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Ex-diretor da Petrobras diz não ter enganado Dilma sobre Pasadena

16/04/2014 15h16

BRASÍLIA, 16 Abr (Reuters) - O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, peça chave na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, disse em depoimento a deputados nesta quarta-feira que não considera ter enganado a presidente Dilma Rousseff, em 2006, quando ela era comandava o Conselho de Administração da estatal.

Dilma recentemente afirmou que, se tivesse conhecimento de todas as informações sobre o contrato de compra da refinaria, não teria aprovado o negócio, o que acendeu as discussões em torno do negócio, levando a oposição a pedir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

A afirmação de Dilma foi confirmada pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, em depoimento no Senado, na véspera. A executiva disse que o Conselho de Administração da estatal aprovou inicialmente a compra de 50 por cento da refinaria baseado em resumo executivo e avaliação da diretoria executiva, sem saber que havia a eventual obrigatoriedade de compra dos 50 por cento restantes, de acordo com a cláusula de opção de venda por parte da ex-sócia belga Astra.

Embora tenha afirmado que não considera ter enganado Dilma, Cerveró minimizou as cláusulas em relação à importância do negócio, acrescentando que a decisão sobre a compra da refinaria não foi sua, mas de toda a diretoria.

"Na avaliação que nós fizemos, essas cláusulas não têm representatividade no negócio... Não era importante do ponto de vista negocial, do ponto de vista da valorização do negócio, nenhuma cláusula nem outra", disse ele, referindo-se à opção de venda e à chamada cláusula Marlim, que garantia à Astra uma remuneração adicional dependendo do petróleo refinado.

Após a Astra exercer a opção de venda de sua fatia de 50 por cento, a Petrobras acabou pagando bem mais do que o dobro do 360 bilhões de dólares desembolsados inicialmente pela primeira metade da unidade. Ao todo a Petrobras desembolsou 1,25 bilhões de dólares por Pasadena, após uma batalha em câmaras arbitrais.

"Não houve nenhuma intenção de enganar ninguém... A posição não é só minha. A posição (sobre o negócio) é da direção e do Conselho que aprovou esse projeto... Foi tudo baseado numa série de consultorias e trabalhos, ao longo de mais de um ano", afirmou.

Cerveró --que até recentemente era diretor da subsidiária da Petrobras BR Distribuidora e foi demitido após a declaração de Dilma-- ainda defendeu, no início de seu depoimento em audiência na Câmara dos Deputados, que a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, seguiu o plano estratégico definido pela empresa na época.

Segundo ele, a compra da refinaria nos EUA se baseou na estratégia de processar o petróleo pesado brasileiro no exterior, diante de uma estagnação do mercado brasileiro e da expansão da produção no Brasil, principalmente na Bacia de Campos.

Ele destacou ainda que o negócio garantiu uma posição importante em refino para a Petrobras nos Estados Unidos, maior consumidor global de combustíveis.

"A Astra já estava no mercado americano há muito tempo. Nós compramos uma posição no mercado americano... não compramos apenas a refinaria", disse em audiência pública realizada de forma conjunta nas comissões de Fiscalização Financeira e Controle; Finanças e Tributação; e Desenvolvimento Econômico.

Segundo o ele, o custo total de Pasadena ficou bem abaixo do valor de mercado de outras refinarias na época do fechamento do negócio, considerando o custo por barril refinado.

A refinaria de Pasadena, com capacidade de processar 100 mil barris/dia, custou o equivalente a 5,5 mil dólares por barril para a Petrobras, contra uma média de outras refinarias vendidas na época de 9,7 mil dólares por barril.

(Por Maria Carolina Marcello; texto de Roberto Samora; edição de Gustavo Bonato)