Todos a Bordo

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Reportagem

Governos bloqueiam R$ 10,5 bi de aéreas e colocam voos em risco mundo afora

Governos de vários países mantêm bloqueio de US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 10,5 bilhões) de companhias aéreas. As informações são da Iata (International Air Transport Association, ou Associação Internacional de Transportes Aéreos).

Paquistão lidera, Bolívia preocupa

Embora tenha diminuído o valor bloqueado durante 2024, o Paquistão se manteve no topo da lista, com US$ 311 milhões (R$ 1,9 bilhão) bloqueados. Segundo a Iata, o principal problema das aéreas em reaver o dinheiro retido no país se concentra no sistema de auditoria dos gastos e em isenção de impostos, que estão atrasando o processamento.

A Bolívia se mostrou como uma nova preocupação, com US$ 42 milhões bloqueados (R$ 260 milhões) recentemente. Uma queda na quantidade de moeda estrangeira no país seria o principal motivo para isso.

Ranking

Não só a quantidade, há o tempo que os países retém esses valores. Veja o ranking:

  • Paquistão: US$ 311 milhões (48 meses retendo valores)
  • Zona XAF*: US$ 235 milhões (60 meses retendo valores)
  • Bangladesh: US$ 196 milhões (47 meses retendo valores)
  • Argélia: US$ 193 milhões (24 meses retendo valores)
  • Líbano: US$ 142 milhões (60 meses retendo valores)
  • Moçambique: US$ 127 milhões (47 meses retendo valores)
  • Angola: US$ 80 milhões (36 meses retendo valores)
  • Eritreia: US$ 75 milhões (96 meses retendo valores)
  • Zona XOF**: US$ 73 milhões (12 meses retendo valores)

* Zona XAF é o grupo de países da África que usam como moeda comum o Franco CFA da África Central. São eles: Camarões, Chade, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana e República do Congo
** Zona XOF é o grupo de países africanos que usam como moeda comum o Franco CFA da África Ocidental. São eles: Benim, Burquina Fasso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Niger, Senegal e Togo

Motivações

Willie Walsh, diretor-geral da Iata, explica que a indústria da aviação é fortemente ligada ao dólar, e que a dificuldade desses países em terem acesso a essa moeda acaba levando ao bloqueio.

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"Isso tende a ser a principal causa do bloqueio de fundos em certos países, porque o país tem dificuldade em acessar dólares e, quando consegue, não dá muita importância a garantir que a indústria aérea tenha acesso aos dólares", diz o executivo.

Essa questão vai além de remessa de lucros para as sedes das companhias. O pagamento do leasing, espécie de aluguel das aeronaves (também chamado de arrendamento mercantil), costuma ser feito em dólar em outros países.

Esse também se torna um gargalo da operação, já que esses mercados perdem atratividade, conectividade e voos, uma vez que os fundos não conseguem ser repatriados, afirma Walsh.

"isso não será positivo para os consumidores, porque tende a reduzir a capacidade que uma companhia aérea estrangeira está disposta a alocar no mercado, o que é exatamente o que está acontecendo na Venezuela. A maioria das companhias aéreas estrangeiras que atendem ao país está apenas oferecendo serviços que cubram os custos que incorram no mercado de moeda local, em vez de se exporem mais amplamente", conclui o diretor-geral da Iata.

* O colunista viajou a Genebra a convite da Iata

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