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Eletrobras tem um mês para concluir privatização com várias incógnitas pelo caminho

Logo da Eletrobras em instalações da companhia no Rio de Janeiro - Pilar Olivares/Reuters
Logo da Eletrobras em instalações da companhia no Rio de Janeiro Imagem: Pilar Olivares/Reuters

Letícia Fucuchima

13/04/2022 16h31

A Eletrobras tem exatamente um mês para concluir o processo de privatização via aumento de capital aproveitando a janela de mercado vista como ideal pelo governo e por investidores, mas as várias etapas que precisam ser superadas jogam cada vez mais dúvida sobre o sucesso da operação.

O maior obstáculo é o segundo e último aval do Tribunal de Contas da União —o processo já venceu todo o rito interno necessário e depende agora apenas da vontade do relator, ministro Aroldo Cedraz, de levá-lo a julgamento, o que ainda não aconteceu.

No entanto, alguns trâmites por parte da própria Eletrobras também estão pendentes, o que torna o cronograma da oferta menos claro ainda para os investidores.

Basicamente, o que se sabe até agora é que, para que a capitalização ocorra nesta janela, a liquidação precisa ocorrer até 13 de maio, conforme regras da Securities and Exchange Commission (SEC), o regulador de mercado dos Estados Unidos.

No espaço de um mês, a Eletrobras precisa aprovar os resultados financeiros de 2021 em assembleia marcada para 22 de abril, publicar o formulário 20-F na SEC em 25 de abril e só então poderá lançar o prospecto da capitalização —isso se o TCU já tiver dado sua aprovação até lá.

Assim, no melhor dos cenários, a Eletrobras teria menos de 20 dias entre o roadshow com investidores e a conclusão da oferta.

EMPECILHOS

O principal risco à operação neste semestre é a pendência no TCU. A deliberação sobre a modelagem e o preço mínimo da oferta não entrou na pauta da sessão plenária desta quarta-feira, frustrando as expectativas criadas após o relator ter convocado um amplo debate público sobre o processo.

Realizado na semana passada, o evento contou com a presença dos ministros Paulo Guedes e Bento Albuquerque e dos presidentes da Eletrobras, Rodrigo Limp, e do BNDES, Gustavo Montezano, além de representantes de bancos e associações.

Na ocasião, Cedraz disse que a privatização seria apreciada "em breve" pela Corte, sem especificar uma data.

O TCU tem mais duas plenárias ordinárias no mês, nos dias 20 e 27, mas um pedido de vista por parte dos ministros, como ocorreu no primeiro julgamento sobre a Eletrobras, jogaria água sobre o cronograma do governo.

Já a assembleia de acionistas que está marcada para o dia 22 pode se tornar alvo de opositores da privatização. A Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel) pretende entrar na Justiça para impedir a realização da reunião, disse à Reuters Emanuel Mendes Torres, diretor da entidade.

Ele lembrou que as greves dos funcionários da Eletrobras realizadas em janeiro e fevereiro —embora não relacionadas à privatização— atrapalharam o andamento do processo, já que atrasaram em um mês a publicação dos resultados financeiros da companhia.

A Aeel já entrou com uma série de ações na Justiça contra a privatização, mas não conseguiu liminares para travar o processo.

Caso o cronograma da oferta fracasse, o governo pode tentar realizar a operação no segundo semestre, a partir de agosto. No entanto, corre o risco de ver a janela de mercado piorar ou mesmo se fechar, dada a proximidade da corrida eleitoral e outras incertezas, como desenrolar da guerra na Ucrânia.