Sua marmita não está quentinha? Eles faturam com ideia simples e genial

A marmita (ou quentinha) é um hábito do trabalhador brasileiro: mesmo que a empresa forneça vale-refeição, a comida de casa ainda é a favorita de muitos. E os motivos são diversos: dieta, tempero e economia.

Nem todos os escritórios, porém, oferecem micro-ondas para seus funcionários esquentarem a comida. Outros até têm a estrutura, mas ela não dá conta da alta demanda do horário de almoço.

Depois de ver tanta gente almoçando na praça ou dentro de carros, Alessandra Oliveira, de 51 anos, teve uma ideia — tão boa quanto simples: ela transformou sua então bomboniere, que funcionava em sua casa, em um espaço para esquentar marmitas.

"Tinha um micro-ondas na minha loja e passou um rapaz perguntando se podia esquentar a marmita. Eu falei que podia, cobrei R$ 2, e com ele vieram mais cinco pessoas. O pessoal passava, olhava... o grupo foi crescendo: 20, 30, 40", contou ela, que mora na região do Brooklin, na zona sul paulistana.

Quando eu vi, tinham 100 pessoas esquentando a marmita aqui com apenas dois micro-ondas.
Alessandra Oliveira

Com aumento do fluxo, Alessandra tomou a decisão de entrar no negócio das quentinhas de cabeça. Abriu a garagem de casa, tirou as gôndolas da loja, instalou mesas e mais equipamentos. Hoje, 120 pessoas conseguem ocupar o espaço ao mesmo tempo.

"Em menos de um ano, a gente estava atendendo 300 pessoas por dia", lembra Alessandra. Com o tempo, ela inaugurou mais um pavimento e expandiu para 10 o número de micro-ondas disponíveis aos seus clientes.

Em outro canto da cidade

O analista de sistemas Valdir dos Reis também resolveu apostar no segmento com a esposa. Como sempre trabalhou em regiões com muitos escritórios, ele notava a falta de espaço para quem queria almoçar a própria comida.

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Uma vez vi um comerciante esquentando marmitas por R$ 2 e gostei da ideia. Olhei quantas pessoas trabalhavam no mesmo escritório que eu, fiz um cálculo de cabeça de quantas teriam em cada andar de cada prédio da Avenida Paulista, e comentei com a minha esposa.
Valdir dos Reis

Em 2017, o casal alugou um espaço em uma galeria da Rua Carlos Sampaio, perto da Paulista. "Nos primeiros 15 dias já estava com o aluguel garantido do mês", lembra ele. Na época, Valdir chegou a deixar o emprego para se dedicar ao projeto.

Hoje, o Espaço da Marmita ocupa seis boxes na galeria, que fica a menos de um quarteirão da Paulista. Um dos boxes tem seis micro-ondas e uma geladeira com refrigerantes, saladas e sobremesas. Os outros cinco boxes são mesas e balcões.

"É uma estrutura de lanchonete", explica ele. O valor cobrado de cada cliente é R$ 2,50 e o esquema é de autoatendimento: cada um pega a própria marmita e esquenta, pelo tempo que achar necessário, no micro-ondas.

"A maioria não tem onde esquentar a comida devido aos escritórios e salas comerciais pequenos", completou Debora Lopes, esposa de Valdir.

Muitas empresas fornecem ticket, mas como o custo da alimentação aqui é um pouco caro não compensa tirar do bolso para comer.
Debora Lopes

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Na pandemia

Como muitos outros negócios, esses espaços também foram impactados pela pandemia.

Alessandra Oliveira mantém seu espaço na região do Brooklin
Alessandra Oliveira mantém seu espaço na região do Brooklin Imagem: Arquivo Pessoal

Com muitas pessoas em home office, Alessandra ficou seis meses com as portas totalmente fechadas. Depois, reabriu gradualmente.

A vantagem, para ela, era que sua empresa funcionava em casa — ao contrário de Valdir, ela não precisava pagar aluguel. Hoje o espaço reabriu, mas com um fluxo menor de clientes. Ainda assim, passa muita gente pelo empreendimento de Alessandra.

Nosso movimento gira em torno de 180 a 200 pessoas por dia. Por causa da alta da energia elétrica, aumentamos o preço para R$ 3.
Alessandra Oliveira

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O negócio de Valdir também foi impactado, e ele precisou voltar para sua antiga profissão. Hoje, sua esposa continua trabalhando integralmente com as marmitas, com cerca de 30% do fluxo inicial. São cerca de 70 a 80 pessoas atendidas por dia.

Custo de R$ 66 por mês

Alessandra explica que o valor compensa para o cliente: não há limite de tempo ou de número de potes. Se não optarem por bebidas, sobremesas ou guarnições oferecidas no local, o custo de esquentar a marmita sai por R$ 66 no mês — considerando 22 dias úteis.

Um prato feito por dia, nos restaurantes da região da Berrini, soma esse valor em menos de uma semana, diz ela. "Para comer um prato por aqui hoje, você gasta em torno de R$ 30. Então, atendemos pessoas que querem economizar também."

Antes da pandemia, o Espaço Esquentadinha chegou a vender marmitas prontas. Hoje, não vende mais. Mas, para agilizar o trabalho, ela conta com o apoio de duas funcionárias.

A pessoa paga R$ 3 para esquentar, pode ficar ali para comer, e a gente oferece sal, guardanapo, palito. Se o cliente coloca na ponta do lápis, compensa.
Alessandra Oliveira

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Já o Espaço da Marmita, de Valdir, trabalha com um cartão de 18 marcações. "O cliente compra 18 dias e, sempre que vai, marcamos um quadradinho. Otimiza o tempo", diz.

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