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Para especialistas, indústria precisa apostar em setores estratégicos

30/06/2015 12h41

O Brasil precisa apostar em inovação e em uma política de desenvolvimento de setores estratégicos para poder recompor seu sistema industrial, defenderam economistas em um evento realizado na manhã desta terça-feira em São Paulo. Em um encontro de tom otimista, apesar de lidar com dados ainda problemáticos, especialistas defenderam que o país tem potencial para recompor sua indústria.

Para Carlos Frederico Rocha, diretor-geral do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Brasil tem uma longa tradição de crescimento a partir do balanço de pagamentos, mas aproveitar este elemento hoje está fora de cogitação. "Esgotamos a possibilidade de fazer substituição de importações. Dependemos muito de oferta e demanda", disse.

"É fundamental ter capacitação para inovar", completou. Segundo ele, o Brasil precisa explorar a demanda como grande fator de crescimento da indústria no longo prazo, deixando de depender apenas do mercado internacional como alternativa para a produção nacional.

"Poderíamos aproveitar a diferenciação de produto, tentando aumentar a elasticidade à renda e diferenciando o produto internamente. Pela diversificação, pode-se criar setores novos", disse.

Rocha ressaltou que o Brasil mudou sua política de inovação nas últimas décadas, mas ainda não o suficiente e influenciou pouco no percentual de empresas inovadoras.

Tentação

Segundo Marcelo Miterhof, assessor da presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o debate sobre a indústria passa por inovação, mas também necessariamente por questões relacionadas ao câmbio e à política econômica.

Para ele, o Brasil precisa resistir à tentação do câmbio para criar perspectivas industriais. "O câmbio é uma tentação básica. Mas não podemos mais ceder. Manter um câmbio favorável é condição essencial para termos perspectivas industriais consistentes no longo prazo. Podemos ter um câmbio menos desvalorizado, que permita o desenvolvimento de setores e a recomposição de outros, para podermos suprir pelo menos parte do mercado interno", disse.

Miterhof defendeu ainda que é preciso rever os gastos do governo. "Para industrializar, não bastam câmbio favorável e desoneração de exportações. Precisamos de algum grau de intervenção setorial, recuperar perspectiva de gastos e criar uma estratégia de política industrial."

"Podemos aproveitar as áreas em que temos conhecimento, como a agricultura, e desenvolver a partir da nossa base. Alcançamos muito avanço em termos de cultivo, e precisamos nos apropriar da demanda para gerar empresas competitivas."