Todos a Bordo

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Reportagem

Aviões colidem no pátio de Congonhas: o que causa esse tipo de incidente?

Um Boeing 737 da Gol foi atingido por um Airbus A319 da Latam na segunda-feira (29) no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O Boeing estava parado com os passageiros a bordo se preparando para decolar quando outro avião, que havia acabado de pousar, taxiava para o desembarque no momento da colisão.

A ponta da asa do avião da Latam colidiu com a traseira do avião da Gol, causando danos às duas aeronaves. Nenhum dos passageiros ficou ferido, e os dois aviões foram levados para a manutenção.

Esse tipo de ocorrência é comum? Por que acontece?

Acontece raramente

Situações de toque entre aviões no solo são eventos raros e, geralmente, não deixam feridos apesar do susto. São operações enquanto as aeronaves estão se movimentando no solo, e não acidentes graves, como aqueles durante o pouso e a decolagem.

Desde 2020, o Brasil registrou quatro ocorrências do tipo "colisão no solo". Os dados são do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão ligado à FAB (Força Aérea Brasileira). Em todos os casos, ninguém ficou ferido e os danos às aeronaves foram classificados como leves.

Também há um outro tipo de incidente no solo, que ocorre quando um avião é atingido por uma escada de serviço ou um veículo usado no aeroporto, por exemplo. Foram registradas 29 ocorrências do tipo no Brasil desde 2020, índice sete vezes maior do que o das colisões entre aeronaves.

Por que acontece?

Grande parte dessas ocorrências se deve à falta de noção do espaço que o avião está ocupando no solo. De dentro da cabine, é difícil os pilotos acompanharem onde as pontas das asas estão, ainda mais do lado oposto de onde estão sentados.

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As pistas de taxiamento e os espaços de manobras dos aeroportos têm linhas desenhadas no solo que servem para orientar a movimentação das aeronaves. Elas são planejadas para que os pilotos possam se deslocar em segurança sem colocar a operação em risco. Quem afirma é o piloto Saulo Alves Utempergher, integrante do grupo Proa Certa, um coletivo de profissionais da aviação que ajuda pilotos a se recolocarem no mercado.

Aeroportos também possuem cartas que orientam por onde os aviões irão taxiar. Nelas, está descrito qual a envergadura [distância de ponta a ponta da asa] máxima que um avião pode trafegar sem correr o risco de bater em algum obstáculo, como um poste ou outro avião. Os pilotos precisam analisar essa documentação antes de se deslocarem no aeroporto.
Saulo Alves Utempergher

Um caso extremo, cita o piloto, é o dos aviões Airbus A380 e Boeing 747, dois dos maiores modelos em operação no mundo hoje em dia. Devido ao seu tamanho, eles devem seguir rotas de taxiamento pré-determinadas, e não podem se movimentar por qualquer pista sem autorização.

Outra possível causa para um incidente do tipo ocorre é o fato de os pilotos estarem concentrados em outras atividades comuns da cabine no momento da movimentação. Após o pouso, é preciso realizar diversas tarefas enquanto se está taxiando e, ao se abaixar a cabeça ou focar em outro local, é possível que esse tipo de ocorrência aconteça, explica Utempergher.

O piloto afirma que isso é raro, já que os tripulantes seguem a linha central indicada para a movimentação. Entretanto, pode acontecer de que algum equipamento, como uma escada, seja posicionada em uma dessas áreas de segurança por algum equívoco, podendo vir a causar a colisão.

Outra hipótese seria uma possível falta de coordenação entre os diversos atores envolvidos na operação aeroportuária. Uma aeronave pode ter tido sua movimentação autorizada enquanto outra estaria se movendo equivocadamente, fazendo com que ambas entrassem em rota de contato.

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Por fim, ainda há a possibilidade de uma falha mecânica, como um problema com o freio, levando as aeronaves a se deslocarem de maneira errada.

Mundo afora

Em janeiro de 2024, um avião da Korean Air atingiu um da Cathay Pacific enquanto taxiava no aeroporto de New Chitose, na região de Sapporo, no Japão. O avião da Cathay estava vazio no momento. Ainda em janeiro, uma aeronave da All Nippon Airways que se movimentava para decolar do aeroporto Chicago O'Hare, nos EUA, atingiu a parte de trás de uma aeronave da Delta.

Em fevereiro, a ponta da asa de um avião da JetBlue atingiu a traseira de outro da mesma empresa durante movimentação no aeroporto Logan, em Boston (EUA). Eles estavam na área de degelo, local onde os aviões param para receber um "banho" com líquidos especiais para remoção de neve e gelo de suas superfícies. Em todos os casos, ninguém ficou ferido e os aviões foram recuperados posteriormente.

Veja o posicionamento das empresas

Aena (concessionária do aeroporto de Congonhas)

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"Duas aeronaves colidiram em solo durante procedimento de taxiamento na tarde desta segunda-feira no Aeroporto de Congonhas. O incidente ocorreu após uma falha no equipamento de pushback, operado por empresa contratada pelas companhias aéreas. Não houve feridos e os passageiros foram realocados para outras aeronaves".

Gol

"A GOL informa que, durante o procedimento de push back da aeronave que faria o voo G3 1238, de Congonhas (CGH) para Florianópolis (FLN) nesta segunda-feira (29/07), houve contato entre a ponta da asa de um avião de companhia congênere e a cauda da aeronave da GOL, que seguiu para manutenção".

Latam

"A Latam já acomodou em outros voos todos os passageiros impactados na segunda-feira (29/7) pelos cancelamentos dos seus voos originais em Congonhas, após o incidente em solo com a aeronave de outra companhia. A aeronave da LATAM envolvida no incidente permanece em manutenção e a empresa apura o ocorrido para seguir adotando todas as medidas técnicas e operacionais para uma viagem segura a todos".

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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