Todos a Bordo

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Reportagem

Empresa lança 'UberCóptero' ligando Faria Lima ao aeroporto por R$ 2.500

Imagine ter de viajar e, para evitar o trânsito, ir de helicóptero até o aeroporto. Essa realidade dos super-ricos já existe em São Paulo desde agosto de 2023 por meio da plataforma digital Revo, pertencente ao grupo português OHI (Omni Helicopters International).

Seu funcionamento é diferente de um táxi aéreo convencional, se assemelhando mais com as plataformas de transporte como Uber. O passageiro, por meio de aplicativo ou diretamente com o serviço de concierge da empresa, agenda um voo em um dos helicópteros executivos para os destinos servidos de acordo com horários predeterminados.

Para super-ricos

Com foco em milionários, bilionários também já estão usando o serviço, segundo João Welsh, CEO da Revo. É o caso de pessoas que querem viajar da região do bairro Cidade Jardim até a Fazenda Boa Vista, empreendimento da JHSF em Porto Feliz (SP), da Faria Lima para o aeroporto de Guarulhos para embarcarem em voos de primeira classe para a Europa, por exemplo, ou até mesmo quem quer ir para praias do litoral norte paulista.

"Em muitas situações, pessoas que possuem helicóptero próprio acabam vendo na Revo uma alternativa quando vão viajar com toda a família. A frota da empresa acaba servindo como auxílio para levar todos para o aeroporto ou para seu destino de lazer, algo que levaria mais tempo com apenas uma aeronave se torna mais rápido com o nosso deslocamento", afirma Welsh.

Quanto custa?

Helicóptero da Revo em heliponto na região da Faria Lima, em São Paulo
Helicóptero da Revo em heliponto na região da Faria Lima, em São Paulo Imagem: Alexandre Saconi

Os valores oscilam conforme a demanda. Entretanto, um voo ligando a Faria Lima ao aeroporto de Guarulhos custa entre R$ 2.500 e R$ 3.000 por pessoa dependendo do horário do voo.

Voos entre o bairro Cidade Jardim e a Fazenda Boa Vista custam a partir de R$ 5.000 por passageiro. Caso sejam reservados entre seis e oito lugares da aeronave, esse valor cai para R$ 3.800.

Já nas rotas de verão, ligando a região da Faria Lima às praias de Juquehy (São Sebastião) e Ilhabela, ambas no litoral norte, os preços variam entre R$ 5.500 e R$ 8.500 por assento. Esse valor depende da quantidade de passageiros, sendo necessário haver ao menos duas reservas por voo.

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Quais rotas e horários?

Helicóptero da Revo, plataforma de mobilidade urbana
Helicóptero da Revo, plataforma de mobilidade urbana Imagem: Alexandre Saconi

Hoje, as rotas oferecidas pela empresa são as seguintes, ida e volta:

  • Região da Faria Lima ao aeroporto de Guarulhos: 12 voos diários ao todo, em dias úteis, sendo quatro partidas de cada local no período da manhã e duas no período da tarde. Duração: 10 minutos
  • Região do bairro Cidade Jardim até a Fazenda Boa Vista: Dois voos às sextas-feiras no período da tarde e dois às segundas-feiras no período da manhã. Três voos aos sábados de manhã e mais três aos domingos na parte da tarde. Duração: 30 minutos
  • Região da Faria Lima até a praia de Juquehy (em São Sebastião) e Ilhabela: Até o fim de fevereiro, a empresa opera dois voos diários às sextas na parte da tarde, aos sábados pela manhã, domingos na parte da tarde e segundas pela manhã. Duração: 1h10min
  • Outras regiões: A plataforma ainda permite voos sob demanda no modelo de fretamento para regiões próximas a São Paulo.

Da porta de casa até a porta do avião

O diferencial da Revo é conectar a pessoa de sua casa até o aeroporto. Não é apenas de heliponto a heliponto.

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A melhor rota é feita por meio do aplicativo, que vai determinar como deve ser feito o trajeto. Para isso, é utilizado um sistema de inteligência artificial para definir o momento ideal de levar o passageiro de casa até o heliponto e em qual helicóptero embarcar, por exemplo.

Uma equipe busca as malas do passageiro em casa com antecedência. Devido ao peso, geralmente, a bagagem segue por via terrestre até o destino.

Próximo ao horário da decolagem do helicóptero, o cliente é buscado em casa em carros de luxo e levado até o heliponto da empresa na região da avenida Faria Lima. O voo dura cerca de 10 minutos, e, caso o destino seja o aeroporto de Guarulhos, o local de pouso e decolagem é o terminal executivo.

Dali, é possível seguir por dois caminhos: Um, por fora do aeroporto, levando o passageiro até o terminal de embarque para passar pelos aparelhos de raio-X e pelos trâmites de migração. O outro é seguir por dentro do terminal aeroportuário, indo diretamente para o portão de embarque.

Escolha depende do que for mais rápido e mais viável para o cliente, afirma Welsh.

UOL testou o serviço

Sala de espera da Revo em prédio na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo
Sala de espera da Revo em prédio na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo Imagem: Alexandre Saconi
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A convite da Revo, o UOL testou o serviço oferecido pela empresa. No voo realizado no final de dezembro, cheguei diretamente no heliponto localizado na avenida Faria Lima na esquina com a avenida Juscelino Kubitschek.

