletos federais e de consumo proporcionaram aos cinco maiores bancos do país receita de quase R$ 9 bilhões apenas de janeiro a setembro de 2019.

Na semana passada, o ministério da Economia autorizou o pagamento de todos os impostos e taxas federais por meio das fintechs, ampliando o leque das empresas que podem oferecer esse serviço aos consumidores.

O Banco Central já avisou que vai seguir com essas mudanças, criando ainda neste ano regras que permitam às empresas financeiras digitais liquidar contas de consumo de seus clientes diretamente na Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), sem ter que deixar um pedágio em um grande banco.

Mais concorrência e menos custos

"Com mais empresas atuando, haverá maior concorrência, e, quando a disputa cresce, aumenta a possibilidade de redução de custos finais para o consumidor, que é quem paga a taxa", afirma o sócio controlador da JL Rodrigues, Carlos Átila & Consultores Associados, José Luiz Rodrigues, profissional com mais de 40 anos de atuação no mercado bancário.

Segundo ele, o mesmo movimento de redução de custos que ocorreu em segmentos como os de adquirência de cartões ou de gestão de gestão de fundos de investimento, vai se repetir em outras modalidades de serviços financeiros.

No mercado de cartões, por exemplo, a taxa de redesconto (MDR), caiu de 2,53%, há dez anos, para 1,86%, em 2019. No mercado de fundos de investimento, a taxa de administração média nos fundos de renda fixa, por exemplo, caiu de 3,65%, em 2010, para 1,93% em setembro de 2019 (dados públicos mais recentes) nas carteiras com aporte inicial de até R$ 1.000.

Liberdade para o usuário final

Para o diretor da ABFintech (Associação Brasileira de Fintechs), Diego Perez, o acesso direto das fintechs aos sistemas de pagamento de contas para governos e concessionárias de serviços públicos vai abrir o leque das empresas que podem recolher os tributos. "Isso vai dar liberdade ao usuário final para escolher a forma mais conveniente de quitar suas contas", afirmou o executivo.

A Febraban (Federação Brasileira de bancos) disse por meio de nota que está em discussão com o Banco Central um aperfeiçoamento do sistema de arrecadação de tributos e de faturas de concessionárias de serviços públicos. "A mudança faz parte do processo de melhoria e modernização do sistema de arrecadação", declarou a entidade que representa os bancos no país.

Tecnologias já estão prontas para facilitar

A diretora de Novos Negócios do PagSeguro PagBank, Marlei Silverio, disse que a medida do governo é positiva porque tira entraves que hoje impedem o maior acesso das fintechs a alguns serviços. "Já temos a tecnologia pronta para atuar nesse mercado, mas acabamos tendo que fazer parceria com um grande banco para ter acesso ao serviço", afirma Marlei.

Segundo a executiva, a possibilidade de as fintechs atuarem no segmento de pagamentos de tributos e de contas de consumo sem ter que passar pelos sistemas dos grandes bancos vai reduzir o custo da intermediação para o cliente final.

Clientes poderão parcelar contas

Os profissionais do setor destacam que, além da redução de custos, a entrada das fintechs nesse segmento vai permitir o lançamento de soluções que ampliem formas de pagamento de tributos, taxas e contas. "Podemos ter facilidades como parcelamento de contas e maior usabilidade, em que para fazer um pagamento a pessoa não tenha que ir até um site, imprimir boleto e procurar uma agência", disse a executiva do PagSeguro PagBank.

Segundo o sócio da Taki Pagamentos Diego Cuoco, o padrão hoje para quem tem um tributo ou conta de consumo para pagar é quitar a pendência à vista, como poucas opções de parcelamento, especialmente quando se trata de contas em atraso. O que pode representar um desafio financeiro nos casos de pendências mais elevadas."A concorrência leva também inovação a setores pouco eficientes", diz.

A fintech, que começou a operar em 2018, lançou a solução que conecta a plataforma dela aos sistemas de pagamento de vários governos e, dessa forma, passou a oferecer aos consumidores a possibilidade de parcelar pagamentos, como o do IPVA ou de impostos e contas de consumo atrasados. "A gente já tem a solução funcionando, mas na estrutura atual, em que há intermediários, caso dos bancos, temos custos que poderiam ser reduzidos", afirma Cuoco.

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