Há 30 anos, rei Charles causou acidente com avião que ele mesmo pilotava
O rei Charles 3º, do Reino Unido, tem uma longa história envolvendo a aviação. Ele é piloto, e voou em diversas aeronaves durante seu serviço junto à Força Aérea Real.
Hoje enfrentando um câncer de próstata, diagnosticado no começo do ano, ele já precisou lutar pela vida em outros momentos. Um deles ocorreu há 30 anos, em 29 de junho de 1994.
Linha sucessória quase abalada
Naquele dia, o rei Charles 3º, ainda príncipe de Gales, se acidentou com o avião que pilotava. No momento, ele realizava um pouso em uma ilha na Escócia.
Durante a operação, o monarca realizou uma manobra errada que fez o avião tocar de maneira inadequada o chão, estourar três pneus e sair da pista.
Charles passava por um momento delicado em sua vida. Em janeiro daquele ano, um estudante havia disparado dois tiros contra ele feitos com uma arma usada para anunciar a largada de corridas.
Ele havia se separado da princesa Diana em 1992, cerca de um ano e meio , e estava sob pressão devido à transmissão de um documentário sobre sua vida que iria ao ar mais tarde naquele mesmo dia.
O acidente
Charles 3º estava em um voo que havia partido de Aberdeen (Escócia) com destino a o aeroporto Islay, localizado em uma ilha no oeste do país. A aeronave era um British Aerospace BAe-146-100, pertencente ao governo britânico.
Onze pessoas estavam a bordo, incluindo o próprio Charles. Durante a aproximação, ele pediu ao comandante Graham Laurie para pousar a aeronave.
Como Charles já foi piloto das forças armadas britânicas, isso não seria nenhum problema, o comandante concordou e passou os comandos para ele. A aproximação era instável, com fortes ventos.
Charles manteve o BAe-146 mais alto e rápido do que o correto para o pouso naquela pista em Islay. Fortes ventos traseiros fizeram com que o avião tocasse o trem de pouso dianteiro na pista primeiro, mantendo as rodas de trás elevadas, como em um carrinho de mão.
Isso fez com que os sistemas que acionam os freios demorassem a funcionar, já que a aeronave interpretava que o avião ainda não havia tocado o solo adequadamente. Com essa demora, o avião continuou na pista até ser muito tarde para conseguir parar.
Três pneus estouraram, fazendo com que Charles perdesse o controle e saísse da pista. O avião parou na grama, batendo o nariz contra o chão e afundando na lama.
Apesar da gravidade do acidente, ninguém ficou ferido.
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Quero receberConstrangimento e aposentadoria
Charles se envergonhava de seu erro. "Não foi bem um acidente", disse à época, tentando disfarçar o sentimento de culpa. "Nós atravessamos o final da pista, infelizmente. Não é algo que recomendo", afirmou.
Além do constrangimento, os prejuízos estimados à época eram de US$ 1,6 milhão.
Em julho de 1995, quando o relatório final sobre o acidente foi divulgado pelo Ministério da Defesa do Reino Unido, Charles anunciou que não iria mais pilotar aviões e helicópteros. O motivo foi, justamente, ter causado a colisão da aeronave no ano anterior.
O monarca foi isento da culpa, mas o comandante do avião e o navegador do voo foram acusados de negligência, pois não teriam alertado Charles sobre o vento de cauda e que os parâmetros para o pouso estavam incorretos.
Em um documentário do Channel 5 produzido anos depois, o comandante Graham Laurie assumiu toda a responsabilidade pelo acidente. "Eu deveria tê-lo feito arremeter e fazer outra aproximação, mas, na verdade, eu disse a ele [Charles] para pousar. Então, ele fez exatamente o que foi dito para ele fazer", disse o piloto no programa.
Momento delicado na vida do monarca
O rei estava sob forte pressão naquele momento. Na noite daquele dia, um documentário intitulado "Charles, O Homem Particular, O Papel Público" foi transmitido.
A produção sobre a vida do monarca, embora vista como favorável à sua imagem, trazia Charles assumindo que traiu Diana. No momento do voo, havia a apreensão do hoje rei sobre os impactos que o documentário poderia causar.
A revelação da traição confirmava que o rei já mantinha um relacionamento paralelo com a atual rainha consorte, Camilla Parker Bowles.
Quatro meses antes, em fevereiro daquele ano, Charles viajou à Nova Zelândia, país integrante da Comunidade das Nações (Commonwealth), do qual hoje é considerado o chefe de Estado. Na visita ao país, um idoso se aproximou abruptamente de Charles e sacou um objeto metálico, colocando-o sobre a cabeça do monarca. Nesse momento, ele grita: "Eu quero remover o fedor da monarquia".
O manifestante antimonárquico estava com uma lata de spray contra maus odores, e foi cercado pela segurança real à época.
Esses fatores colocavam pressão sobre Charles, e podem ter sido decisivos para o erro na pilotagem, uma vez que Charles era piloto desde a década de 1970.
Mesmo assim, Charles ainda continuou como o primeiro príncipe na linha de sucessão por 28 anos.
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