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FGV: Alta do varejo mostra sinais preocupantes para inflação em 2015

08/01/2015 15h06

Beneficiada por minério de ferro mais barato no atacado, a inflação apurada pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) terminou 2014 com alta de 3,78%, resultado mais baixo desde 2009 (-1,43%). Mas o resultado não sinaliza taxa confortável em 2015, na análise do superintendente adjunto de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Salomão Quadros.

Ele observou que o núcleo do IPC-DI, que mede os preços no varejo, medida que captura a tendência da inflação, fechou o ano passado com aumento de 6,17% - a mais elevada expansão em 11 anos. O IPC-DI cheio avançou 6,87%, patamar desde 2003.

Para o especialista, a persistência de preços altos será carregada para 2015. "Começamos o ano com uma inflação que está bastante estruturada, não é uma coisa passageira", alertou. "O núcleo é o maior em 11 anos. Temos, assim, uma dimensão dessa potência inflacionária. Além disso, começamos o ano com uma concentração muito grande de correção de preços administrados, que não serão compensados no curto prazo", disse. "Podemos imaginar, nos próximos meses, uma situação difícil", considerou.

Na análise de Quadros, o ambiente inflacionário delineado pelo IGP-DI oferece dois recortes diferentes. O indicador de dezembro mostra indica alívio pontual, mas o resultado em 12 meses dos tópicos relacionados ao varejo - setor que representa 30% do indicador -, acende sinais de alerta para o cenário de preços em 2015.

Houve forte desaceleração no IGP-DI, de 1,14% para 0,38% de novembro para dezembro, devido principalmente ao retorno à deflação nas matérias-primas brutas agropecuárias no atacado no mesmo período (de 12,98% para -0,18%). Isso ajudou a frear o avanço da inflação ao produtor como um todo, que representa 60% do IGP-DI e desacelerou de 1,44% para 0,30%. "Tivemos um choque, com problemas de seca envolvendo principalmente a soja [em novembro], elevando preços agrícolas no atacado. Mas isso já foi normalizado", afirmou.

Porém, a alta das matérias-primas agrícolas em novembro impulsionou a inflação dos alimentos no varejo, no mesmo período de comparação (de 0,65% para 1,06%), devido ao repasse dessas elevações de preços, do atacado para o varejo, que ocorre sempre com alguma defasagem. Isso ajudou a elevar a inflação do IPC geral, de 0,65% para 0,75%.

É do varejo que se originam os sinais mais preocupantes para a inflação de 2015, frisou Quadros. A aceleração de preços ao consumidor foi o triplo da inflação atacadista no ano passado, que encerrou com aumento de apenas 2,15%. "O minério de ferro derrubou a inflação no atacado porque terminou o ano com queda de 39,29%, devido à menor atividade econômica da China [maior compradora global de minério] - sendo que, em 2013, esse item subiu 34,9%", afirmou ele, lembrando que o minério é um dos itens de maior peso no atacado.

Mas, no caso do varejo, praticamente não houve alívio em 2014. Quadros lembrou que a tarifa de energia elétrica, cujo preço caiu 15,08% em 2013, teve inflação de 5,63% no ano passado.

"O fato de o IGP-DI ter desacelerado em dezembro não significa que tudo esteja tranquilo na inflação para 2015", resumiu.