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João Branco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que você faria se estivesse no BBB?

Colunista do UOL

02/02/2022 04h00

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A explosão das mensagens de áudio no Whatsapp (algo que o brasileiro parece gostar muito mais do que o resto do mundo) provocaram um fenômeno: passamos a ouvir muito mais as nossas próprias vozes. É estranho, não é? Se você já apertou o play para checar se a gravação estava boa antes de enviar, sabe do que estou falando. A voz que escutamos internamente é diferente da que os outros escutam. Mas é um exercício interessante. Estamos percebendo a diferença entre como nós achamos que somos versus o que os outros estão percebendo em nós.

Tem gente que não tira selfie porque não gosta de se ver na imagem. Por mais fiel à realidade que seja a fotografia, elas se vêm diferente. E ficam incomodadas com isso. Não estou falando dos distúrbios psicológicos que fazem com que algumas pessoas não suportem olhar-se no espelho. É sobre aquele desconforto que quase todos sentimos quando reparamos como somos vistos pelos demais. Faça um exercício: tente gravar a si mesmo fazendo um discurso por 10 minutos e assista. É chocante. A maioria das pessoas que faz isso pela primeira vez se incomoda com a sua postura, voz, linguagem corporal, etc. No mundo do Marketing, essa diferença é pauta constante de discussão.

Pergunte a uma dona de uma doceria como ela vê o seu negócio. Você vai ouvir maravilhas sobre os quitutes, sua forma de atender os clientes e a atmosfera do seu ponto de venda. Coisas que nem sempre são percebidas pelos clientes. Na verdade, eles podem até ter uma opinião totalmente diferente da dela e odiar tudo isso. E a forma de resolver isso chama-se: comunicação planejada.

Aprendi no livro "A surpreendente ciência do sucesso", de Eric Barker, que o famoso pirata Barba Negra, na verdade, nunca matou ninguém ao longo da sua "carreira". E também não mandou ninguém "andar na prancha" como retratado nas histórias. Então por que temos a impressão de que os piratas eram selvagens sanguinários? Marketing. É muito mais fácil, barato e seguro aterrorizar as pessoas e fazer com que se rendam logo do que travar uma batalha. Não estou dizendo que eles eram bonzinhos, mas claramente tinham uma estratégia de imagem. O mesmo que fazem os políticos, as celebridades, os participantes do BBB ou eu e você. Isso mesmo. Nós também fazemos isso. Se você escolhe a roupa mais adequada para usar em um evento, pensa nas palavras de agradecimento que vai usar com alguém ou grava de novo a mensagem de áudio porque não gostou do que ouviu, está agindo um pouco como os piratas.

Essa semana a cantora Anitta foi ao famoso programa de entrevistas do Jimmy Fallon nos Estados Unidos. Depois da gravação, a artista publicou em suas redes um vídeo revelando um bastidor: "no começo da minha carreira eu sempre trazia o meu lado mais extrovertido, que polemiza, fala mais besteira porque isso trazia visibilidade para mim e com o tempo eu conseguiria mostrar outros lados meus como o de mulher de negócios". Disse isso para adiantar que, como está começando uma nova fase internacional, fez o mesmo nesse talk show. Em outras palavras, a cantora está nos contando que tudo que vemos sobre ela por aí, na verdade, é absolutamente planejado. Ela estabelece a imagem que quer que a gente reconheça nela e age, intencionalmente, para criar essa percepção.

Se você acha que isso é uma afronta à autenticidade das pessoas, preciso deixar um ponto de vista como marketeiro. Quem não presta atenção na real percepção que está deixando nas pessoas, corre o risco de que elas capturem apenas a sua pior versão. A ideia não é ser quem você não é. Mas destacar na hora certa, para a pessoa certa, as suas melhores qualidades. É assim que você vai "sair bem na foto".

fotografia - Felipe Tomazelli - Felipe Tomazelli
Imagem: Felipe Tomazelli