IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Lula defende ajuste fiscal e cobra apoio de movimentos sociais a Dilma

31/03/2015 23h48


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu nesta terça-feira em defesa do ajuste fiscal feito pelo governo federal e cobrou apoio de movimentos sociais e sindicatos à presidente Dilma Rousseff. Lula admitiu que a gestão federal cometeu alguns erros na área econômica, como a demora em promover o reajuste da gasolina, mas disse que a conjuntura desfavorável não é culpa de Dilma.

A uma plateia composta pela base social do PT, o ex-presidente afirmou que o partido deve assumir para si a bandeira do combate à corrupção e afirmou que os militantes não devem baixar a cabeça. Lula disse ainda que é preciso respeitar aqueles que foram às ruas contra a presidente, mas ponderou que não haverá impeachment e que é preciso respeitar as regras democráticas e esperar as próximas eleições para trocar o governo.

O ex-presidente foi a estrela principal de um ato organizado ontem por centrais sindicais e movimentos sociais como a CUT, CTB, MST e UNE em São Paulo. Com o mote de defesa da democracia e da Petrobras, o evento tornou-se um grande movimento de apoio à presidente, que enfrenta uma crise de governabilidade.

Em meio a críticas dos movimentos sociais em relação às medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Lula repetiu três vezes o ajuste fiscal era necessário e disse ter feito um ajuste ainda mais forte do que a presidente em 2003, quando assumiu a Presidência. "Agora a companheira Dilma tinha a necessidade de dar uma parada", disse. A uma plateia que lotou a quadra do Sindicato dos Bancários, ligado à CUT, Lula traduziu o ajuste fiscal e disse que a presidente fez o que todos as pessoas têm de fazer no início do ano, quando as contas aumentam mas as receitas não. "Não é diferente da casa da gente".

O ex-presidente, então, apontou erros do governo. " Teve uma série de coisa que não dependeu de Dilma. Vamos ter claro que nós, e é importante eu também assumir, e cada um de nós assumirmos, nós cometemos equívocos. Por que não se aumentou a gasolina desde 2012? Porque não queria que a inflação subisse. Quando a Dilma reduziu a conta de luz, ficamos felizes. Acontece que a Dilma, nem eu nem vocês esperavam uma seca neste país". Lula. De forma didática, disse que a conta de luz ficou mais cara porque mudou a matriz energética, que é mais cara. "Alguém tem que pagar e vai para a conta do povo". "A conjuntura altamente desfavorável e que não dependeu da Dilma", afirmou. Lula disse ainda que quando o cenário econômico melhorar, Dilma "começará a reajustar de forma mais favorável ao povo brasileiro".

Em seguida, pediu apoio à presidente. "O que é importante ter claro é que somos militantes políticos, não apenas economicistas. O que está em jogo não é apenas 1%, 2% ou 10%. A inflação é uma desgraça para o pobre e a Dilma sabe disso".

O ex-presidente falou sobre o escândalo de corrupção que atinge a Petrobras e elogiou os ex-presidentes da estatal José Sérgio Gabrielli - que estava no local - e José Eduardo Dutra. Para Lula, o PT não deve se negar a esse debate. "Sempre achamos que corrupção não era tema nosso. Mas é tema nosso, porque é o tema da corrupção que levou o Getulio Vargas à morte. É o tema da corrupção que fez com que eles tentassem destituir o Juscelino Kubitschek. É o tema que fez com que tentassem o meu impeachment em 2005, mas só não tiveram coragem porque ficaram com medo do povo brasileiro."

"Quando a gente vê o que estão fazendo com a Petrobras, tentando mostrar que é empresa corrupta, que é tudo bandalheira, se esquecem de dizer que é empresa de alta governança e que se houve corrupção foi de uma ou outra pessoa e terão que pagar o preço", disse.

Lula reclamou da forma como as delações premiadas têm sido divulgadas, na operação Lava-Jato, e disse que "os bandidos" que fazem as delações estão se transformando em heróis. O ex-presidente disse ainda que por trás das denúncias estão críticas da oposição ao sistema de partilha do pré-sal.

Ao falar sobre os protestos que levaram milhares de pessoas às ruas contra o PT e contra Dilma, Lula disse que não se pode ficar com raiva de quem protesta. "Eles têm direito de reclamar. Temos que fazer debate político e tentar convencê-los".Na sequência, cobrou novamente apoio . "Temos que perceber que Dilma é resultado nosso. É a pessoa que tem compromisso conosco."

"Dilma, você precisa lembrar sempre que quem está aqui é seu parceiro nos bons e maus momentos", afirmou o ex-presidente. "Pode ter certeza de que ninguém mexerá na conquista democrática do povo brasileiro, que elegeu um operário e depois uma mulher presidente".

Aos movimentos sociais, Lula afirmou que não é preciso parar de questionar a presidente, mas disse que é preciso compreender "a diferença entre a luta política e a luta econômica."

"Se a gente acertar na política a gente não erra em nada. Temos um mandato inteiro para fazer tudo o que quisermos fazer. Estão dizendo que o governo Dilma acabou, mas esperem porque ela pode terminar melhor do que eu".