Quantas vezes você chorou em 2020?
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Esse ano foi osso. Normalmente eu gosto de fazer uma retrospectiva em dezembro, mas dessa vez está difícil lidar com os sentimentos.
Estamos vivendo um momento histórico. Não sei se a ficha de vocês já caiu, mas tenho certeza que um dia nossos netos nos perguntarão: vovô, vovó, como foi viver em 2020?
E eu vou responder que foi, no mínimo, bizarro.
É como se os céus tivessem olhado pro planeta Terra e concluído que precisávamos de um "chacoalhão" esse ano. Fico imaginando uma conversa entre eles alguns meses atrás:
- Como vamos fazer para que os 8 bilhões de humanos entendam algo novo?
- Vamos influenciá-los através de um excelente livro?
- Está longe de ser o suficiente. Ninguém lê por lá. Há títulos com apenas 10.000 cópias entrando na lista dos best-sellers.
- Um novo filme em Hollywood?
- O mais assistido de todos os tempos não passou de 20 milhões de exibições.
- Que tal uma nova série no Netflix?
- Até a recordista "O gambito da rainha" não passou de 100 milhões de transmissões.
- Então que tal o vídeo mais visto do Youtube?
- Não me surpreenderia se em 2020 o vídeo do Baby Shark fosse o mais assistido do mundo.
- Já sei! Vamos usar as Olimpíadas!
- O interesse nesse evento já foi maior. Precisamos de algo mais forte, que realmente provoque uma transformação nas pessoas.
- Só nos resta uma opção... provocar uma experiência real em toda a humanidade.
E foi assim que todos fomos matriculados nesse curso de vida chamado 2020. Criei essa fantasia na minha cabeça porque até agora não consigo acreditar no que vivemos.
A Covid -19 foi um divisor de águas. A partir de agora muita coisa será diferente. Não duvido que apareçam vagas de emprego onde o pré-requisito seja "ter mantido seu negócio vivo em 2020" ou pessoas no Tinder buscando pretendentes que tenham "tratado bem os seus pais durante a pandemia". Até nossas referências de qualidades e talentos mudaram.
Para mim, esse ano valeu por um MBA. Foi um treinamento intensivo. Um condensado de lições sobre a vida, cuidados com a saúde, significado de "essencial", generosidade, resiliência, criatividade, a importância das relações pessoais e o valor da liberdade de ir e vir.
Quantas vezes você chorou esse ano? Em quantos momentos teve medo? Raiva? Alívio? Esperança? Cada uma dessas situações foram aulas que te ensinaram muitas coisas. Nada é capaz de nos mudar tanto quanto uma experiência de vida real.
Essa segunda onda de contaminações parece ser o trabalho de conclusão deste curso. Será que vamos ter um teste final dos conhecimentos adquiridos? Acho que não será necessário. Afinal, a gente sabe quando uma criança é bem-educada, não é? Quando ela aprendeu as lições de falar "por favor" e "obrigado". Quando olha para os dois lados antes de atravessar a rua, divide os brinquedos com os amigos e come de boca fechada. Também vamos saber quem aprendeu os ensinamentos de 2020.
Para nós, marketeiros, foi uma grande aula sobre como acompanhar o sentimento dos consumidores em tempo real. Mas para nós, pessoas, foi uma lição de humanidade. Em épocas onde só se fala de automatização, robotização e implementação de tecnologia, o maior aprendizado foi sobre coisas que só podem ser feitas por quem tem um coração.
Não desperdice 2020. Está aí uma grande oportunidade. E uma torcida para que a gente não tenha que se matricular nesse curso novamente.
Ei, Roberto Carlos, esse ano (e apenas esse ano) sugiro terminar a famosa música de outra forma: se chorei ou se sorri, o importante é que lições aprendi.