IPCA-15 de maio desmente pressões imaginadas por economistas do mercado
É impossível não fazer uma leitura benigna dos resultados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15), de maio, divulgados nesta terça-feira (28), pelo IBGE. Apesar da alta em relação a abril, e o fato de o indicador não ter ainda captado todo o impacto negativo da crise no Sul, os números mostram a inflação caminhando em terreno confortável, sobretudo quando se considera que, no Brasil, diferentemente de outros lugares, o sistema de metas de inflação aceita um intervalo de tolerância.
O resultado do IPCA-15 dá indicações de que analistas do mercado financeiro, que, nos últimos tempos, passaram a projetar novas pressões inflacionárias, têm direito à sua opinião, mas não aos fatos da dinâmica dos preços, na economia brasileira.
Núcleos de inflação na meta
As projeções mais confiáveis para a inflação no fechamento de 2024 e também para 2025, se não convergem para o centro da meta de 3% — "exigentíssima", segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad — se acomodam bem no intervalo de tolerância, que vai até 4,5% nos dois anos.
O experiente Fábio Romão, economista da LCA Consultores, com anos de dedicação ao acompanhamento da evolução dos preços no mercado brasileiro, por exemplo, projeta inflação de 3,7% em 2024 e de 4% em 2025.
Sobre o IPCA de maio, fato, e não opinião, é o recuo da média dos núcleos — a inflação mais estrutural, limpa dos efeitos sazonais e de impactos inesperados —, desceu para alta de 3,1%, já no centro da meta. É a mesmo elevação da média móvel trimestral anualizada dos núcleos, uma antecipação da inflação. É fato também que ocorreu queda na variação de preços dos núcleos de serviços e de bens industriais.
Alimentação e serviços
A variação de preços no grupo alimentação, razão maior da preocupação de analistas de mercado, juntamente com os preços no setor de serviços, preocupação compartilhada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, surpreendeu para baixo. Preços dos alimentos subiram 0,3%, no IPCA-15 de maio, depois de elevação de 0,6% em abril.
Até o fim do ano a inflação de alimentos no domicílio deve registrar alta — mas alta moderada —, fechando 2024 com variação de 4,5%, um nível abaixo da média histórica. No meio do caminho, em junho e julho, a previsão é de deflação, mesmo que em menor intensidade do que se previa antes dos impactos negativos com origem no colapso das lavouras gaúchas.
Também os preços dos serviços, antes mais pressionados, começam a mostrar alívio. A projeção de Romão é de que o conjunto desses preços recuem em 2024 e 2025 ante o ano passado. A alta prevista para este ano e o próximo é de 4,2%, abaixo da elevação de 6,2% em 2023 (e de 8,9% em 2022).
Índices mensais comportados
Com alta em maio de 0,44%, abaixo das projeções do mercado, o IPCA-15 acumula elevação de 2,1% no ano e de 3,7% em 12 meses. O ritmo de alta mensal mais do que dobrou, na comparação com abril, mas ficou abaixo da variação de 0,5%, em maio de 2023.
No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 mostrou ligeiro recuo em relação à alta de 3,8%, registrada em maio do ano passado. Subidas nos preços de combustíveis, com destaque para gasolina, e ainda em medicamentos, refletindo a elevação anual de preços a partir de abril, puxaram o índice para cima.
Com base no IPCA-15, Fábio Romão prevê alta de 0,42% no IPCA cheio de maio. Nas projeções do economista, variação mensal desta magnitude só se repetirá em dezembro. Nos demais meses restantes de 2024, a inflação não chegaria a registrar altas de 0,3%, com chance de apresentar deflação em junho e julho.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.