Curva no fim do mundo: voo 'raspando' na Antártida não é o que parece
Um voo entre Santiago, no Chile, e Sydney, na Austrália, chamou a atenção recentemente nas redes sociais por passar próximo à Antártida. Ele é realizado pela empresa aérea Qantas e dura cerca de 13h30.
Durante o voo, o avião fica a cerca de 170 km de distância do continente gelado. A aeronave é um Boeing 787-9 Dreamliner.
Por que essa rota?
Os aviões costumam seguir a rota mais próxima entre dois pontos. É necessário respeitar as aerovias, que são como estradas no céu onde as aeronaves podem trafegar, mas, em linhas gerais, utiliza-se a menor distância entre o local da partida e o de chegada.
O voo da imagem segue, praticamente, uma linha reta, apesar de não parecer quando é exibido no mapa. Quem afirma é Enio Beal Jr., piloto de avião e integrante do grupo Proa Certa, um coletivo de profissionais da aviação que ajuda pilotos a se recolocarem no mercado.
Se for traçada a menor distância entre os dois aeroportos sobre o globo terrestre, a linha resultante será quase a mesma do voo, diz Beal. Ocorre que os mapas que conhecemos acabam apresentando uma distorção maior perto dos polos, justamente para conseguir transpor o formato esférico do globo terrestre para um mapa em duas dimensões apenas, afirma o piloto.
Outro exemplo de voo que desafia o senso comum ao se observar o mapa é aquele que pode ser feito entre o aeroporto de Guarulhos (SP) e o de Narita, no Japão. Intuitivamente, ao se observar o mapa, pode parecer que o avião decolaria cruzando o país rumo à Bolívia, passando pelo Peru e voando sobre o Oceano Pacífico diretamente até o país asiático.
Entretanto, a menor distância entre os dois aeroportos se dá com um voo mais ao norte, cruzando a Guiana, Estados Unidos, Canadá, Rússia e seguindo rumo ao Japão. Essa distância é de 18.490 km em linha reta.
Voou para o sul primeiro
No caso do voo para a Austrália, a rota exibida nas redes sociais mostra o avião indo em direção ao sul do Chile antes de voar sobre o oceano. De acordo com Beal, isso pode ocorrer por influência da meteorologia, já que a região tem fortes ventos.
Os aviões buscam sempre voar no mesmo sentido e direção do vento para economizarem combustível e ganharem velocidade. Esses jatos de ar costumam mudar frequentemente, e, em algumas ocasiões, as empresas podem mudar a rota para aproveitar essas condições, mesmo que a distância aumente um pouco.
Beal ainda diz que as rotas mudam frequentemente, com as aerovias sendo redesenhadas para melhor o fluxo dos aviões.
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Quero receberNão necessariamente se faz a mesma rota todos os dias. Vide o caso das 'aerovias' do Atlântico Norte, que têm seus trajetos publicados diariamente, em função do vento.
Enio Beal Jr., piloto de avião
Ainda, é comum que aviões não voem tanto tempo longe de aeroportos onde possam realizar pousos de emergência, embora não pareça ser o caso. O limite de tempo de voo sobre áreas onde não há para onde ir nessas situações é certificado para cada aeronave.
Algumas podem voar, por exemplo, em locais a até 120 minutos de distância de um aeroporto, enquanto outras podem ficar a até 330 minutos afastadas de um local para pouso. Essa duração varia de acordo com o tipo de avião, motor e, principalmente, testes realizados de como a aeronave se comportaria diante de uma falha em voo.
Procurada pelo UOL, a Qantas não informou o motivo de seus aviões voarem tão próximos à Antártida nessa rota.
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