Carro voador chinês custará R$ 2,7 mi no Brasil; país é o 3º maior mercado
Atrás apenas de Estados Unidos e China, o Brasil desponta como o terceiro maior mercado para os carros voadores. Por aqui, essas aeronaves devem começar a operar a partir do final de 2025, e os primeiros exemplares devem custar entre R$ 2 milhões e R$ 2,7 milhões.
Essas aeronaves, apesar do nome, não têm nada a ver com carros tradicionais, e são chamadas, tecnicamente, de eVTOLs (electric Vertical Takeoff and Landing, ou, Aeronave de Decolagem e Aterrissagem Vertical Elétrica).
Mercado nacional em destaque
O país, ao final de 2023, possuía 780 carros voadores encomendados. Os dados são da Mundo Geo, empresa organizadora da Expo eVTOL, feira do setor realizada esta semana em São Paulo.
Entre as empresas com encomendas ativas desse tipo de aeronave estão a Avantto, Azul, Flapper, FlyBis, Gol, Helisul e Voar Aviation. Os carros voadores envolvidos nessas aquisições são os da brasileira Eve (da Embraer), os da alemã Lilium e os da empresa britânica Vertical Aerospace.
O espaço para esse tipo de operação ganha destaque, principalmente, na capital São Paulo. A cidade tem a maior frota de helicópteros do mundo, segundo a editora britânica Bureau Latino-Americano, mostrando o potencial para deslocamentos urbanos de curta distância.
A cidade tem mais de 400 helicópteros registrados em operação, e mais de 200 helipontos. Ao todo, cerca de 2.000 pousos e decolagens são registrados diariamente na capital paulista.
Primeiro carro voador certificado
A empresa brasileira Gohobby trouxe ao Brasil no final de 2023 o modelo 216-S, da empresa chinesa Ehang (veja ficha técnica no final da reportagem). Ele é considerado o primeiro carro voador do mundo a receber uma certificação de tipo, com capacidade para levar duas pessoas e é controlado de maneira remota.
Essa aeronave, entretanto, não pode voar por aqui, pois ainda não foi testada e homologada. Segundo Jose Ignacio Rexach, CCO da Ehang para a Europa e a América Latina, o Brasil possui um sistema exemplar de regulação e desenvolvimento aeronáutico.
O executivo diz que o Brasil tem um dos melhores cenários para o mercado de eVTOLs no mundo: um ambiente regulatório altamente competente, uma indústria aeroespacial forte e locais onde o uso dos carros voadores é considerado um diferencial.
Rexach ainda destaca que há diversas funções possíveis para um carro voador além de desviar do trânsito pesado das capitais.
Além da utilização em centros urbanos congestionados, o turismo pode se beneficiar do uso dos eVTOLs, por exemplo. O setor pode oferecer rápidas conexões entre dois aeroportos ou com resorts, voos panorâmicos, entre outros. O setor médico ainda pode utilizar essa tecnologia para transporte de órgãos ou, até mesmo, de pacientes com necessidades hospitalares
Jose Ignacio Rexach, diretor da Ehang, fabricante chinesa de carros voadores
Esse setor ainda deverá atingir uma cifra trilionária em breve. "Há uma expectativa que o mercado de eVTOLs no mundo chegue a movimentar US$ 1 trilhão (R$ 5,15 trilhões) em 2030. Desse total, cerca de 20% devem ser gerados na América Latina, e o Brasil deve representar uma fatia importante nessa fatia", afirma Rexach.
O CEO da Gohobby, Adriano Buzaid, diz que já têm 15 posições na fila de espera para a entrega do drone vendidas, ao custo de R$ 80 mil cada, valor baixado para R$ 60 mil na Expo eVTOL. O exemplar deve chegar a Brasil ao custo de, aproximadamente, R$ 2,7 milhões, e as entregas têm expectativa de começar no final de 2025.
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Quero receberA capacidade de crescimento do setor, segundo Buzaid, é grande para os próximos anos. "Com o EH216-S, é possível fazer o trajeto entre o aeroporto de Congonhas e o de Guarulhos com uma carga elétrica equivalente a R$ 12, por exemplo. Nem de carro chega a ser tão barato, o que mostra o potencial do segmento", afirma o executivo.
Costumo dizer que três coisas encarecem a aviação: combustível, manutenção e tripulação. Na parte do combustível, o carro voador já tem isso resolvido. Quanto à manutenção, os motores elétricos têm muito menos reparos a serem feitos em comparação com aqueles à combustão, como nos carros tradicionais. Já sobre a tripulação, um único piloto é capaz de acompanhar e controlar vários voos desses eVTOLs devido à automação envolvida
Adriano Buzaid, CEO da Gohobby
Modelos nacionais
A Eve, empresa fundada pela Embraer, possui centenas de pedidos de seu carro voador em diversos países. A empresa está em estágio avançado de desenvolvimento, com previsão de início de voos comerciais até o final da década.
Esse eVTOL deverá ser fabricado em Taubaté, no interior de São Paulo. A empresa também tem várias parcerias para criar o ecossistema onde esses carros voadores estarão inseridos, que inclui a fabricação da aeronave, sistemas de navegação aérea, e sistemas de comunicação.
No Ceará, a Vertical Connect está dando início a um modelo para transporte de até quatro passageiros, que deverá chegar ao mercado ao custo de R$ 2 milhões. Ele contará com um piloto a bordo, como o modelo da Eve, mas poderá voar sem, de maneira autônoma, caso seja a preferência do cliente, segundo o diretor operacional da empresa, Marco Berzaghi
O novo eVTOL que a empresa está desenvolvendo ainda contará com paraquedas para situações de emergência. Seu principal material será a fibra de carbono, com partes onde haverá um maior esforço sendo confeccionadas em alumínio aeronáutico.
A empresa fechou um acordo para produzir os drones em uma fábrica que será construída em Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza (CE). A sede fica na capital cearense e o escritório de desenvolvimento fica em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, que tem um polo aeronáutico estabelecido.
Certificação no país
Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), apenas três carros voadores estão passando atualmente no Brasil por um processo de certificação ou validação, que é quando se deseja ter a equivalência da certificação obtida em outro país. São eles:
- Eve Airmobility, da Embraer (certificação primária, ou seja, do zero)
- Lilium Airmobility (validação dos processos iniciados na Agência Europeia para a Segurança da Aviação)
- Vertical Aerospace (validação dos processos iniciados junto à Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido)
O EH216-S, trazido pela Gohobby ao Brasil, tem pedidos junto à Anac para operar de maneira experimental sem passageiros, como um drone convencional. Esse procedimento é mais simples do que a operação com pessoas a bordo, e não descarta a continuidade do processo para receber autorização para levar passageiros em outro momento.
A agência ainda está desenvolvendo o modelo para certificar os carros voadores. Para isso, possui consultas públicas, onde a sociedade é ouvida para ajudar na construção nessa nova política pública.
Ficha técnica
Modelo: EH216-S
Fabricante: Ehang
País de origem: China
Altura: 1,93 metro
Largura: 5,73 metro
Peso máximo de decolagem: 620 kg
Distância máxima de voo: 30 km
Velocidade máxima: 130 km/h
Capacidade máxima de carga: 220 kg (incluindo passageiros e bagagem)
Capacidade do bagageiro: Até 20 kg
Passageiros: Até dois
Sistema de voo: Controlado a distância ou programado previamente
Preço estimado: R$ 2,7 milhões (no Brasil) e US$ 410 mil (na China)
Expectativa de início dos voos: Final de 2025
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