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Nove lições do esporte de alta performance para o sucesso nos negócios

Al Bello/Getty Images
Imagem: Al Bello/Getty Images
Jose Gutierrez

11/10/2019 14h44

A prática esportiva, o marketing e o empreendedorismo têm várias características em comum. Foco, constância e disciplina são indispensáveis para que um atleta chegue ao pódio. O mesmo acontece no mundo dos negócios —e a publicidade não foge à regra. Para gerar resultados, um líder precisa ter a mentalidade de um esportista de alta performance.

Sou esportista profissional há mais de 15 anos. Fui nove vezes campeão de luta livre olímpica pela Espanha. Minha trajetória como atleta é longa e, felizmente, bem-sucedida. E esse sucesso me fez chegar onde estou agora como empreendedor. Ao chegar ao mundo dos negócios, decidi que o melhor caminho seria aplicar tudo o que aprendi como atleta na empresa.

Hoje, sou um dos sócios da ACE, eleita três vezes como a melhor aceleradora de startups da América Latina. Lá, já investimos em mais de 100 empresas startups —e 14 delas acabaram vendidas. Em poucas palavras, nossa missão é ajudar pequenos negócios a crescer rapidamente e de maneira sustentável. Grandes empresas também são nossos clientes, como a Natura, a BASF, e a BrasilPrev.

Em cada um dos projetos, tento pensar como pensaria um atleta em meio à uma competição:

  • Meu resultado é produto do meu desempenho --nunca da performance dos outros;
  • Atuar baseado no desempenho alheio, comparando-se a ele, significa que serei um seguidor;
  • Superar os oponentes e melhorar constantemente significa ser líder.

O contrário de ganhar não é perder

Para quem tem uma mentalidade de alta performance, o contrário de ganhar (ao contrário do que muita gente imagina) não é perder. É desistir.

Nenhuma derrota pode ser considerada tão grande a ponto de nos fazer abandonar a competição. No mundo do esporte, perder faz parte do aprendizado contínuo. É preciso aprender com os erros para melhorar. É preciso conhecer as próprias falhas para corrigi-las por meio do treinamento. É preciso saber quais são suas fortalezas para potencializá-las.

Esse modo de ver as coisas e lidar com elas pode ser aplicado aos negócios. Devemos reconhecer o que funciona e o que não funciona —e corrigir os erros da forma mais rápida possível. O erro nunca foi o problema das empresas. Cometer o mesmo erro várias vezes, não saber por que estamos errando ou culpar o outro por nossos fracassos, sim.

Para ajudar empreendedores e corporações a aplicarem a mentalidade de alta performance esportiva em suas empresas, criei alguns princípios a serem seguidos. Divido em 9 lições para o dia a dia:

  1. Visualize: Preparação mental para enxergar resultados. Trata-se de uma técnica muito utilizada no esporte. Antes de uma luta, por exemplo, é possível visualizar que movimentos faremos e quais podem ser as reações do oponente. O mesmo pode ser aplicado em uma reunião importante de negócios. É possível (e adequado planejar) o melhor discurso ou antecipar as dúvidas do interlocutor. Visualizar nos dá previsibilidade. E previsibilidade reduz a ansiedade e aumenta a segurança.
  2. Trace objetivos: Tenha metas para perseguir e meça os resultados. Existem dois tipos de objetivo na mentalidade de alta performance esportiva: o externo e o interno. O externo é onde queremos chegar. Por exemplo: ser campeão do mundo. O interno se baseia na distância a ser enfrentada para atingir o objetivo externo. Exemplo: hoje sou campeão regional. Antes de ser o primeiro do mundo, preciso ser campeão nacional. Depois, terei de estar classificado entre os 15 melhores atletas do mundo na minha modalidade. A partir daí, estabeleço o prazo para chegar ao objetivo final. Metas devem ser realistas. Caso contrário, gerarão apenas frustração. E cada resultado deve ser medido, assim como cada novo passo deve ser avaliado. Se uma empresa quer ser a melhor da América Latina, primeira coisa a fazer é definir o conceito de melhor. A partir daí, se estabelecem os passos necessários até chegar ao objetivo, o tempo e os recursos necessários para atingi-lo. Ter meta é fundamental. Só assim é possível focar, alinhar o time e incrementar a performance. Uma empresa sem metas jamais será campeã de coisa alguma.
  3. Tenha foco: Se quiser ser o melhor, não faça mil coisas ao mesmo tempo. É preciso concentrar esforços em tudo aquilo que nos ajudará a atingir o objetivo estabelecido. Focar é fazer escolhas, sempre. Existem dois estilos dois estilos de luta livre: a livre olímpica e a greco-romana. A diferença é sutil. Na luta livre olímpica, é permitido usar todo o corpo do adversário para aplicar a queda. Na greco-romana, é proibido segurar as pernas do oponente. Essa diferença (sutil) faz com que o mesmo atleta tenha de escolher. Ele não será o melhor em nenhuma das duas se não fizer uma opção.
  4. Pense no longo prazo: Grandes coisas não são conquistas em pouco tempo. Nos esportes olímpicos, atletas são preparados para atingir sua máxima performance a cada quatro anos. Todas as escolhas de preparação física, competições, preparação técnica estão adaptadas para um plano de quatro anos. Nos negócios, dimensione o tempo necessário para atingir determinado objetivo e planeje suas ações de acordo com esse prazo. Não queime etapas.
  5. Trabalhe em time: Não se ganha nada sozinho. Mesmo em esportes individuais, contar com uma boa equipe é fundamental. No mundo esportivo, responsabilidades individuais e coletivas devem estar alinhadas ao objetivo final do clube. Nas empresas, deveria acontecer exatamente a mesma coisa. Seu colega não é seu adversário. E a liderança não pode estar desconectada da base. Times multidisciplinares, focados em objetivos claros, são mais eficientes. É isso que justifica o uso cada vez maior dos "squads".
  6. Supere-se: Nós somos o adversário a ser batido. Devemos constantemente melhorar nosso próprio desempenho se quisermos ser líderes, e não seguidores. Olhe mais para dentro da empresa --e menos para o vizinho.
  7. Não desista. Só ganha quem persiste. Fracassos, pressão, dificuldades fazem parte da vida de todo atleta e de todo empreendedor. Esportistas se machucam, são derrotados e criticados. Empreendedores enfrentam prejuízos, perdem clientes e talentos. O que fazer? Michael Jordan sempre sonhou ser jogador de basquete. Mas, ainda garoto, foi cortado da equipe de basquetebol na escola, por não jogar bem. Jordan passou a treinar duas horas por dia para poder voltar à equipe. O resto faz parte da história.
  8. Quebre o status quo: Não tenha medo de competir. Bata as metas constantemente e forme times focados em resultados. Só assim é possível mudar a ordem das coisas.
  9. Cada dia é um big-bang. Não importa o quão bom você já foi ou será. Importa quão bom que você é hoje. Cada dia importa porque há metas para bater todos os dias. O longo prazo só é possível se cuidarmos da execução no curto prazo. Cada dia importa porque cada dia tem metas a cumprir. Antes falamos da importância de longo prazo mas que seria dele sem medir no curto prazo. No esporte, cada dia é o dia 0. A cada ano é preciso demonstrar evolução, superar marcas anteriores e esquecer as desculpas.