No hall de entrada, um dos concierges da empresa nos ajudou a subir até a sala de embarque. Esse trajeto é feito em um elevador privativo, onde só vão os clientes da empresa.

Após chegar ao último andar do prédio, há duas salas de espera. Ali é possível aguardar o momento exato do voo de helicóptero. No ambiente, há sofás e é possível comer e beber com a alimentação oferecida no espaço.

Antes do embarque, é preciso assistir um vídeo de segurança. Assim como em aviões, os voos promovidos pela Revo também contam com instruções antes do embarque. A prática difere de algumas situações de táxi aéreo, onde o embarque é feito diretamente.

Momento de voar: O helicóptero chega e somos acompanhados por um bombeiro e pela equipe da Revo até a aeronave. Sempre estarão no comando dois pilotos.

Sala de espera da Revo em prédio na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo
Sala de espera da Revo em prédio na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo Imagem: Alexandre Saconi
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As aeronaves têm o interior na configuração executiva. Tanto o interior quanto o exterior são personalizados com a marca da empresa, já que as aeronaves são exclusivas para essa operação.

Como não iríamos pegar um voo em seguida, nosso trajeto foi um sobrevoo pela cidade. Em menos de 10 minutos seria possível chegar ao aeroporto. De carro, o trajeto pode facilmente ultrapassar uma hora mesmo em dias de pouco trânsito.

As aeronaves da Revo são bimotores, garantindo maior segurança. Soma-se a isso que a empresa, devido à forma que foi constituída, é passível de auditorias. Isso é fundamental para empresas de grande porte, que precisam garantir que seus executivos viajem de maneira segura e sem maiores riscos de acidente.

Avião da Revo decola de heliponto na região da Faria Lima, em São Paulo: Plataforma digital liga passageiros ao aeroporto ou outros pontos de interesse por via aérea
Avião da Revo decola de heliponto na região da Faria Lima, em São Paulo: Plataforma digital liga passageiros ao aeroporto ou outros pontos de interesse por via aérea Imagem: Alexandre Saconi

Uber tentou, mas não conseguiu

João Welsh, CEO da Revo, durante voo da empresa em São Paulo
João Welsh, CEO da Revo, durante voo da empresa em São Paulo Imagem: Alexandre Saconi
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Em 2016, a Uber tentou lançar uma modalidade de helicóptero em parceria com a Airbus no Brasil. A tentativa de democratizar um transporte de custo elevado se mostrou algo distante da realidade à época.

Essa lição foi uma das observadas pela Revo. "Não adianta cobrar valores muito baixos e a operação não ser sustentável no longo prazo", diz Welsh.

A frota da empresa é operada pela Omni Táxi Aéreo pertencente ao grupo OHI. No Brasil, a Omni tem operações, entre outros, no setor aeromédico e offshore, de transporte para plataformas e navios em alto mar, geralmente ligados à Indústria de petróleo e gás.

A empresa tem 20 anos de operação no Brasil, e realiza cerca de 1.500 voos semanalmente. Ao ano, são aproximadamente 500 mil pessoas transportadas.

Raio-X da empresa

Nome: Revo, pertencente ao grupo de origem portuguesa OHI
CEO: João Welsh
Funcionários: 28 (sendo 12 apenas ligados à operação e manutenção das aeronaves)
Frota: Dois helicópteros Airbus, modelos H135 e H155
Investimento inicial: US$ 5 milhões
Break even esperado: 12 meses
Rotas oferecidas: Quatro, sendo possível realizar voos sob demanda no modelo de fretamento
Voos semanais: cerca de 80 voos semanais
Taxa de retorno: 90% dos clientes voam novamente com a empresa

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Futuro é o eVTOL

A capital paulista é o primeiro local onde a Revo se instalou em todo o mundo. Ainda há planos para expansão para outras quatro cidades mundo afora nos próximos cinco anos.

Neste momento, a empresa se antecipou com helicópteros. Mas, no futuro, o objetivo é operar eVTOLS, do inglês, Electric Vertical Take-off and Landing (aeronaves elétricas de pouso e decolagem verticais), os famosos "carros voadores".

João Welsh, CEO da empresa, diz que já está acompanhando a evolução dessas aeronaves, que devem chegar na próxima década ao mercado. A Revo também mantém um acordo com a Eve Air Mobility, ligada à Embraer, e está desenvolvendo um eVTOL nacional.

O objetivo é que a empresa esteja pronta para quando houver a transição para esse modelo no futuro.

Os eVTOLs são o futuro da mobilidade. Eles tornarão os voos mais verdes, acessíveis e sustentáveis, mas quem vai operar esses veículos? Onde estão os passageiros? Há muito a ser feito ainda em termos de infraestrutura para que eles se tornem uma realidade em alguns anos. Estamos entrando primeiro, começando um processo acelerado de aprendizagem com helicópteros, para liderar essa transição. Estamos comprometidos em criar um futuro em que os voos urbanos serão mais democráticos e neutros em carbono
João Welsh

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Parque Villa-Lobos, em São Paulo: Vista a partir de voo em helicóptero da Revo
Parque Villa-Lobos, em São Paulo: Vista a partir de voo em helicóptero da Revo Imagem: Alexandre Saconi
Bairro dos Jardins, em São Paulo: Vista a partir de voo de helicóptero da Revo
Bairro dos Jardins, em São Paulo: Vista a partir de voo de helicóptero da Revo Imagem: Alexandre Saconi

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