Lanches e guerra: por que os EUA tinham Burger King em bases no Iraque?
Ambientes de guerra costumam ser minimalistas, tendo apenas o mínimo necessário para operar os objetivos de uma das partes. Entretanto, após anos de conflito, o convívio no local muda e a vida em bases militares costuma receber uma dose de hospitalidade e familiaridade para quem frequenta (ao menos, não como prisioneiro).
Uma mudança que levanta curiosidade é a presença de redes de fast food nesses locais. São exemplos marcas como Burger King, McDonald's, Subway e Pizza Hut, algumas das principais lanchonetes do país.
Qual a estratégia por trás disso?
Instalar redes de fast food nas bases militares tem raízes tanto logísticas quanto emocionais. Para muitos soldados, estar em uma base militar ou em um campo aéreo dos EUA, como é o caso do Afeganistão, Kuwait ou Iraque (todos no Oriente Médio), significa longos períodos de afastamento do convívio familiar e da vida cotidiana em seu país natal.
Essas redes de fast food acabam oferecendo mais do que alimentos diferentes das refeições tradicionais ou das rações militares durante o período em serviço. Elas acabam representando uma conexão simbólica com o lar, significando conforto em meio à guerra, por mais irônico que isso possa parecer.
As refeições nessas lanchonetes também podem ter uma função prática, já que elas permitem uma opção de entretenimento e descontração em ambientes onde o lazer é escasso. Assim, elas também acabam funcionando como uma espécie de ferramenta de alívio psicológico diante das pressões e do estresse causado naquelas situações, além de serem uma opção de cardápio variado.
'É guerra, e não parque de diversões'
Em 2010, o general Stanley McChrystal, que comandava as forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão à época, baniu as redes de fast food das bases sob seu comando. No ano anterior, ele já havia proibido bebidas alcoólicas na base de Cabul, capital do país, sob a alegação de que militares estavam comparecendo ao serviço de ressaca.
A alegação para o fim das lanchonetes foi a de que o foco deveria estar em atender às necessidades essenciais e materiais de guerra, e não em manter infraestruturas comerciais. Um comandante chegou a escrever em um blog militar: "Esta é uma zona de guerra, não um parque de diversões", alterando os ânimos na região.
Ainda se afirmou que fornecer luxos não essenciais a grandes bases na região, como Bagram e Kandahar, desviava a atenção das necessidades primárias da guerra, como levar armamentos, água e comida para os combatentes.
Banimento durou pouco
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Quero receberA medida gerou resistência entre os soldados e seus familiares. O apelo emocional e a sensação de normalidade proporcionada pela presença das redes de fast food eram importantes para o moral das tropas.
Após sete meses de banimento, diante da troca do comando local, lojas e redes de fast food voltaram a ser instaladas nas bases até o fim da Guerra no Afeganistão, encerrada em 2021 com a retirada das tropas da Otan do país.
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