Katherine Rivas

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Reportagem

20 maiores pagadoras de dividendos em 2024; Marfrig lidera

Finalmente o ano de 2024 chegou ao fim, para alívio de alguns e saudade de outros. Na bolsa de valores, no entanto, nem todos os investidores tiveram momentos de alegria. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou o ano com queda de 10,36%, pior patamar desde 2021, quando caiu 11,93%.

Quem investiu com foco em dividendos teve perdas menores. O Índice de Dividendos (IDIV), que reúne ações com bom dividend yield (retorno em proventos), fechou 2024 em baixa de 2,62%. Para 2025, diante dos juros elevados, a perspectiva é de um ano ainda mais desafiador, em que ações conhecidas por ser boas pagadoras de proventos podem representar um verdadeiro refúgio para investidores na renda variável.

Na fotografia de 2024, alguns nomes se repetem entre as dez maiores pagadoras de dividendos. Petrobras (PETR3; PETR4) e Copasa (CSMG3) já tinham figurado no ranking de companhias com o maior dividend yield de 2023 e voltaram a liderar neste ano, mostrando consistência dos proventos, revela levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, para o UOL. Foram consideradas ações que integram os índices Ibovespa, IBRX100, IDIV e Small Caps e que, portanto, possuem boa liquidez de negociação.

Já nomes incomuns no universo dos dividendos, como Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3) e Vulcabras (VULC3) passam a integrar lista de maiores pagadoras em 2024.

O levantamento considera os proventos informados à B3 (bolsa brasileira) até o dia 27 de dezembro. Vale lembrar que estes dividendos podem ainda não ter caído no bolso dos investidores.

Surpreendentemente, novamente a Petrobras (PETR4) perdeu o posto de rainha dos dividendos para uma ação fora do radar. Quem liderou o ranking foi a Marfrig (MRFG3), empresa de frigoríficos, que apresentou um dividend yield (retorno em dividendos) de 29,21% em 2024, após pagar R$ 2,83 por ação aos seus investidores. Um dado curioso é que a companhia não pagou nenhum dividendo em 2023. Em 2020, também houve ausência de remunerações.

Completando o pódio, na segunda e terceira posição entre as maiores pagadoras, as ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3) da Petrobras lideram, com dividend yield de 21,22% e 20,27%, respectivamente. A petroleira desembolsou R$ 7,90 por ação aos investidores neste ano, levemente acima do que em 2023, quando entregou R$ 7,25 por papel.

Confira abaixo as 20 maiores pagadoras de dividendos da bolsa em 2024, pelo critério de dividend yield.

É importante, contudo, que o investidor não considere apenas a fotografia do momento e sim o histórico de remuneração destas empresas nos últimos anos para entender se os dividendos são sustentáveis no longo prazo. Para isso, o estudo apresenta também a mediana de dividend yield de cinco anos destas ações.

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O que está por trás dos dividendos e o que esperar?

Algumas companhias fizeram o dever de casa para conseguir se destacar entre as maiores pagadoras de dividendos, é o caso da Vulcabras (VULC3) que até implementou um cronograma de pagamentos mensais este ano, atraindo o olhar de novos investidores. Outras, como Marfrig e JBS, foram favorecidas por aspectos macroeconômicos e questões internas dos negócios. Entenda o que impulsionou os dividendos destas empresas e o que esperar em 2025.

Marfrig (MRFG4)

A Marfrig não pagou nenhum dividendo em 2023, porque tinha uma dívida alta e se encontrava em um ciclo não muito favorável para o gado nos Estados Unidos - região da qual a companhia é bastante dependente- explica Renato Reis, analista da Blue3 Research.

Em 2024, esse ciclo começou a melhorar. Além disso, o lucro da Marfrig foi impulsionado pela recuperação da BRF (BRFS3), da qual detém 50,49% das ações ordinárias. "A BRF pagou dividendos e a Marfrig repassou esse proventos aos seus acionistas", explica Reis. Somado a isso, a Marfrig teve crescimento do lucro e receitas, o que impulsionou a remuneração dos acionistas.

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Contribuiu também a venda de 13 unidades industriais e um centro de distribuição da Marfrig Latam para a Minerva (BEEF3), concluída em outubro de 2024, que engordou o caixa da empresa em R$ 5,68 bilhões, que também acabou virando dividendo, aponta Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital.

Para 2025, as expectativas são diversas. Reis, da Blue3 Research, não considera que a Marfrig seja interessante para uma carteira de dividendos, por conta da volatilidade dos seus lucros e distribuições. Vale lembrar que em 2020 a empresa não pagou dividendos, em 2021 teve um dividend yield elevado (19,67%), em 2022 proventos moderados (10,18%) e em 2023 novamente não remunerou os acionistas, para retomar pagamentos apenas em 2024 (29,21%).

Na visão de Reis, a Marfrig ainda deve entregar lucros interessantes em 2025, mas provavelmente focará em reduzir o seu endividamento. Se isso ocorrer, o dividendo esperado para o próximo ano seria de R$ 0,80 por ação, equivalente a um dividend yield (retorno em dividendos) de 5%. Contudo, caso a companhia optar por distribuir tudo o que receber da BRF, o dividendo seria elevado, podendo posicionar a empresa entre as cinco maiores pagadoras de 2025.

