A220: Aposta da Airbus que concorre com Embraer tem investimento de R$ 6 bi
A Airbus mantém uma posição de destaque no mercado global de aviões de passageiros. Nos últimos anos, o A320 superou em número de pedidos seu maior concorrente, o Boeing 737. Desde o lançamento, o avião da fabricante norte-americana acumula 19.320 pedidos, enquanto o A320, da europeia Airbus, soma 19.586 encomendas.
Entretanto, um outro avião da Airbus, menor, tem ganhado espaço no mercado global e pode representar uma competição direta para a brasileira Embraer: o A220. Esta aeronave, inicialmente desenvolvida pela canadense Bombardier e posteriormente adquirida pela Airbus, tem se destacado em seu segmento.
Histórico
O A220, originalmente conhecido como C Series, foi anunciado em 2008 com as variantes CS100 e CS300. Desenvolvido pela Bombardier, uma fabricante canadense com longa história na aviação, o primeiro exemplar entrou em serviço em 2016 pela companhia aérea Swiss, em um voo de Zurique (Suíça) a Paris (França).
Em 2018, a Airbus adquiriu a maior parte do programa por uma quantia simbólica de um dólar canadense, uma vez que o projeto enfrentava sérios problemas financeiros. O programa foi então renomeado para A220, seguindo a tradição da Airbus na nomenclatura de suas aeronaves. Em 2020, o governo de Quebec, no Canadá, e a Airbus tornaram-se os proprietários majoritários do programa.
O Avião
Focado no segmento de aeronaves entre 100 e 150 assentos, o A220 se destaca por operar em aeroportos com pistas mais curtas ou com restrições de operação. Com uma cabine de 3,3 metros de largura, o A220 permite uma configuração de dois assentos de um lado do avião e três assentos do outro, contrastando com a configuração mais comum do A320, que possui três assentos de cada lado do corredor.
Equipado com motores Pratt & Whitney PW1500G, o A220 utiliza a última geração de motores a jato, oferecendo uma economia de combustível de aproximadamente 25% em comparação com aeronaves de gerações anteriores. Além disso, o formato oval da fuselagem proporciona mais espaço acima das cabeças e para os ombros dos passageiros sentados nas janelas, além de permitir um bagageiro mais amplo.
As janelas do A220 são maiores do que as de aviões mais antigos, medindo 28 cm por 40 cm. Os sanitários foram desenhados para facilitar o acesso a pessoas com mobilidade reduzida, algo geralmente encontrado apenas em aviões de fuselagem mais larga.
A fábrica
A linha final de montagem (FAL) do A220 está localizada em Mirabel, na região metropolitana de Montreal, Canadá. Outra linha de montagem está situada em Mobile, no estado do Alabama, EUA, responsável por cerca de um terço das entregas do modelo.
Com uma equipe de 3.500 funcionários na unidade canadense, 1.600 dos quais foram contratados nos últimos dois anos, a fábrica reúne componentes de diversos países para realizar a montagem final do avião. Em Mirabel, a pré-FAL realiza a montagem inicial da fuselagem, incluindo o revestimento acústico e a instalação da fiação, antes de seguir para uma das três linhas finais de montagem.
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Quero receberUm diferencial observado durante nossa visita foi o mecanismo de fixação das asas. Através de um sistema interno de posicionamento, robôs realizam a união precisa das asas ao corpo do avião, uma tecnologia rara no mercado que reduz o tempo de montagem e aumenta a precisão da operação, diminuindo a probabilidade de problemas a longo prazo.
Na unidade de Mirabel são reunidas peças oriundas de diversos países do mundo. As asas, por exemplo, chegam do Reino Unido. O trem de pouso é da Alemanha, as portas e o cone de cauda são da China, os estabilizadores chegam da Itália e o interior é fabricado nos Estados Unidos.
"Ave de Aço"
Desde o início do projeto, o A220 é testado em uma estrutura apelidada de "Iron Bird" ("Ave de Aço") pelos funcionários. Este prédio em Mirabel abriga todos os sistemas da aeronave montados em tamanho real para testes de sobrecarga, simulações de voo e outras análises, mas sem sair do chão.
