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Dilma coloca Bendine, ex-BB e homem de confiança, no comando da Petrobras

Por Cesar Bianconi
Imagem: Por Cesar Bianconi

06/02/2015 16h38

Por Cesar Bianconi

SÃO PAULO (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff escolheu Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e homem de sua confiança, para assumir a presidência da Petrobras, desapontando investidores que torciam por um nome do mercado para recuperar a imagem arranhada da petroleira.

Funcionário de carreira do BB, Bendine terá entre seus desafios limpar o balanço da Petrobras, que tem ativos sobrevalorizados em dezenas de bilhões de reais, por sobrepreço em contratos e falhas em projetos de engenharia, entre outras razões.

A petroleira está no centro de um escândalo bilionário de corrupção, revelado na Operação Lava Jato da Polícia Federal e considerado o maior da história do Brasil, envolvendo ex-funcionários, executivos de empreiteiras e políticos.

Por ser considerado bastante alinhado às políticas do atual governo, a indicação de Bendine frustra expectativas de investidores e analistas de que o novo líder da petroleira viesse do mercado.

A escolha de Bendine indica as dificuldades que Dilma teve para costurar a sucessão na Petrobras de forma súbita, em 48 horas, com a renúncia repentina da presidente Maria das Graças Foster e de outros cinco diretores da companhia, em um movimento que surpreendeu o Palácio do Planalto.

Bendine assumiu o maior banco da América Latina em abril de 2009. Sob sua chefia, a instituição federal liderou uma ofensiva do governo petista no crédito para atenuar os efeitos da crise financeira global na economia brasileira.

Além de Bendine, o Conselho de Administração da Petrobras escolheu em reunião nesta sexta o ex-vice-presidente financeiro do BB Ivan Monteiro para ocupar a diretoria de Finanças e outros quatro diretores interinos para áreas operacionais.

A indicação de Bendine e de Monteiro para o comando da Petrobras tinha sido antecipada mais cedo à Reuters por três fontes do governo e uma próxima ao banco.

A escolha dos novos diretores não foi por unanimidade. Os conselheiros que representam os acionistas minoritários e os trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Mauro Cunha e Silvio Sinedino, respectivamente, afirmaram que votaram contra a eleição da nova diretoria.

Em nota à imprensa, Cunha disse que "o acionista controlador mais uma vez impõe sua vontade sobre os interesses da Petrobras, ignorando os apelos de investidores de longo prazo".

Em outras ocasiões recentes, houve opinião divergente entre os membros no Conselho indicados pelo governo e independentes sobre os rumos da companhia.

No fim de janeiro, quando divulgou o atrasado balanço não auditado do terceiro trimestre de 2014, houve um racha no Conselho sobre o registro de baixa contábil por fraudes envolvendo 52 empreendimentos em construção ou em operação citados na Lava Jato. Esses ativos estão com valor contábil mais de 60 bilhões de reais acima de seu valor justo.

AÇÕES CAEM

As ações da Petrobras recuaram com força quando o nome de Bendine veio à tona pela manhã, e aceleraram a queda logo após a Petrobras confirmar eleição do funcionário de carreira do BB para presidir a petroleira. Os papéis preferenciais e os ordinários terminaram o dia em baixa de 6,94 e de 6,52 por cento. O Ibovespa caiu 0,9 por cento.

“O Bendine é uma pessoa muito identificada com a primeira gestão do governo Dilma. O BB foi absolutamente comandado pelo governo na primeira gestão e a Petrobras precisaria de alguém mais independente, que peitasse o governo em determinadas situações e não fizesse loteamento de cargos", disse à Reuters o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira, no Rio de Janeiro.

Para Bandeira, nomes que vinham circulando na mídia para a Petrobras, como o de Murilo Ferreira, presidente da Vale, e o de José Carlos Grubisich, ex-presidente da Braskem, seriam opções melhores. "Pesa por não ser alguém do setor, mas pesa mais por ser identificado com a primeira gestão de Dilma”, afirmou.

OUTROS DIRETORES

Segundo fato relevante da Petrobras, assumem como diretores interinos Solange da Silva Guedes (Exploração e Produção), Jorge Celestino Ramos (Abastecimento), Hugo Repsold Junior (Gás e Energia) e Roberto Moro (Engenharia, Tecnologia e Materiais). Os quatro ocupavam cargo de gerência executiva nas respectivas áreas e têm individualmente 30 anos ou mais de experiência na estatal.

A renúncia de seis altos executivos da Petrobras na quarta-feira surpreendeu autoridades em Brasília, que previam uma mudança na diretoria da estatal apenas no fim do mês.

Na terça-feira, Dilma aceitou o pedido de demissão de Graça Foster, como ela gosta de ser chamada, mas tinha acertado a permanência da executiva no cargo por mais algumas semanas. Porém, outros cinco diretores da Petrobras não aceitaram ficar por mais tempo, precipitando a saída também de Graça Foster.

Já bastante desgastados, os agora ex-diretores da Petrobras não quiseram mais ser diretamente associados ao escândalo de corrupção.

(Reportagem adicional de Jeferson Ribeiro e Luciana Otoni, em Brasília, Priscila Jordão e Aluísio Alves, em São Paulo)