Para Queiroz, a segunda alternativa faz mais sentido e acredita que após o fim da reorganização de Marfrig e BRF, a Marfrig finalmente esteja preparada para pagar dividendos de forma recorrente, diante de uma geração de caixa que só cresce. Segundo o sócio da L4 Capital, um dividend yield de 10% para 2025 seria uma distribuição razoável. Mas no melhor dos cenários, os dividendos podem saltar até 17%, se a companhia for favorecida pelo dólar em alta.

Petrobras (PETR3; PETR4)

Os últimos quatro anos foram muito bons para a Petrobras, com a companhia entregando retorno em dividendos acima de 15%. E 2024, não foi exceção. A petroleira teve um dividend yield de 21,22% e 20,27% para as ações preferenciais e ordinárias, respectivamente. Luan Alves, head de ações da Leveraged Capital, destaca que a remuneração elevada se manteve porque a Petrobras segue com boa eficiência de custos e forte geração de caixa. "A companhia não teve novas mudanças na sua administração e apesar da queda do barril de petróleo ainda gera bastante caixa", comenta.

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Alves elogia também a manutenção da política de dividendos pela atual gestão da companhia, que estabelece a distribuição de 45% do fluxo de caixa livre da empresa a cada trimestre. Ou seja, o caixa operacional menos investimentos e aquisições feitas pela petroleira em bens imobilizados, intangíveis e participações societárias.

Para 2025, Alves acredita que a Petrobras tem tudo para liderar o ranking de maiores pagadoras, com dividendos projetados de 14% para PETR4 e 16,87% para PETR3. A preferência é pelas ações preferenciais, por ter prioridade no pagamento de proventos.

Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, também acredita na continuidade dos bons dividendos da Petrobras. Ele destaca que a companhia tinha um endividamento elevado no passado, que conseguiu resolver, e em caso de estabilidade dos preços do petróleo poderia entregar dividendos de no mínimo 12% em 2025 e nos próximos anos.

A remuneração pode ser ainda maior, se a Petrobras distribuir dividendos extraordinários. No seu planejamento estratégico 2025-2029, a companhia se propus a pagar até US$ 10 bilhões em proventos extras. "A Petrobras tem uma chance muito grande de continuar entre as cinco maiores pagadoras de dividendos da bolsa nos próximos anos", afirma Saravalle. O analista da MSX prefere os papéis PETR4, por estarem mais baratos.

Bruno Oliveira, analista CNPI do Vida de Acionista, é mais cauteloso e adverte para os investidores não se deixar levar pelo "canto da sereia". Ele aponta que embora os últimos quatro anos foram muito favoráveis para a companhia, no horizonte de 2018 a 2020, os dividendos não foram tão bons assim.

Olhando daqui para frente, o analista enxerga que se o petróleo permanecer no patamar atual e o dólar continuar em alta, como tem sido ao longo de 2024, a rentabilidade da Petrobras aos seus investidores deve ser elevada. "No entanto, é importante relembrar e sempre ressaltar que a torneira pode fechar a qualquer momento, dado que esse patamar de proventos pagos aos seus acionistas é insustentável no longo prazo", observa Oliveira.

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Para 2025, contudo, Oliveira espera dividendos de no mínimo 12%.

Vulcabras (VULC3)

Nos últimos 12 anos, a Vulcabras passou por uma trajetória de intensa transformação. Reis, da Blue3 Research, lembra que a companhia estava muito endividada e praticamente "falida", o que a levou a um árduo processo de reestruturação entre 2012 e 2014. Em 2017, a empresa foi à mercado para captar mais recursos e reduzir sua dívida, e passou a focar no mercado esportivo.

A dona das marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour quase não possui dívidas atualmente e se transformou em uma empresa eficiente, madura e que paga dividendos mensais. A empresa iniciou esta remuneração recorrente em 2024 e vai manter os proventos todo mês em 2025, segundo informações da companhia.

Em 2024, a Vulcabras apresentou um dividend yield de 15,64%, distribuindo R$ 3,15 por ação.

"O dividend yield em 2024 foi elevado porque a companhia distribuiu o excesso de caixa para recompensar quem carregou a ação todos estes anos", aponta Reis.

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Para Cristiane Fensterseifer, analista do Investe10, contribuiu também o baixo endividamento, motivo pelo qual a Vulcabras não sofre com juros elevados. "A empresa teve um ano muito bom, com crescimento das vendas, maior interesse dos consumidores pela área esportiva e demanda por marcas consolidadas como Olympikus e Mizuno", acrescenta.

A perspectiva é positiva para os dividendos da Vulcabras nos próximos anos. Embora, os analistas concordem que o patamar de 15% não será mantido. Dividendos mais realistas devem ser entre R$ 1,10 e R$ 1,20 por ação, com dividend yield de até 8%, segundo Reis.