Uma das provas consiste em "travar" uma das superfícies da asa que controlam o avião, analisando como os sistemas se comportam sob essa condição. Além do "Iron Bird", a Airbus utiliza aviões de teste reais, onde novos dispositivos e melhorias são implementados antes de serem repassados aos aviões comerciais.
A fábrica também conta com um centro de desenvolvimento com um simulador de engenharia. Cada alteração é inserida neste simulador, e, se aprovada, é implementada nos aviões reais. No Canadá, a Airbus ainda mantém um centro de aprendizado para novos pilotos em parceria com a CAE, empresa especializada em treinamento e produção de simuladores de voo.
Investimento bilionário
A Airbus e o governo de Quebec anunciaram recentemente um investimento de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,65 bilhões) na Airbus Canada, responsável pela fabricação do A220. O grupo europeu detém 75% da empresa, enquanto o governo canadense possui 25% das ações, com investimentos de US$ 900 milhões e US$ 300 milhões, respectivamente.
Apesar do valor elevado, o impacto econômico positivo previsto do programa A220 no Canadá é superior a US$ 40 bilhões (R$ 222 bilhões) até 2038. Estima-se que o governo recupere US$ 488 milhões (R$ 2,7 bilhões) por ano em impostos, segundo estudo da consultoria independente PwC.
Até hoje, cerca de 350 unidades do A220 foram entregues a 21 operadores, e a previsão é que 14 aeronaves sejam produzidas por mês até 2026, com mais de 900 pedidos em carteira.
Sem operadores na América do Sul
Atualmente, nenhuma companhia aérea na América do Sul opera o A220. Em 2022, o modelo fez uma parada no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, durante uma demonstração para países da região. Entretanto, até o momento, os operadores do A220 estão concentrados na Europa, Ásia e América do Norte.
Brasileiro no projeto
O engenheiro brasileiro Andre Blanchet participa do programa A220 desde o início, ainda sob a gestão da Bombardier. Formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Blanchet ingressou na Bombardier em 1998 e, em 2009, passou a gerir o programa A220. Hoje, ele é líder de engenharia de clientes do modelo.
"Tenho muito orgulho de fazer parte desse projeto. É uma experiência única trabalhar em algo que se tornou um marco na aviação", afirma Blanchet. Ele explica que o A220 foi desenvolvido do zero, com foco em ser uma aeronave de 100 a 150 assentos, aproveitando as mais recentes tecnologias para otimizar o design entre asas, motores e fuselagem.
Embora a fuselagem principal seja de alumínio, as asas, estabilizadores e a cauda são feitos de fibra de carbono, tornando o avião mais leve e eficiente em termos de consumo de combustível. Essa eficiência se traduz em uma redução de 25% no consumo por passageiro, em comparação com outros aviões tradicionais, além de menor emissão de poluentes e ruído, permitindo operações em áreas urbanas com restrições de ruído.
Embraer e Latam
Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil, afirmou recentemente que a empresa está considerando expandir sua frota com aeronaves menores. A fala foi feita no começo de agosto durante o anúncio dos resultados trimestrais da empresa.
"E essa frota menor pode vir da Embraer, pode vir da Airbus, e a gente está constantemente buscando alternativas para aumentar esse crescimento", disse o executivo à época.
O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, ao comentar a concorrência com o A220, destacou o E2, o modelo mais moderno da linha E-Jets da Embraer.
"A gente compete em todos os mercados com o A220. Mas, na nossa opinião, o E2 é um avião mais eficiente, com menores custos de operação e menores custos de manutenção. Ele está na medida perfeita para mercados como o Brasil. Pode ver as operações da própria Azul, da Scoot na Ásia e da KLM na Europa. Achamos que o E2 é um avião muito competitivo", disse o executivo após ser questionado sobre a concorrência com o avião da Airbus.
O A220 e o E2 disputam um mercado anteriormente dominado pelos Airbus A319 e Boeing 737-700, e as companhias aéreas terão de escolher entre o modelo norte-americano e o sul-americano.
Ficha Técnica
Modelo: A220-300
Fabricante: Airbus
Capacidade: De 120 a 150 passageiros
Peso máximo de decolagem: 70,9 toneladas
Alcance: 6.300 km
Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 35,1 metros
Altura: 11,5 metros
Comprimento: 38,7 metros
Velocidade: 871 km/h
Distância de decolagem: 1.200 metros
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