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Carla Araújo

Ano já terminou para Guedes, sem Renda Brasil e rompido com Maia

Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento no Palácio do Planalto - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento no Palácio do Planalto Imagem: ADRIANO MACHADO

Do UOL, em Brasília

16/09/2020 04h00

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem (15) que o cartão vermelho que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou tirar do bolso não foi para ele. Pode até ser que Guedes continue em campo, mas é inegável que o Posto-Ipiranga está cada vez mais fragilizado e já poderia pedir, inclusive, para encerrar 2020.

Além de ter que enterrar a ideia do Renda Brasil, que substituiria o Bolsa Família, Guedes perdeu a interlocução com o Congresso há poucos dias. E é no Legislativo que está boa parte das soluções para a agenda de Guedes.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, escancarou o rompimento e mostrou indignação com a ordem de Guedes de proibir sua equipe de conversar com ele.

Maia disse que vai continuar conversando com a ala política, mas não dá para negar que um rompimento entre o mandatário da economia e o dono da pauta na Câmara não tem nada de positivo para o governo.

Num cenário de harmonia total já seria difícil imaginar que a agenda no Congresso tivesse a celeridade esperada pela equipe econômica. Com ano eleitoral então, Brasília ficará ainda mais esvaziada.

Tanto no governo como no Congresso já há quem admita que dificilmente as recém-enviadas reformas estruturantes (administrativa e tributária) avancem neste ano, muito menos que sejam aprovadas.

Na economia, auxiliares do ministro ainda tentam acreditar e apelam para o que chamam de bom senso do Parlamento. De acordo com uma fonte, é preciso pressionar para andar pelo menos "alguma coisa da administrativa".

A aposta menos positiva é avançar em algumas medidas para o setor elétrico e outros marcos regulatórios.

Rédeas curtas

Depois da bronca pública do presidente, Guedes reforçou a sua equipe que o momento é de cautela nas declarações públicas. Segundo auxiliares, não se trata de uma censura, mas sim de rédeas curtas, principalmente em debates internos e ainda em estudo.

A situação do secretário Especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, ainda não está definida, mas Guedes não teria a intenção de demitir o secretário que é apontado por alguns auxiliares como o braço direito no ministro. A avaliação é de que uma nova baixa poderia sinalizar ainda mais fragilidade.

A gota d'água para presidente enterrar o Renda Brasil aconteceu após manchetes dos principais jornais trazerem informações de que a aposentadoria poderia ser congelada para compor o Renda Brasil e que o governo poderia cortar R$ 10 bilhões em benefícios para deficientes e idosos. Waldery havia dado declarações públicas sobre essas ideias.

Uma eventual saída de Waldery tem resistência na pasta de Guedes, mas ganha força vinda da ala política e de outros ministros da Esplanada, já que ele é visto como o homem que fecha os cofres públicos e, por vezes, atrapalha planos de ministros "mais gastadores".

O ministério da Economia vive ainda uma verdadeira disputa orçamentária. Nos bastidores, Guedes é criticado por ministros das alas política e militar, que defendem uma ampliação de investimentos públicos como uma saída para a retomada da economia.

O cargo de Waldery em outros governos era o similar ao de um ministro da Fazenda. Não é pouca coisa. Se Guedes aceitar expulsá-lo do seu time, vai ter dificuldades na substituição.

A força da política

É fato que os planos de Guedes foram impactos por conta de pandemia que ninguém esperava e que obrigou o país a ampliar o seu endividamento. Ontem, querendo mostrar que ainda está no jogo, o ministro da Economia repetiu que a decisão do presidente estava certa, pois era "política".

Há um mês, quando viu o que chamou debandada em sua equipe, Guedes já havia se rendido à força da política e amargado a derrota. E na ocasião destacou publicamente que "quem manda é o presidente" e "ele é quem tem voto".

Logo depois, o ministro tentou retomar as rédeas de sua agenda e pediu esforço de sua equipe para finalizar a reforma tributária. Até agora, só promessas e novas crises.

Da parte do governo, só há no parlamento uma pequena parte da reforma tributária. Há quem garanta que Maia deve tocar os projetos que já estão no Congresso. Se algo avançar não será mérito do governo.

Bolsonaro usou a analogia do futebol, que era uma marca do ex-presidente Lula, ao falar do cartão vermelho, mas ainda não o tirou do bolso.

Há quem aposte que o presidente pode se inspirar em um antigo bordão de Donald Trump - presidente dos Estados Unidos e que Bolsonaro se declara admirador - e não tardar para avisar a Guedes: "Você está demitido".