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Copom decide ganhar tempo, mas indica acelerar ciclo de alta dos juros
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A inflação está em alta e os sinais são de que as altas serão persistentes. Os aumentos de preços são disseminados, levando o índice de dispersão — o número de itens com elevação de preços na cesta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) — a um recorde histórico de 75%. Mais do que isso, os núcleos de inflação — índices que medem as altas de preços mais estruturais, sem efeitos sazonais — dispararam, indo parar em 1%, no mês de fevereiro.
Dispersão mais ampla é indicação de repasses de preços à frente. Núcleos mais altos, indicação de resistência inflacionária. E ainda tem a pressão das commodities — principalmente petróleo e trigo —, alimentando aumentos de custos e de preços, agravada agora pelo prolongamento da guerra na Ucrânia.
Na pesquisa Focus mais recente, desta segunda-feira (14), as projeções para a variação do IPCA em 2022 deram um salto - o que é raro no Focus - de quase um ponto em uma semana, avançando para 6,45%, já deixando bem para trás o teto do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação, que é de 5%. Analistas ensaiam jogar suas previsões para a inflação de 2022 a 7% ou 8%.
Com tudo isso pesando na balança da inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) considerou, por unanimidade, que não devia ir além de mais um ponto percentual em sua política de juros, na decisão desta quarta-feira (16), para 11,75% nominais ao ano. Como fez o Fed (Federal Reserve, banco central americano), que também anunciou aumento mínimo de 0,25 ponto nos juros de referência — passaram de 0%-0,25% para 0,25%-0,5% —, ambos preferiram, desta vez, adotar uma decisão do tipo "pombo", ou seja, mais leve.
Trata-se de um movimento para ganhar tempo, e se preparar para a eventualidade de ter de adotar, à frente, estilo mais duro, do tipo "falcão". Há incertezas fortes no ar, a começar do desenrolar da guerra na Ucrânia, do avanço das sanções econômicas e de seus impactos inflacionários, como deixa claro o comunicado divulgado pelo Copom no encerramento da sua reunião. Surgiu até mesmo uma sombra nas projeções de retomada da economia global, depois que começaram a pipocar recidivas de covid-19, a começar na China, que fizeram o preços do petróleo despencar nos últimos dias.
Mas, lá como aqui, a pressão inflacionária é real e não há como escapar de uma escalada nos juros. O presidente do Fed, Jerome Powell, deu a senha ao afirmar, na entrevista que sucedeu o anúncio da alta moderada nos juros, que poderá elevar a taxa mais rápido, se for necessário. Nos Estados Unidos, são esperadas mais sete altas de 0,25 ponto, fazendo os juros de referência alcançarem a faixa de 2%-2,25%, no fim do ano.
No Brasil, o Copom também sinalizou uma extensão no atual ciclo de altas, iniciado há exatamente um ano. Nas projeções da pesquisa Focus mais recentes, a Selic fechará 2022 em 12,25%, mas esse nível já será superado na reunião de maio, se o Cupom confirmar nova alta de um ponto percentual, menciona no comunicado, o que já levaria a Selic a 12,75%.
Cresce, contudo, o contingente de analistas que estimam juros básicos avançando até junho ou um pouco mais à frente para níveis entre 13% ou mesmo 14%. O efeito dessa possível intensificação na marcha dos juros básicos, se não ocorrerem eventos extraordinários, pode ajudar a segurar a cotação do dólar nas vizinhanças de R$ 5 em que se encontra.
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