Para Fensterseifer, o dividend yield esperado para 2025 é de 9%. "A Vulcabras se beneficia do dólar alto, porque concorrentes internacionais vão aumentar o preço dos tênis vendidos, enquanto a companhia consegue ter preços menores, por conta dos seus custos serem atrelados ao Brasil", explica.

Juros e inflação elevados podem pressionar as vendas da companhia em 2025, mas a expectativa dos analistas é de dividendos estáveis e recorrentes.

Cemig (CMIG3; CMIG4)

A elétrica Cemig distribui R$ 1,33 por ação ordinária e preferencial em 2024, o que deu resultado a um dividend yield de 15,05% e 11,42% para os papéis CMIG4 e CMIG3, respectivamente. As ações ficaram no quinto e décimo lugar do ranking.

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Hugo Cabral, analista da Nord Research, destaca que por atuar no setor elétrico, a Cemig tem boa previsibilidade de receita. Favorece também o baixo endividamento da companhia e a venda de alguns ativos, gerando um recurso extra não recorrente, que se transformou em dividendos.

Para 2025, contudo, se não houver um rendimento extra para o caixa da companhia, Cabral enxerga redução nos dividendos, ficando no patamar de 7% de dividend yield ou R$ 0,80 por ação. Desta forma, a Cemig não figuraria entre as maiores pagadoras de proventos de 2025, na visão do analista.

Oliveira, do Vida de Acionista, destaca ainda que a Cemig atua principalmente no segmento de distribuição e pode ser afetada, no futuro, pela evolução mercado livre de energia, onde o consumidor final, seja pessoa física ou empresa, tem a liberdade e facilidade de escolher de quem vai comprar energia. Com a competição por preços melhores, pode ocorrer uma redução do lucro da Cemig nos próximos anos.

No entanto, Oliveira aponta também que a Cemig atua em vários subsetores do setor elétrico, como geração, transmissão e até energia solar, o que traz uma diversificação de receita e mais perenidade para o investidor de longo prazo.

Oliveira também enxerga dividendos menores para a Cemig em 2025, no patamar entre 10% e 11%, mas recomenda a compra do papel.

Copasa (CSMG3)

A Copasa entregou um dividend yield de 13,53% em 2024, equivalente a R$ 2,77 por ação. Segundo Cabral, da Nord, a distribuição elevada ocorreu porque a companhia aprovou distribuir o excesso de recursos que estava acumulado na sua reserva de lucros. Além disso, ele cita que a Copasa integra um setor com receitas previsíveis, como o de saneamento, e tem como política distribuir 50% do lucro líquido e dividendos extraordinários caso seu endividamento esteja abaixo de 2 vezes o seu ebitda ( lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

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Para 2025, Cabral acredita que os dividendos extraordinários serão menores, reduzindo o dividend yield da empresa para 7%, equivalente a R$ 1,40 por ação. Apesar disso, ainda a enxerga como boa alternativa para uma carteira de dividendos.

Alves, da Leveraged Capital, enxerga dividendos de 10% em 2025 e também indica o papel. "A empresa figura entre as maiores pagadoras há alguns anos e não tem motivos para isso mudar em 2025", pontua.

E por valores brutos, quem liderou?

Quando o cenário considera o montante total distribuído em bilhões, a lista de empresas consideradas boas pagadoras tem nomes em comum, Petrobras e Cemig, mas abre espaço para outros nomes mais tradicionais no universo de dividendos, tais como Banco do Brasil (BBAS3) e BB Seguridade (BBSE3), revela levantamento do Meu Dividendo, única plataforma a fazer antecipação de dividendos no Brasil.

Foram considerados os valores distribuídos pelas empresas até 27 de dezembro. Petrobras lidera com R$ 103,24 bilhões em proventos.

Veja abaixo as empresas que se destacaram na distribuição de dividendos em bilhões no ano de 2024:

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Para Wendell Finotti, fundador e CEO do Meu Dividendo, Petrobras ainda deve liderar as distribuições bilionárias em 2025 por "se tratar da maior empresa da bolsa brasileira e pela necessidade do governo, seu principal acionista, de arrecadar recursos para contribuir com o orçamento fiscal". Ele também destaca que não houve nenhuma sinalização de mudança na política de dividendos da companhia.

Já nos bancos Itaú e Banco do Brasil, ele destaca a importância de enxergar o comportamento da inadimplência diante dos juros elevados, que pode pressionar os resultados das instituições e os dividendos.

Para a Itaúsa - holding que investe no Itaú Unibanco (ITUB4), Alpargatas (ALPA4), Dexco (DXCO3), CCR (CCRO3), Aegea Saneamento, Copa Energia e Nova Transportadora do Sudeste (NTS) - Finotti aconselha observar o resultado das subsidiárias, além de monitorar o endividamento da holding, que pode se prejudicar com os juros altos.

Na Vale, distribuições bilionárias devem ser impulsionadas pelos preços do minério de ferro no próximo ano, mas preocupa a baixa demanda por parte da China, diz ele.

"No ano de 2025 teremos um grande volume de pagamento de proventos, mas dificilmente alcançaremos o recorde visto em 2022, principalmente pelo cenário desafiador para as empresas", afirma Finotti.

Reportagem

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